Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Mario Caillaux Oliveira (PPGAV UnB)

Minicurrículo

    Doutorando em Teoria e História da Arte pelo PPGAV da Universidade de Brasília (PPGAV UnB). Sua pesquisa é focada na relação entre a imagem em movimento e a arte contemporânea em suas diversas formas de atuação.

Ficha do Trabalho

Título

    1973: um ano chave para as imagens em movimento nas artes brasileira

Seminário

    Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas

Formato

    Presencial

Resumo

    Nosso objetivo é demostrar que o ano de 1973 foi um ano chave no desenvolvimento das imagens em movimento no Brasil. A partir de alguns exemplos como a Expo Projeção 73 organizada por Aracy Amaral, o vídeo M3X3 de Analívia Cordeiro, o filme Loucura & Cultura de Antonio Manuel e a criação das Cosmococas por Hélio Oiticica e Neville d’Almeida, problematizaremos como esse período foi importante para expandir não apenas os limites das artes visuais, mas também do próprio cinema experimental

Resumo expandido

    A sensação de movimento das imagens é uma temática que sempre atraiu o interesse dos artistas visuais, mesmo antes da invenção do cinema. Entretanto, é a partir da segunda metade do século XX, com as diversas transformações da arte junto com os avanços tecnológicos das ciências, que este campo dos filmes de artistas, da videoarte e dos audiovisuais vai ser explorado de maneira mais consciente e constante. A partir do final da década de 1960 e início da década de 1970, diversos artistas começam a pesquisar e a realizar trabalhos com a sensação de movimento da imagem, principalmente com a popularização de novas tecnologias (Super8, vídeo e audiovisuais). Estes trabalhos estão ligados à busca por ampliação dos limites e atualização das artes visuais que acontecia em várias partes do mundo, e em nosso país era acentuada por questões políticas e de censura governamental existentes. Com isso, os artistas buscavam novos caminhos e novas possibilidades não apenas relacionadas à linguagem, mas também a exploração de novos circuitos para além dos tradicionais – museus, galerias – no desenvolvimento e na exibição das obras. Neste sentido, 1973 foi um ano chave para o desenvolvimento das imagens em movimento nas artes visuais brasileira. Uma série de acontecimentos, que nem sempre estavam relacionados entre sí, mas que cada um ao seu modo, ajudaram a ampliar os limites tanto do cinema experimental como das artes visuais.
    Foi neste ano, por exemplo, que aconteceu a Expo Projeção 73, organizada por Aracy Amaral. A mostra foi a primeira iniciativa no Brasil que se propôs a pensar esse conjunto de obras que estavam surgindo e que solicitavam não apenas a sensação visual, mas também temporal. “Esta exposição foi a primeira iniciativa curatorial a reunir esta produção, ainda desconhecida no país, traduzindo através de imagens e sons, a multiplicidade temática e estética daquela cena cultural” (AMARAL & CRUZ, 2013, p.4). A Expo Projeção 73 não foi apenas importante por ter sido a primeira mostra no país a exibir publicamente esses trabalhos, mas também por estimular a produção e a experimentação de diversos artistas nesses meios. Também neste mesmo ano, dentro a programação da 12a Bienal de São Paulo, na proposta do setor de arte e comunicação da mostra, estava prevista a exibição de uma série de vídeos de artistas americanos sob a curadoria de Regina Cornwell. Essa seria a primeira exibição pública de uma série de trabalhos neste suporte no país. Todavia apesar da divulgação na imprensa, o evento, acabou não acontecendo por questões técnicas. (COSTA, 2013; AYALA, 1973)
    Para além destes episódios, que já seriam mais do que suficientes para marcar o ano de 1973 na história do cinema experimental e da arte brasileira, também é neste ano, que surge a primeira videoarte feita no Brasil: o trabalho M3X3, de Analívia Cordeiro. Através da sua pesquisa de computer dance, ela desenvolveu uma performance para ser registrada através de câmeras de vídeo e que foi exibida na grade da programação da TV Cultura. Dessa maneira, sua obra foi vista por milhares de telespectadores simultaneamente. Também neste mesmo ano, em uma experiencia distinta da de Cordeiro, o artista plástico Antonio Manuel realiza o filme de curta metragem Loucura & Cultura, que vence um prêmio no festiva JB, e a partir daí é exibido em de salas do circuito comercial de cinema. Esses exemplos fazem partes de uma busca por renovação de suportes e espaços, não apenas como alternativa política à censura e à repressão governamental, mas também como diálogo e resposta às transformações tecnológicas e comunicativas que a sociedade estava passando. Nesse sentido, a experiência de Hélio Oiticica, junto com Neville d’Almeida, também em 1973, com os projetos das Cosmocacas, é bastante significativa e radical, com a proposta de um cinema sensorial e imersivo, e não mais na sala escura do cinema tradicional.

Bibliografia

    AMARAL, Aracy & CRUZ, Roberto Moreira S. – Expo Projeção 1973 – 2013. São Paulo: SESC, 2013.
    AYALA, Walmir. Vídeo-Tape na Bienal. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 06 nov. 1973. Caderno B, p.2.
    BERNADET, Jean-Claude. A voz do outro. in: Anos 70 – Cinema. Rio de Janeiro: Europa Emp. Gráf. Edit. Ltda., 1980.
    CANONGIA, Ligia Quase Cinema: Cinema de Artista no Brasil, 1970/80. Rio de Janeiro:
    Funarte, 1981
    COCCHIARALE, Fernando. Filmes de artistas: Brasil 1965-80. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria / Metropolis Produções Culturais, 2007.
    COSTA, Cacilda Teixeira da. Videoarte no MAC. In: MACHADO, Arlindo (Org.). Made in Brasil: Três Décadas do Vídeo Brasileiro. São Paulo: Itaú Cultural, 2003. pp. 69-73.
    MAIA, Ana Maria. Arte-veículo: intervenção na mídia de massa brasileira. Recife: Editora Aplicação, 2015
    OITICICA FILHO, Cesar (org.). Hélio Oiticica: museu é o mundo. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2011.