Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    José Laerton Santos da Silva (UFRN)

Minicurrículo

    Mestrando em Estudos da Mídia pelo Programa de pós-graduação em Estudos da Mídia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Residência em Saúde Pública pela Universidade Federal de Pernambuco. Graduado em Psicologia pela Universidade Tiradentes (Aracaju, SE).

Ficha do Trabalho

Título

    Terrores Racias: Racialidade e terror no filme As boas maneiras

Formato

    Remoto

Resumo

    O texto reflete sobre a dimensão da racialidade e sua relação com as narrativas de terror no cinema brasileiro a partir do filme As boas maneiras (BR, 2017). A pergunta norteadora é: O que pode ser encontrado se a visualidade de pessoas pretas em filmes de terror brasileiros for tomada como índices para pensar o colonialismo, capitalismo e patriarcado? Assim, foi possível concluir que a narrativa do filme mergulha na complexidade das relações raciais contemporâneas como elemento de terror.

Resumo expandido

    O presente texto reflete sobre a dimensão da racialidade e sua representação nas narrativas de terror no cinema brasileiro a partir do filme As boas maneiras (2017). Dirigido por Juliana Rojas e Marco Dutra, As boas Maneiras apresenta a estória de Ana, uma rica mulher branca que contrata como babá, Clara, uma enfermeira negra, endividada e moradora da periferia de São Paulo.
    A proposta é analisar o filme sob a perspectiva da representação da dimensão racial no Brasil e sua relação com as narrativas de terror. A pergunta norteadora é: o que pode ser encontrado se a visualidade de pessoas pretas em filmes de terror brasileiros forem tomadas como índices para pensar o colonialismo, capitalismo e patriarcado?
    Nessa perspectiva os filmes podem ser considerados como ferramentas de estratégia de poder que emprestam suas narrativas para construção de percepções acerca da realidade (COLEMAN, 2019). Isto não deixa de ser verdade quando se intersecciona a produção cinematográfica e a dimensão sócio-política da racialidade. A metodologia é descritiva, e busca explorar os elementos fílmicos e evidenciar suas ligações. Objetivo da análise é de explicitar as relações entre os elementos descritos na busca por compreender os sentidos e evidenciar aspectos da racialidade presente no filme.
    Em As boas maneiras Ana contrata Clara para ser babá do seu filho que ainda não nasceu. Ana é uma mulher branca e rica, vive em um apartamento de luxo em São Paulo. Clara é uma mulher negra, que mora na periferia e passa por dificuldades financeiras. O filme é dividido em duas partes, a primeira se passa no espaçoso apartamento de Ana, em um bairro nobre. Na primeira parte do filme Clara e Ana Desenvolvem uma relação complexa, relação que sob muitos aspectos revela a complexidade da dinâmica entre sexismo e racismo (KERNER,2012) .
    A segunda parte do filme tem como marco o nascimento do filho de Ana, que traz à vida um lobisomen, Ana morre no parto e Clara se compromete em cuidar e proteger o menino lobo. A pequena casa de Clara, fica na periferia de São Paulo. Os espaços em que cada uma das personagens está inserida já deixa pistas sobre o impacto da dinâmica racial na narrativa, “Clara é marcada por espaços hostis, escuros e apertados, em comparação com o seguro, amplo e bem iluminado apartamento de Ana” (AGNELLI et al.,2020, p.10).
    A segunda parte é marcada pela complexidade da manutenção da rotina da criança monstruosa em segredo. Clara passa a mentir para os vizinhos para esconder as transformações de Joel, que acontecem em noites de lua cheia. Toda sua rotina passa a sofrer mudanças. Dividida entre o trabalho e a maternagem da criança monstruosa, Clara abdica da sua vida pessoal. Ela tem que adaptar a casa para que as transformações da criança lobo não chamem a atenção para si.
    Mesmo ao assumir o papel de maternagem do filho gerado por Ana, Clara escapa às imagens de controle comuns aos corpos negros femininos que assumem o cuidado de crianças brancas (COLLINS, 2002), suas ações não dialogam com os estereótipos iconográficos coloniais (MEIRINHO, 2020). A narrativa do filme parece mergulhar na complexidade das relações sociais submetidas à dinâmica da racialidade ocidental. A estória termina com Clara fazendo uma aliança de confiança com a criança lobo. Sugerindo que de alguma forma Clara entende a perseguição empreendida contra a diferença.
    O filme As boas maneiras apresenta diversas camadas da dimensão da racialidade brasileira. E coloca em pauta a relação entre sexismo e racismo e seus impactos na materialidade social. A narrativa apresenta a complexidade de uma personagem mulher, negra e lésbica, e possibilita sua leitura fora dos estereótipos comumente associado às mulheres negras. Este trabalho teve como foco de análise a representação da racialidade. Em futuros trabalho sugere-se a interseção da racialidade com outras questões podem ser relacionadas.

Bibliografia

    As boas maneiras. Direção de Juliana Rojas e Marco Dutra, 2017.

    COLEMAN, R. R. M. Horror noire: a representação negra no cinema de terror. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2019.

    KERNER, Ina. Tudo é interseccional?: Sobre a relação entre racismo e sexismo. Novos estudos CEBRAP, p. 45-58, 2012.

    AGNELLI et al. As boas maneiras? Neoliberalismoe isolamento.In: 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom – VIRTUAL, 2020. Disponível em: https://portalintercom.org.br/anais/nacional2020/resumos/R15-2681-1.pdf

    COLLINS, Patricia Hill. Black feminist thought: Knowledge, consciousness, and the politics of empowerment. Nova York: Routledge, 2002.

    MEIRINHO, Daniel. Ressignificações contemporâneas dos imaginários racializados nas artes visuais. Revista Farol, v. 16, n. 23, p. 55-70, 2020.