Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Paulo Souza dos Santos Junior (UFPE/UNICAP)

Minicurrículo

    Professor de fotografia e cinematografia nos cursos de graduação e pós-graduação na Universidade Católica de Pernambuco. Doutorando em Comunicação no PPGCOM-UFPE. Professor da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP. Mestre em Comunicação pelo PPGCOM-UFPE (2018). Especialista em Fotografia e Audiovisual pela UNICAP (2017). Graduado em Fotografia também pela UNICAP (2015). Pesquisador, fotógrafo documental e realizador audiovisual de Recife.

Ficha do Trabalho

Título

    Host e as diegeses virtuais

Seminário

    Estética e plasticidade da direção de fotografia

Formato

    Presencial

Resumo

    Dentre os mais intrigantes fenômenos da cinematografia contemporânea está o acelerado crescimento de uma particular forma de fazer filmes, em que o espaço fílmico deixa de ser o universo material e se desloca para o ciberespaço, redes sociais, aplicativos de comunicação, telas de dispositivos móveis e outros aparatos comunicacionais. O presente artigo se propõe a investigar a construção imagética do longa britânico “Host”, produzido e distribuído integralmente a partir da internet.

Resumo expandido

    Dentre os mais intrigantes fenômenos da cinematografia contemporânea está o acelerado crescimento de uma particular forma de fazer filmes, em que o espaço fílmico deixa de ser o universo material e se desloca para o ciberespaço, redes sociais, aplicativos de comunicação, telas de dispositivos móveis e outros aparatos comunicacionais. São diegeses, total ou parcialmente, virtualizadas, apoiadas em uma lógica espaço-temporal muito particular, motivo pelo qual julgamos ser pertinente lançar luz sobre o fenômeno.

    Em uma fala premonitória, Janet Murray (2003, p. 238) já comentava que uma série de formatos narrativos surgiriam a partir da consolidação do digital, afirmando que “a atraente realidade espacial do computador também dará origem a ambientes virtuais e que serão extensões do mundo ficcional”. A tela passaria, nessas circunstâncias, a ser o ambiente de um novo mundo, virtualizado, com novas lógicas e regras de existência. Como aponta Lévy (2011, p. 11) “um movimento geral de virtualização afeta hoje não apenas a informação e a comunicação, mas também os corpos, o funcionamento econômico, os quadros coletivos da sensibilidade ou o exercício da inteligência”. Esses filmes, portanto, parecem dialogar com mais esse curso da sociedade hipermoderna que fluidifica as, antes consolidadas, concepções sobre o tempo e o espaço nas narrativas audiovisuais.

    “Característica comum aos filmes de tela de computador é serem literalmente ambientados na tela de um computador ou – por extensão – nas telas dos diferentes dispositivos digitais usados pelos personagens (laptops, smartphones, tablets etc.), que se constituem como os únicos ambientes dentro dos quais suas ações se desdobram e se revelam aos olhos do espectador” (UGENTI, 2020, p. 144, tradução nossa ).

    Nessas obras, “são os personagens, e não os espectadores, que manuseiam a interface gráfica do usuário […] como um espaço de interação, de modo que as obras podem ser veiculadas nas condições padrão de exibição do dispositivo cinematográfico” (DAMASCENO; TORRES; RIBEIRO, 2021, p. 89). Assistimos, não mais as ações concretas de personagens, mas as suas operações em dispositivos computacionais. Os gestos, a encenação, os diálogos, parecem estar todos mediados por uma interface que os antecede, a tela.

    Jing Yang (2020, p. 126), em uma tentativa de definir o termo, aponta que: “desktop film ou computer screen film são subgêneros do cinema, nos quais todas as ações e eventos se passam na tela de um computador, sob a perspectiva em primeira pessoa do protagonista”. O surgimento e consolidação de tal estilo fílmico nos parece ser um evidente sintoma de nosso tempo, uma sociedade em que impera a interação computacional, baseada na tela como interface entre o humano e a máquina.

    No presente estudo propomos investigar a construção imagética do longa-metragem britânico de horror “Cuidado Com Quem Chama” (Host, Rob Savage, 2020), um declarado produto das restrições de convívio social provocadas pela escalada na disseminação do coronavírus que, em 19 de março de 2020, foi alçada ao patamar de pandemia pela Organização Mundial de Saúde, motivando determinações de regimes de isolamento ao redor do mundo. O filme se desenrola inteiramente durante uma chama de vídeo coletiva no aplicativo Zoom e alcançou destacado prestígio dentro da safra dos filmes baseados em telas de computadores, sendo bem aceito por relevante parcela do público e da crítica especializada. Estudar a fotografia de Host é partir da difícil tarefa de encarar um filme sem uma estrutura formal de um departamento de cinematografia, em que as imagens foram capturadas pelos próprios atores e onde elementos não fotográficos também cumprem papel relevante na construção visual da narrativa.

Bibliografia

    DAMASCENO, Alex; TORRES, Heloísa; RIBEIRO, Rudyeri. Fronteiras semióticas do screenlife: um jogo de signos entre cinema e novas mídias. Temática, João Pessoa, v. 17, n. 1, p. 88-102, 21 jan. 2021. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/tematica/issue/view/2609. Acesso em: 01 nov. 2021.

    LÉVY, Pierre. O que é o virtual? 2 ed. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 2011.

    MURRAY, Janet. Hamlet no holodeck. São Paulo: Unesp, 2003.

    UGENTI, Elio. Spazio filmico e spazio mediale nel computer screen film. La regia come mediazione di secondo grado. Re-directing. La regia nello spettacolo del XXI secolo, p. 143-152, 2020.

    YANG, Jing. Media Evolution,“Double-edged Sword” Technology and Active Spectatorship: investigating “Desktop Film” from media ecology perspective. Lumina, v. 14, n. 1, p. 125-138, 2020.