Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Arthur Ribeiro Frazão (UFRJ)

Minicurrículo

    Montador e realizador audiovisual, possui graduação em Comunicação Social – Rádio e TV (2007) e mestrado em Comunicação e Cultura (2018) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é doutorando do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Ficha do Trabalho

Título

    Falhas, fraturas e ruínas nas imagens do elevado da Perimetral

Mesa

    O cinema como dispositivo de produção de memória

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir da análise das operações estéticas da videoinstalação “Cinema-lascado / Perimetral” e do curta metragem “ExPerimetral”, olhamos para o passado recente da cidade do Rio de Janeiro para refletir sobre um ideal de progresso fracassado. Os trabalhos, que abordam de maneiras distintas as falhas, fraturas e escombros do elevado da Perimetral, se apresentam como imagens premonitórias de uma nova fase de decadência do Rio de Janeiro e evocam a memória de outras ruínas da história da cidade.

Resumo expandido

    Construído em etapas entre a década de 1950 e o final da década de 1970, o elevado da Perimetral era uma grande estrutura de concreto que encobria a vista do mar daqueles que estavam no centro da cidade do Rio de Janeiro. Tornou-se importante via de conexão entre as zonas sul, central e norte da cidade. Em novembro de 2013 foi implodido como parte do plano de reurbanização das Olimpíadas. A implosão do elevado produziu imagens espetaculares da enorme massa de concreto se transformando em destroços em segundos. Os escombros ficaram abandonados por meses, até o início de sua retirada em abril do ano seguinte. A implosão foi um evento emblemático da chamada revitalização da região portuária do Rio de Janeiro. Mais um de tantos outros programas de reurbanização pelo qual a cidade passou ao longo de sua história, o projeto denominado Porto Maravilha terminou inconcluso e transformou-se em símbolo de um ideal de progresso fracassado. Nesta comunicação, partimos da análise da videoinstalação “Cinema-lascado / Perimetral” (2016, Giselle Beiguelman) e do curta metragem “ExPerimetral” (2016, Daniel Santos), que abordam de maneiras distintas as falhas, fraturas e escombros da Perimetral. Os trabalhos se apresentam como imagens premonitórias de uma nova fase de decadência do Rio de Janeiro e evocam a memória de outras ruínas da história da cidade.
    “Cinema-lascado / Perimetral” é uma videoinstalação da artista e professora da FAU/USP, Giselle Beiguelman, apresentada em versão preliminar na X Bienal de Arquitetura (2013), realizada em São Paulo. A versão finalizada da obra, em formato duo canal, compôs a exposição retrospectiva da artista, organizada em 2016 na Caixa Cultural de São Paulo. Nas duas telas da videoinstalação, a artista justapõe imagens institucionais da implosão da Perimetral ao lado de imagens filmadas de dentro de um carro em movimento pelo elevado. A obra monta dois tempos lado a lado. O tempo da implosão documentada nas imagens oficiais, com planos gerais e closes de políticos acionando o botão para a demolição, e o tempo do movimento na Perimetral, com a cidade cortada por suas linhas de concreto. A artista desconfigura o movimento dos frames, exibidos aos solavancos, e comprime os vídeos gravados em alta definição. Trata-se de um trabalho que pertence ao campo da Glitch Art, em que os artistas produzem ou apropriam-se de falhas e defeitos técnicos das imagens.
    No curta “ExPerimetral” (2016), Daniel Santos monta fragmentos de dois discursos em inglês do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, com imagens dos escombros da Perimetral. A fotografia do filme estetiza as ruínas do elevado, com imagens que descrevem em detalhes, os ferros retorcidos e as pilhas de concreto. Na banda sonora, além do discurso do prefeito, a música e a ambientação remetem aos filmes de ficção científica. Com efeito disjuntivo entre imagem e som, a montagem cria a atmosfera de um futuro distópico.
    Finalizadas em 2016, ano das Olimpíadas do Rio de Janeiro, as duas obras audiovisuais projetam o fracasso do plano de revitalização das zonas centrais e portuárias da cidade, que tem a implosão da Perimetral como grande espetáculo imagético. Estes filmes devem ser entendidos de acordo com seu contexto de produção e lançamento. Contudo, com o passar do tempo, à maneira de um palimpsesto (Lindeperg, 2013), novas camadas e leituras sobrescrevem-se nas imagens filmadas em 2013. Assim como na formulação sobre o anjo da história de Benjamin (1985, p.226), a estas ruínas somam-se outras ruínas de uma cidade fraturada. Desde o presente, olhamos para o passado recente do Rio de Janeiro e a partir das obras audiovisuais destacadas, propomos refletir sobre um ideal de progresso fracassado que emerge deste enorme canteiro de obras.

Bibliografia

    BENJAMIN, Walter. “Sobre o conceito da História”. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura – obras escolhidas, volume I. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1985, p. 222-32.

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante do tempo: História da arte e anacronismos da imagem. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015.

    LINDEPERG, Sylvie. “Film production as a film palimpsest”. In: SZCZEPANIK, Petr; VONDERAU, Patrick (Org). Behind the Screen Inside European Production Cultures. New York: Palgrae Mmacmillan, 2013, p. 73-87.

    VAVARELLA, Emilio. “Art, Error, and the Interstices of Power”. Journal of Science and Technology of Arts, Porto, v.7, n.2, p. 7-15, dez. 2015.