Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Fábio Sadao Nakagawa (FACOM/ UFBA)

Minicurrículo

    Fábio Sadao Nakagawa é professor permanente do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA e Professor Associado da Faculdade de Comunicação da UFBA. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com estágio de pós-doutoral na Facultad de Ciencias de la Información da Universidad Complutense de Madrid. É membro do Grupo de Pesquisa Espaço – Visualidade/ Comunicação – Cultura (ESPACC) e do Grupo de Pesquisa em Semiótica e Culturas da Comunicação da Bahia (GPESC-BA).

Ficha do Trabalho

Título

    A imagem lacrimejante de Almodóvar traduzida em imagem conceitual

Seminário

    Teoria de Cineastas

Formato

    Presencial

Resumo

    A apresentação objetiva discutir como se constitui a imagem conceitual pelo texto fílmico com base na imagem lacrimejante do cinema de Almodóvar. A partir da ideia de imagem conceitual de Vilém Flusser e na noção de diagrama de Peirce, busca-se verificar a possibilidade da imagem lagrimejante, que surge em Kika e no cartaz de lançamento de Madres paralelas, ser traduzida como uma imagem da explicitação e explicação dos modos de compor e das interfaces com outros arranjos imersos na cultura.

Resumo expandido

    Vilém Flusser, em seu texto Linha e Superfície, atenta para a possibilidade de o pensamento imagético ser “a tradução do conceito em imagem e o pensamento conceitual a tradução da imagem em conceito” (FLUSSER, 2007, p. 117). Inspirada nessa antevisão, esta comunicação pretende discutir como se constitui a imagem conceitual pelo texto fílmico com base na articulação da imagem lacrimejante do cinema de Almodóvar. Trata-se de um processo de troca de informações entre a imagem bidimensional e o verbal para produzir tanto a imagem conceitual quanto o conceito imagético. De acordo com Flusser (2007, p.117), as imagens conceituais são constituídas pela imagem da explicação, que vem após a representação imagética e o seu esclarecimento. A hipótese de Flusser é que, por meio desse processo, surge “o modelo de uma coisa” (2007, p. 117). Para nós, tal hipótese se mantém, porém, com algumas modificações. A principal é que, a partir da metalinguagem e da explicitação do modo de composição das imagens, é possível sintetizar as imagens conceituais por meio de um tipo de hipoícone, o diagrama (PEIRCE, 1990, p.64). Se o diagrama irá ou não ser transformado pela ciência num modelo analítico, portanto, convertido em um símbolo, tal façanha não será mais do domínio da imagem conceitual, mas do conceito imagético. Para seguir com essa discussão, trago para a apresentação a manifestação da imagem do olho lacrimejante no longa-metragem “Kika”, dirigido por Pedro Almodóvar e lançado em 1993, e que também está presente no cartaz do filme “Madres paralelas”, lançado em 2022. No filme “Kika”, a imagem surge por volta de 01:02:00, num primeiríssimo plano (ppp), de cima para baixo, do rosto da personagem Caracortada (Victória Abril), que está do lado de fora de um prédio, tentando gravar um suposto estupro que ocorre no apartamento de Kika (Verónica Forqué). No plano em questão, apenas uma gota de esperma é lançada do alto do prédio. Ela cai na face de Caracortada e escorre pelo lado de seu olho esquerdo. Por sua vez, no cartaz de lançamento de “Madres Paralelas”, o olho lacrimejante surge por meio de uma imagem em preto e branco de um bico de seio com uma gota de leite, que está recortada e centralizada no formato gráfico de um olho. No reino da ficção imagética, a imagem se impõe, sobretudo, pelas suas características e propriedades para, então, posteriormente, ser subjugada por outra lógica de codificação. A tradução da imagem em imagem conceitual inicia-se pela metalinguagem de seu modo de composição, no qual se articula a percepção seletiva das partes compositivas da imagem, muitas vezes por algum aspecto predominante na constituição de tais elementos, que, então, são reunidos para compor uma espécie de esqueleto de sua forma, em que a imagem se converte em uma imagem estrutural. Passamos da simples visualidade da imagem para a sua visibilidade (FERRARA, 2002, p. 120), na qual suas qualidades compositivas deixam de ser apenas percebidas para serem transformadas em fontes de informação para gerar possíveis sínteses. Assim, posteriormente, é possível compreender o funcionamento dessas imagens estruturais, comparando-as com outras formas presentes nas tradições culturais. Ou seja, os diagramas revelados pelas relações entre as partes de uma dada imagem entram em diálogo e confronto com outras formas que geram, com isso, novos diagramas mais amplos e contextuais, que atuam como imagens visuais da explicitação e explicação desse processo. Alcançamos, portanto, a imagem conceitual que explica e explicita diferentes tipos de relações na própria imagem e entre imagens. O olho lacrimejante, o olho com uma gota de esperma, o bico do seio que derrama uma gota de leite: três signos que se entrecruzam por meio dos diagramas que colaboram, na investigação científica, para promover a passagem da mera possiblidade para a probabilidade de determinados sentidos promovidos pela rede entre as imagens.

Bibliografia

    FERRARA, Lucrécia D’Alessio. Design em espaços. São Paulo: Rosari, 2002.
    FLUSSER, Vilém. O mundo codificado. São Paulo: Cosac & Naif, 2007.
    PEIRCE, Charles S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1990.