Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Catarina Pereira (UBI)

Minicurrículo

    Professora Auxiliar na Faculdade de Artes e Letras da Universidade da Beira Interior. Coordena, actualmente, o projecto SPECULUM – Filmar-se e ver-se ao espelho: o uso da escrita de si por documentaristas de língua portuguesa, financiado pela FCT, com uma vasta equipa de pesquisadoras/es de Portugal e do Brasil. É membro da Comissão para a Igualdade da UBI e investigadora do LabCom. Autora do livro “A Mulher-Cineasta: Da arte pela arte a uma estética da diferenciação”, entre outros.

Ficha do Trabalho

Título

    Olmo e a Gaivota: Retrato de uma gestante distanciada do mundo

Mesa

    SPECULUM 1. Filmar-se e ver-se ao espelho

Formato

    Remoto

Resumo

    Olmo e a Gaivota (2015) é uma corealização de Petra Costa com a cineasta dinamarquesa Lea Glob, sendo que a ficha técnica do próprio filme reserva a Olivia Corsini e ao progenitor da criança, Serge Nicolaï, o estatuto de “colaboradores” no processo. Invoca-se, dessa forma, a obra de arte como uma criação coletiva, gerada a partir da própria gestação da actriz-realizadora, enquanto a protagonista se eleva no término de outras que Olivia encenou em palco.

Resumo expandido

    A proposta de comunicação que aqui apresento consiste em analisar a obra de Petra Costa, uma jovem mulher-cineasta, brasileira, partindo de determinados princípios: a existência contemporânea de um cinema documental e autobiográfico, realizado em muito por mulheres, que tem sinalizado importantes traços de diferença e singularidade; são dele exemplos, para além de Petra Costa, cineastas portugueas e brasileiras como Leonor Teles, Margarida Leitão, Catarina Mourão, Maria Clara Escobar, entre outras. O percurso trazido aqui parte de duas fontes essenciais: 1) o pensamento de Petra Costa, expresso verbalmente em um pequeno memorial intitulado “Pecado Original” e também em entrevistas (em vídeo ou publicadas por escrito); 2) os resultados estilísticos da recente e ainda não muito extensa filmografia da realizadora e, em particular, da obra Olmo e a gaivota. Ainda que não muito extensa, a obra de Petra Costa é impactante e tem tido uma vasta repercussão internacional.
    Olmo e a Gaivota (2015) sucede Elena (2012) e antecede Democracia em Vertigem (2019), intermediando o tríptico da escrita de si, do registo diarístico de uma cineasta que filma como quem se vê ao espelho. A “alternância entre o eu e o outro, o estar aqui e simultaneamente alhures, o falar de si para falar do mundo, ou falar do mundo para dizer de si ”, que Marília Rocha Siqueira compendia. A “escrita cinematográfica de inflexão ensaística ” que Roberta Veiga atenta no princípio de tudo: em Varda, em Akerman, em Kawase. Olmo e a gaivota centra-se no dia-a-dia de uma atriz gestante, que se vê imobilizada aquando da sua gravidez. Pelo filme, híbrido entre ficção e documental, perpassam os pensamentos e atos desta mulher que se torna incubadora de um novo ser, enquanto revive toda a sua existência como mulher cosmopolita, corpo de inúmeras personagens anteriormente encenadas por si, no teatro. Os diálogos entre Petra e Olivia desvendam comentários, autocríticas, caminhos a seguir na própria obra que se vai construindo em conjunto. Contêm, também eles, os principais elementos da filmografia da documentarista brasileira: a colagem dos filmes de família, o palimpsesto, a recusa do olhar do outro, o filme como questionamento, a inscrição na obra, o colocar-se em cena. A metodologia é a busca, e o filme que se vai realizando.

Bibliografia

    Lejeune, P. (2008). O Pacto Autobiográfico: de Rousseau à Internet. Belo Horizonte: Editora da UFMG.
    Lindeperg, S. (2008). “Nuit et Brouillard – Un film dans l’histoire”. Seminário internacional sobre cinema documental – Paisagem: o trabalho do tempo. Serpa: Doc’s Kingdom. https://www. docskingdom.org/pt/arquivo/textos%20de%20apoio/pdf/textosapoio2008.pdf
    Lins, C. & Blank, T. (2012). Filmes de família, cinema amador e a memória do mundo. Significa¬ção: Revista De Cultura Audiovisual, 39(37), 52-74, https://doi.org/10.11606/issn.2316-7114. sig.2012.71254
    Siqueira, Marília Rocha (2006). O ensaio e as travessias do cinema documentário. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais.
    Veiga, Roberta (2019). Imagens que sei delas: ensaio e feminismo no cinema de Varda, Akerman e Kawase. Em Karla Holanda (org.): Mulheres de Cinema. Rio de Janeiro: Numa Editora.