Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Antonio Silva (UFPA)

Minicurrículo

    Rodrigo Antonio, formado em História (UFPA) e Produção audiovisual (EICTV). Produziu curtas de ficção e documentário, webséries, videoclipes, documentários educacionais e uma série para televisão. Têm experiência como curador e parecerista de laboratórios, editais setoriais e espaços de mercado. Foi professor no curso de Cinema da UFPA (2018-2020); desenvolve consultoria de produção de impacto social. Coordenou o Mercado Audiovisual Matapi (2018-2020) e o Climate Story Lab Amazônia (2021).

Ficha do Trabalho

Título

    Casa de Luiza: memória e afro-fabulação

Seminário

    Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.

Formato

    Presencial

Resumo

    Casa de Luiza: memória e afro-fabulação, é uma pesquisa-obra em Artes, que parte da reflexão e construção de narrativas visuais de famílias negras no cinema documentário, tendo o falecimento de minha avó como disparador do processo de coleta, colagem e diálogo de distintos vestígios de memória. Enquanto pesquisador-artista, adoto como base discursiva vozes-mulheres, a saber: Beatriz Nascimento (1989), Conceição Evaristo (2005) e Grada Kilomba (2019), num exercício de escrita das imagens.

Resumo expandido

    Casa de Luiza: memória e afro-fabulação, é uma pesquisa-obra em Artes, em desenvolvimento, que parte da reflexão e construção de narrativas visuais de famílias negras no cinema documentário, tendo o falecimento de minha avó como disparador do processo de coleta, colagem e diálogo de distintos vestigios de memória. Para o desenvolvimento da pesquisa, adoto como base discursiva vozes-mulheres, pensadoras e artistas, a saber: Beatriz Nascimento (1989) e sua definição do corpo negro como corpo-memória; a escrevivência de Conceição Evaristo (2005), que me auxilia a entender a necessidade e a potência do uso da minha voz e corpo – no dominínio da escrita fílmica; e a perspectiva do tornar-se sujeito de Grada Kilomba (2019), para compreender este aspecto na afirmação de minha ação como pesquisador-artista. Num fabular fílmico, passado, presente e futuro são instanciados na compreensão de uma ancestralidade da diáspora que nasce da fuga como liberdade, em um constante recriar de verdades a ser apresentado em formato de texto de artista conforme conceitua Rosana Paulino (2011).
    Ao retornar a ilha de Marajó, e revisitar a casa de minha avó, observei ausências, busquei por um passado que não vejo. A não materialidade de uma história familiar, entre fotos, vídeos e gravações caseiras, tão presentes em filme documentários do estilo performático, como conceituam Bill Nichols (2007) e Thais Blank (2015), esta última se referindo ao contexto brasileiro, me levaram a encontrar, na casa, o ponto de partida para a (re)construção da história de minha família. A escrevivência desta história está nas paredes, nos rastros de vida ali deixados, em imagens dispersas, em vozes múltiplas, fios de vida ainda por alinhavar.
    Proponho com a pesquisa-obra, a produção de curtas-metragens, em um formato de trilogia, experimentando formas e descobrindo no processo, caminhos do fazer do meu Orí , na perspectiva de Beatriz Nascimento (1989). Para a autora, o Orí contempla as dimensões temporais, de passado, presente e futuro, em uma convergência de tempo, e construção de memória ritualizada, na qual a afirmação da identidade individual e coletiva da população negra se dá no encontro e reconstrução da dignidade e da humanização, frente a um sistema que nos escravizou, silenciou e reinventou formas de exploração.
    Ter o Orí como metodologia de construção das narrativas aqui propostas, perpassa por pontos fundamentais do debate de aquilombamento. A proposta do aquilombar apontadas por Beatriz Nascimento aqui são vistos como possibilidade de etapas da criação artística, posto: o reconhecimento de que o exílio nos leva a uma perda da imagem; o recuperar a imagem de si para recuperar a identidade e assim tornar-se visível para que nosso reflexo, seja o reflexo de um coletivo.
    O aquilombar me convoca a articulação de três verbos criadores para o fazer do meu Orí: O ser, – meu reconhecimento como sujeito de minha própria história, a celebração do encontro do corpo-memória que fala e constrói o sentido de comunidade com a produção de imagens de uma família no Marajó-; o tornar- se, – afirmação de um eu-negro artista e o repensar das prerrogativas do cinema performático no documentário, como forma de suplantar a noção de representação no campo do cinema-; e o reconhecer-se, – como parte de um movimento do cinema negro contemporâneo, que refaz, reconstrói e pauta novas formas de uso da linguagem cinematográfica para refazimento da compreensão do lugar do negro nas artes no Brasil.
    Os três verbos de ação embasam uma reflexão central: como a produção de obras audiovisuais sobre minha família dialoga com outras obras do cinema negro brasileiro contemporâneo e, como essas narrativas-quilombo, imagens-acolhimento, fazem frente ao apagamento e silenciamento da subjetividade do negro, e afirmam o direito à memória, para além das narrativas fincadas no afropessimismo presentes na cinematografia nacional.

Bibliografia

    DEUS, Zélia Amador de. Os herdeiros de Ananse: movimento negro, ações afirmativas, cotas para negro na universidade. 2008. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) –Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Universidade Federal do Pará, Belém, 2008
    EVARISTO, Conceição. Poemas da recordação e outros movimentos. Rio de Janeiro: Malê, 2017.
    __________. Da grafia-desenho de minha mãe um dos lugares de nascimento de minha escrita. Nossa EscreVivência [blog]. Rio de Janeiro, ago. 2005.
    HOOKS, bell. Olhares Negros: raça e representação. São Paulo: Elefante, 2019.
    KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano. São Paulo: Combogo, 2019.
    MUNDURUKU, Daniel. Meu avô Apolinário um mergulho no rio da (minha) memória. São Paulo: Studio Nobel, 2009.
    NASCIMENTO, Beatriz. Uma história feita por mãos negras: relações raciais, quilombos e movimentos. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.
    NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus, 2005.