Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Mauro Giuntini Viana (UNB)

Minicurrículo

    Professor de cinema da Universidade de Brasília, realizador e pesquisador de audiovisual há mais de 25 anos. Escreveu a tese “A Narrativa Cinematográfica de Alejandro G. Iñárritu” (UnB, 2015). É mestre (Master of Fine Arts) pela School of the Art Institute of Chicago (1994). Especialista em direção cinematográfica com particular interesse em criatividade e narrativas contemporâneas. Dirigiu dois filmes de longa metragem ficcionais e diversos curtas premiados e exibidos no Brasil e no exterior.

Ficha do Trabalho

Título

    Como o cinema pode aproveitar criativamente a improvisação teatral

Formato

    Presencial

Resumo

    Propõe-se reflexão sobre a aplicação de técnicas e jogos de improvisação, oriundas do teatro, na realização audiovisual. Serão examinados usos de improvisação na seleção e preparação de elenco, os quais objetivam estimular a espontaneidade na exploração de possibilidades intuitivas na construção de personagens e desenvolvimento de cenas. Pretende-se também analisar como técnicas de improvisação podem contribuir para mitigar os desgastes da repetição da encenação durante as filmagens.

Resumo expandido

    Na recente produção cinematográfica ficcional brasileira é perceptível a busca por encenações cada vez mais envolventes, o que demanda um constante aperfeiçoamento dos métodos de direção de atores. Nota-se uma tendencia de substituição do entendimento da atuação como restrita à memorização de diálogos na interpretação de personagens esboçados nos roteiros, por uma abordagem mais dinâmica, que valoriza descobertas nas trocas em fluxo durante os processos de criação dos filmes. Esta mudança inclui os atores como cocriadores das obras fílmicas, abrindo caminho para aproximações de práticas urdidas nas artes cênicas. Entre estes procedimentos adquiridos do teatro, destaca-se a improvisação, por ser fundamentada na interatividade e na espontaneidade.
    O ato de improvisar remonta aos ritos religiosos da Antiguidade e, em alguma medida, todas as formas de arte se valeram de métodos improvisacionais em suas evoluções. No teatro, o principal movimento notabilizado pela improvisação foi a Commedia dell’ arte, um gênero popular, caracterizado por admirável vitalidade e liberdade. Graças ao sucesso desta manifestação artística, a improvisação ganhou relevância no teatro moderno e foi utilizada pelos mais importantes encenadores da segunda metade do século XIX e do XX, tais como: Stanislavski, Eugênio Barba, Grotovski e Peter Brook. No cinema moderno, alguns realizadores de vanguarda lançaram mão da improvisação como instrumento propulsor de suas mise en scenes. No cinema contemporâneo, constata-se uma miríade de apropriações de técnicas de improvisação no desenvolvimento de estéticas de direção afeitas às necessidades expressivas da atualidade.
    Há quase três décadas dirigindo atores, bem como ensinando aprendizes do ofício, tenho experimentado regularmente técnicas de improvisação, originárias no teatro, como ferramentas dinamizadoras da atuação. Pelo seu teor estimulante da intuição e da espontaneidade, a improvisação oferece manancial fértil para construção de personagens e desenvolvimento de cenas. Além disso, as técnicas de improvisação proporcionam alternativas para atenuar os nocivos desgastes da encenação fragmentada em planos e captada com muitas repetições, por vezes fora da ordem cronológica, que é a maneira dominante de se filmar no cinema ficcional. A reflexão proposta, baseada na prática, pretende evidenciar como jogos de improvisação podem potencializar o intercâmbio entre direção e elenco desde a etapa de seleção de atores, passando pelos ensaios, chegando até as filmagens.
    Durante a seleção de elenco, jogos de improvisação mostram-se potentes na criação de testes que favorecem a direção na análise de adequação dos atores candidatos aos papéis dos filmes. Como os testes de elenco são normalmente feitos com equipe reduzida e poucos recursos cênicos (ausência de cenário e objetos de cena, outros atores, iluminação elaborada, etc.), a improvisação se apresenta como técnica promissora na ampliação de possibilidades de a direção interatuar com os candidatos aos papéis.
    Um dos jogos que desenvolvi para potencializar a fase de escolha de atores em projetos audiovisuais, consiste na direção dar voz à consciência da personagem, visando incrementar o diálogo direção/elenco nos testes. A atividade principia com a transmissão de informações básicas sobre a personagem e a trama. Em seguida, propõe-se um conflito presente no enredo para que se experiencie variações de abordagens. A partir daí, a direção assume a voz da consciência da personagem, estimulando o intérprete a expressar-se oralmente na exploração de alternativas dramáticas para o conflito indicado.
    Este jogo de “diálogo com a consciência” mostra-se eficaz não apenas na intensificação da análise das afinidades entre atores e personagens, como também permite aos diretores investigarem a dramaturgia do filme como um todo, impulsionados pela aleatoriedade das conexões que a atividade deflagra. Este e outros jogos de improvisação serão analisados no estudo proposto.

Bibliografia

    CHACRA, Sandra. Natureza e sentido da improvisação teatral. São Paulo: Perspectiva, 2007.
    BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
    CONDE, Rafael. O ator e a câmera – investigações sobre o encontro no jogo do filme. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2019.
    MORRIS, Erick e HOTCHKIS, Joan. No acting please. Los Angeles: Ermor Enterprices Publications, 2002.
    STANISLAVSKI, Constantin. A criação de um papel. Rio de Janeiro: Civilização, 1998.
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    NACHMANOVITCH, Stephen. Ser criativo – o poder da improvisação na vida e na arte. 5a Ed. São Paulo: Summus, 1993.
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    WESTON, Judith. The film director’s intuition – script analysis and rehearsal techniques. California: Michael Wiese Productions, 20