Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcel Vieira Barreto Silva (UFPB)

Minicurrículo

    Professor Associado do Departamento de Comunicação e do Programa de pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal da Paraíba

Ficha do Trabalho

Título

    Autoetnografia e estudos de roteiro: parâmetros metodológicos

Seminário

    Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    O objetivo dessa apresentação é discutir aspectos teóricos implicados nos estudos de roteiro através do método autoetnográfico. A partir de uma revisão da literatura e privilegiando uma abordagem epistemológica interdisciplinar, pretendemos sistematizar parâmetros metodológicos que orientem pesquisas em que o pesquisador analisa o seu próprio processo criativo, seja em contextos autorais de escrita individual, seja em dinâmicas colaborativas, como as salas de roteiristas.

Resumo expandido

    Durante o primeiro semestre de 2021, participei do desenvolvimento da série “A Invasão”, um drama histórico focado nas tentativas de invasão holandesa à Paraíba entre 1630 e 1634, ano em que finalmente os flamengos conquistam o território e instalam o governo holandês na região. O projeto da série, inicialmente criado por Manoel Fernandes Neto (autor da ideia original), Rodrigo Quirino e mim, foi um dos vencedores do Edital TVs Públicas do Fundo Setorial do Audiovisual, e a série, composta de cinco episódios, de 26 minutos cada, será realizada pela produtora paraibana 2i Filmes. Além dos três escritores, a sala de roteiristas contou com a presença de Larissa Lopes, assistente de roteiro, e ocorreu inteiramente de modo remoto.

    A oportunidade do desenvolvimento desse projeto me levou a refletir sobre as potencialidades analíticas que um pesquisador/roteirista pode ter para compreender as dinâmicas e particularidades da escrita colaborativa, em sala de roteiristas, através de um estudo síncrono do processo de criação de uma série televisiva financiada por recursos de fomento público e também voltada à televisão pública. No entanto, para além da escrita de cadernos de campo e de relatos retrospectivos da prática criativa, faltaram-me parâmetros metodológicos mais objetivos, que conferissem à pesquisa o rigor necessário para ir além da mera descrição egocentrada da experiência individual.

    Por isso, tornou-se premente a necessidade de uma reflexão sistematizada sobre a prática da autoetnografia, metodologia de pesquisa qualitativa caracterizada “por uma escrita do ‘eu’ que permite ir e vir entre a experiência pessoal e as dimensões culturais a fim de colocar em ressonância a parte interior e mais sensível de si” (FORTIN, 2017, p. 83). Por se tratar de um método que evoca a necessidade de uma construção narrativa da própria experiência, a autoetnografia deve oferecer mais que apenas as condições de um relato pessoal, construindo parâmetros para a exploração relacional das práticas criativas, de modo a oferecer visadas originais para a compreensão dos fenômenos sociais que investiga.

    Por isso, esta apresentação objetiva apresentar uma sistematização de parâmetros para a pesquisa de processos criativos na escrita de roteiros, articulando as características particulares da escrita autoral/individual e da escrita colaborativa, para orientar caminhos de pesquisa baseados em autoetnografia. Com isso, pensamos contribuir para a consolidação de métodos científicos que, a um só passo, possam representar os contextos e subjetividades envolvidos nas práticas do pesquisador/roteirista, sem desconsiderar a necessidade de uma investigação rigorosa e sistemática do processo criativo no campo dos estudos de roteiro.

Bibliografia

    CANO, R. L.; OPAZO, U. S. C. Investigación artística en música: problemas, métodos, experiencias y modelos. Barcelona: Fonca-Esmuc, 2014.
    FORTIN, S. Contribuições possíveis da etnografia e da auto-etnografia para a pesquisa na prática artística. Disponível em: . Acesso em: 1 de fevereiro de 2017.
    SALLES, C. A. Gesto inacabado: processo de criação artística. 5. ed. São Paulo: Intermeios, 2011.
    ______. Processos de criação em grupo: diálogos. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2017.
    VERSIANI, D. B. Autoetnografias: conceitos alternativos em construção. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2005.