Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Wanderley de Mattos Teixeira Neto (UFBA)

Minicurrículo

    Doutor e mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (Póscom) na linha de pesquisa Culturas da Imagem do Som, com trabalhos voltados para a recepção cinematográfica e especial interesse nos estudos da crítica de cinema e sua intersecção com a cultura digital. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela FSBA e em Direito pela FRB. Integrante do grupo de pesquisa LAF (Laboratório de Análise Fílmica – UFBA).

Ficha do Trabalho

Título

    [in] Transition, a prática do vídeo-ensaio como crítica acadêmica

Formato

    Remoto

Resumo

    O intuito da comunicação é analisar a produção de vídeo-ensaio da revista [in]Transition à luz do objetivo editorial da publicação: a proposição da crítica de cinema em formato audiovisual como um “novo modo de escrita acadêmica”. Ao longo das análises, notamos uma produção ainda validada pela palavra (escrita e falada), mas que encontra expedientes de linguagem que tornam a comunicação acadêmica mais performática, além do exercício da criatividade através da variedade de proposições críticas.

Resumo expandido

    A inacessibilidade às cópias dos filmes dificultou por muitos anos o processo de análise fílmica nas universidades (AUMONT; MARIE, 2004). O surgimento do home video e a cultura digital facilitaram o cotidiano acadêmico. Aos fenômenos, juntaram-se o crescente uso de aparelhos portáteis, softwares de edição e o surgimento de sites como YouTube e Vimeo. A tecnologia possibilitou às novas gerações de pesquisadores do cinema não só “tocar” o seu objeto de estudo, como também expressar suas ideias através do audiovisual (GRANT, 2014).
    No cenário que descrevemos, encontramos a atuação do vídeo-ensaio como crítica acadêmica. Conceituamos o formato como uma crítica audiovisual de curta duração sobre o cinema veiculada em plataformas online, sendo gramaticalmente calcada na edição de diferentes cenas de filmes acompanhadas (modo explicativo) ou não (modo poético) pela narração de um texto analítico ou especulativo (KEATHLEY, 2011). Os ensaístas costumam destacar o protagonismo da edição nessas peças audiovisuais (GRANT, 2014), abordando-as como a expressão de um pensamento pela justaposição de imagens (EISENSTEIN, 2002). Ao mesmo tempo, pela junção de expedientes criativos, o vídeo-ensaio é encarado como um trabalho performático (STORK, 2012).
    Na produção acadêmica, destacamos a atuação dos pesquisadores Christian Keathley, Jason Mittell e Catherine Grant. A parceria entre eles reverbera na edição da revista [in] Transition, voltada exclusivamente para a publicação de vídeo-ensaios nos moldes das regras comumente aplicadas a artigos, com a aceitação dos trabalhos mediante adequação a normas editoriais e uma revisão pelos pares. Na página, os editores explicitam o objetivo da revista: contribuir para a criação de um contexto de entendimento e validação do vídeo-ensaio como um “novo modo de escrita acadêmica” (ABOUT…).
    A preocupação da proposta de comunicação apresentada é analisar os vídeo-ensaios da [in] Transition à luz dos objetivos editoriais da revista, entendendo sobretudo a relação que estabelecem com a tradição verbal. Para a análise, consideramos as duas últimas edições da revista, compreendendo um total de 12 vídeos, cujo tempo de duração varia entre 5 e 35 minutos, considerando as peças audiovisuais em seu diálogo com os links e complementos textuais.
    Os vídeo-ensaios publicados pela revista seguem a preferência por propostas que contam com o suporte da narração. Neles, percebemos um uso constante das imagens dos filmes como exemplo das ideias narradas pelo ensaísta ou dos autores citados em intertítulos ou na própria locução. Notamos ainda diferentes tons de narração, além de expedientes como o uso da pausa na leitura do texto, efeitos sonoros e intervenções gráficas ou no tempo das imagens que acentuam o caráter performático dessas críticas.
    A linguagem verbal se revela componente necessário para a validação acadêmica na medida em que, pelas normas de publicação, é obrigatória a presença de um texto do criador e duas resenhas assinadas por pares escolhidos pela equipe editorial. Na declaração do criador há uma antecipação de temáticas, aprofundamento do aporte teórico-metodológico e/ou compartilhamento do processo criativo, ideias postas em diálogo com as resenhas. Ambas servem como guias da fruição dos vídeos.
    Há que se frisar que percebemos nas críticas uma variedade de propostas e temas, como The end… or is it?, de Mathias Bonde Korsgaard (Dinamarca), cujo objetivo é analisar créditos finais de filmes que apresentam funções textuais ou estéticas nas obras; ou Mediated Ausculation, de Emilija Talijan (Inglaterra), que compara a escuta cinematográfica com o uso do estetoscópio pela medicina. Há ainda uma abertura para diferentes gêneros, como, por exemplo, a paródia ou o pastiche de What is neo-Snyderism?, de Ariel Avissar (Israel), que faz um comentário irônico sobre os cortes de Liga da Justiça pelos diretores Joss Whedon (2017) e Zack Snyder (2021).

Bibliografia

    ABOUT [in] Transition. Disponível em: http://mediacommons.org/intransition/about . Acesso em 10 mai. 2022;
    AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. A análise do filme. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2004;
    EISENSTEIN, Sergei. O sentido do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002;
    GRANT, Catherine. The shudder of a cinephiliac idea? Videographic film studies practice as material thinking. Aniki, vol. 1, nº1, 2014. Disponível em: http://sro.sussex.ac.uk/id/eprint/47473/1/59-204-1-PB.pdf . Acesso em: 12 abr. 2022;
    KEATHLEY, Christian. La Cámera-Stylo: Notes on vídeo criticismo and cinefilia. In: CLAYTON, Alex; KLEVAN, Andrew. The language and style of film criticism. Nova York e Londres: Routhledge, 2011;
    STORK, Matthias. In touch with the film object: Cinephilia, the vídeo essay, and chãos cinema. Frames Cinema Journal, 02 jul. 2012. Disponível em: https://framescinemajournal.com/article/in-touch-with-the-film-object/ Acesso em: 12 abr. 2022.