Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Wendell Marcel Alves da Costa (USP)

Minicurrículo

    Doutorando em Sociologia na USP. Mestre em Antropologia Social e Cientista Social pela UFRN. Pesquisa como a cultura cinematográfica tem tratado afetos e memórias no espaço urbano das cidades contemporâneas. Associado da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual, Associação Brasileira de Antropologia e da Sociedade Brasileira de Sociologia. É integrante do Grupo de Pesquisa Linguagens da Cena: imagem, cultura e representação.

Ficha do Trabalho

Título

    Afetos desestabilizados e ruínas da intimidade em A Terra e a Sombra

Formato

    Presencial

Resumo

    Neste trabalho analiso como afetos desestabilizados são construídos na narrativa de A Terra e a Sombra (César Augusto Acevedo, 2015) a partir das ruínas da intimidade. Esta reflexão é parte de uma pesquisa socioantropológica filosófica que faz uma interpretação fílmica das imagens da poética dos espaços e das relações sociais. Para isso busco compreender signos alegóricos e códigos da intimidade na estrutura simbólica dos espaços da casa e do campo de A Terra e a Sombra.

Resumo expandido

    Como as ciências humanas podem colaborar, conjuntamente, para compreender imagens fílmicas destinadas a produzir imaginações simbólicas sobre cidades? Nossa proposta é indicar uma abordagem socioantropológica filosófica de filmes urbanos contemporâneos que tem sonhado, imaginado e vivido cidades sul-americanas. Esses filmes colaboram para criar um imaginário urbano e simbólica da noção de cidade sul-americana a partir da construção de paisagens culturais que revelam relações sociais fragmentadas, destituídas de afetos, construídas por memórias em processo de desaparição.

    Nesse contexto, A Terra e a Sombra revela uma noção sobre relações sociais destituídas de laços e afetos. Neste filme, as pessoas estão movidas por interesses predominantemente mecânicos da vida cotidiana, sustentadas pela organicidade do trabalho laboral no campo. A figura da casa enquanto espaço afetivo estrutura imagens poéticas acerca da memória da herança familiar, dos sentimentos de mágoa e rancor, e dos afetos desestabilizados (BACHELARD, 1988, 1993). A Terra e a Sombra se constitui enquanto uma obra que denota a capacidade associativa das imagens fílmicas em conjurar estruturas sentimentais através de códigos da intimidade (DURAND, 1997).

    Assim, entendemos afetos no sentido de que as imagens fílmicas elaboram narrativas acerca dos relacionamentos sociais desestabilizados em espaços pequenos, cotidianos e simbólicos (LIPOVETSKY, 2016; ROSA, 2019; MINOIS, 2019). Por sua vez, entendemos ruínas no sentido de que muitas das paisagens sociais retratadas no filme mostram realidade imaginárias aonde personagens estão envolvidas em relacionamentos em desaparição, estruturados por afetos desestabilizados (DIDI-HUBERMAN, 2011; RANCIERE, 2005; BRUNO, 2002). Logo, afetos desestabilizados transformam quaisquer espaços em ruínas, em lugares deformados, em desaparição.

    Aqui, a noção de cidade sul-americana contemporânea está representada a partir da lembrança das pessoas que saíram do campo, e que, em algum momento, regressam a esse lugar. A mobilidade cidade-campo enquanto regresso a um espaço em ruínas está engajada em afetos desestabilizados, em relações desfeitas e que, agora, em A Terra e a Sombra, devem ser refeitas.

Bibliografia

    BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

    BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

    BRUNO, Giuliana. Atlas of Emotion: Journeys in Art, Architecture and Film. New York: Verso, 2002.

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobrevivência dos Vaga-lumes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

    DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à arqueologia geral. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

    LIPOVETSKY, Gilles. Da leveza: rumo a uma civilização sem peso. Lisboa: Edições 70, 2016.

    MINOIS, Georges. História da solidão e dos solitários. São Paulo: Editora Unesp, 2019.

    RANCIERE, Jacques. A partilha do sensível. São Paulo: Editora 34, 2005.

    ROSA, Hartmut. Aceleração: a transformação das estruturas temporais na modernidade. São Paulo: Editora Unesp, 2019.