Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Morgana Gama de Lima (UFBA/UFRB)

Minicurrículo

    Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas (UFBA) com estágio doutoral na Universidade da Beira Interior (Portugal). Possui Mestrado em Cultura e Sociedade (UFBA, 2014) com graduação nos cursos de Relações Públicas (UNEB, 2008) e Produção Cultural (UFBA, 2009). Atualmente é membro do grupo de pesquisa Laboratório de Análise Fílmica (LAF/UFBA), com pesquisa pós-doutoral sobre tradições orais em cinemas de África e suas diásporas.

Ficha do Trabalho

Título

    “La Nouba des femmes du Mont Chenoua”: memória entre contos e cantos

Mesa

    Cinemas africanos no feminino e plural

Formato

    Remoto

Resumo

    “La Nouba des femmes du Mont Chenoua” (1977) é o primeiro longa-metragem da escritora e cineasta argelina Assia Djebar. É através da análise dessa produção pioneira que o objetivo da nossa comunicação é examinar a presença das tradições orais em narrativas cinematográficas de diferentes regiões do continente africano, abordando a oralidade como um fenômeno a ser aprofundado nos estudos teóricos de cinema, não somente enquanto estratégia poética da narrativa fílmica, mas, sobretudo, retórica.

Resumo expandido

    “La Nouba des femmes du Mont Chenoua” (1977) é o primeiro longa-metragem da escritora e cineasta argelina Assia Djebar. Uma das pioneiras do cinema argelino, neste filme Assia Djebar traz a história de Lila (Sawsan Noweir), uma mulher que retorna para sua cidade natal, 15 anos após o final da Guerra da Independência da Argélia (1954-1962) em busca de suas próprias memórias. Memórias que reportam não somente à sua trajetória individual na infância, mas à memória coletiva de todo um país. Memórias contadas e cantadas pela voz das mulheres do Monte Chenoua, lugar onde ela nasceu, mas também território onde viveu Yamina Oudai, mais conhecida como Zoulikha, mulher que ao desaparecer durante o conflito se tornou símbolo de resistência da guerra. Embora as tradições orais geralmente sejam utilizadas como fonte de informações históricas, sobretudo em sociedades que a escrita está associada ao domínio colonial, elas também se tornaram fontes de inspiração para narrativas cinematográficas, especialmente entre cineastas de diversos países do continente africano. Isso porque a apropriação de tais tradições no cinema não se restringe à mera representação de contos e lendas ou reprodução de cânticos tradicionais, mas se caracterizam pela incorporação desse legado como parte da estruturação da própria narrativa fílmica, associando as histórias contadas e cantadas com as respectivas memórias que elas evocam. Por essa razão, o presente trabalho é parte de um projeto que, partindo de um levantamento de filmes inspirados em tradições orais realizados por cineastas africanos e africanas (LIMA, 2020), busca avaliar como essa apropriação oferece novas percepções acerca dos estudos da oralidade no cinema, pensando como a presença da voz, em seus aspectos semânticos e sonoros (CHION, 1999), contribui para configurar um discurso através da narrativa cinematográfica. Afinal, tanto o “conto”, quanto o “canto”, são formas de disseminação da memória pela via das tradições orais que, uma vez inseridas na composição da narrativa fílmica, configuram não somente uma estratégia de engajamanto do espectador, mas sobretudo de ressignificação da História argelina. Desde o título “La Nouba des femmes”, o filme traz essa proposta de usar a polifonia de vozes femininas em seu aspecto plurisemântico, pois a palavra “Nouba”, proveniente da língua árabe, pode ser usada para se referir a conversa entre mulheres ou ainda em referência à sinfonia andaluza, composiçao típica dos países do Magrebe, região ao norte da África (MORTIMER, 1997). Logo, se por um lado, os contos e lendas contadas pelas mulheres mais velhas, que servem de subsídio para encenações ao longo do filme (misturando as sequências documentais dos depoimentos com cenas ficcionalizadas), por outro são as músicas (instrumentais e cantadas) da sinfonia árabe-andaluza que completam o discurso em torno da memória ao trazer a sonoridade dos sotaques da língua berbere associado aos ritmos particulares dessa sinfonia (VAN DE PEER, 2011). Seja de uma forma ou de outra, contos e cantos se encarregam de trazer elementos da memória coletiva para o interior do filme como estratégias de dar visibilidade à presença das mulheres na narrativa daqueles acontecimentos históricos e, com isso, utilizar o cinema como uma forma de oferecer uma revisão da própria história do conflito argelino. É através da análise dessa produção pioneira que o objetivo da nossa comunicação é examinar a presença das tradições orais em narrativas cinematográficas de diferentes regiões do continente africano, abordando a oralidade como fenômeno a ser aprofundado nos estudos teóricos de cinema, de um modo geral, não somente enquanto estratégia poética da narrativa fílmica, mas, sobretudo, enquanto estratégia retórica.

Bibliografia

    BEDJAOUI, Ahmed. Women in Cinematic Representations of the Liberation War. In: Cinema and the Algerian War of Independence. London: Palgrave Macmillan, 2020. p. 159-179.
    CHION, Michel. The voice in cinema. Nova York: Columbia University Press, 1999.

    LIMA, Morgana Gama de. Griots modernos: por uma compreensão do uso de alegorias como recurso retórico em filmes africanos. Tese (Doutorado), Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2020.

    MORTIMER, Mildred. Nouveau regard, nouvelle parole: le cinéma d’Assia Djebar. In. HARROW, Kenneth. With open eyes: women and African cinema. Amsterdã, Atlanta: Rodopi, 1997. p. 93-109.
    VAN DE PEER, Stefanie. Assia Djebar: Algerian Images-son in experimental documentaries. In: Negotiating Dissidence, the Pioneering Women of Arab Documentary. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2011. p. 110-139.