Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Vinícius da Cunha Bisterço (USP)

Minicurrículo

    Graduado em História pela Universidade de São Paulo e mestre em Literatura Brasileira pela mesma instituição, com pesquisa realizada acerca da presença da marginalidade social nos contos de João Antônio e nos filmes de Ozualdo Candeias. Realiza Doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo acerca da produção cinematográfica do cineasta paulista João Batista de Andrade durante os anos finais da ditadura militar brasileira (1979-1985).

Ficha do Trabalho

Título

    O cinema policial de João Batista de Andrade

Formato

    Presencial

Resumo

    Essa apresentação analisa os diálogos presentes na produção cinematográfica de João Batista de Andrade com o gênero do cinema policial, particularmente no caso dos filmes Doramundo (1978), O Homem que Virou Suco (1981) e A Próxima Vítima (1983). Busca-se, assim, compreender a maneira com que as convenções desse gênero cinematográfica são mobilizadas para representar o período da transição democrática da ditadura militar brasileira (1974-1985)

Resumo expandido

    O gênero do cinema policial está presente na história do cinema brasileiro pelo menos desde os seus princípios, estabelecendo diálogos com a literatura policial, com a crônica jornalística e com as produções estrangeiras do gênero (ALMEIDA, 2007, p.138-139). Há um período da história do cinema brasileiro no qual a opção pelo gênero policial como forma de representação se torna particularmente significativo, e esse período coincide com o momento histórico de distensão da ditadura militar brasileira, indo de 1975 a 1985.
    Ismail Xavier classificou o cinema produzido nesse período como de um “naturalismo da abertura”, e uma particularidade desses filmes seria explorar o gênero do filme “policial-político”: “O policial-político se põe como espetáculo para comunicar, convencional, bem-dosado, sem enveredar pelo naturalismo grotesco, a violência exagerada, de Rainha Diaba (Antonio Fontoura, 1974) onde o verismo da encenação é a busca do pitoresco do ambiente, e sem, por outro lado, alcançar o realismo de investigação psicológica, mais denso na reflexão, próprio ao “estudo de caso” de Ato de Violência (Eduardo Escorel, 1980), cujo ritmo contido está fora dos imperativos do “filme de ação” (XAVIER, 2001, 112).
    Os filmes indicados por Ismail Xavier nesse grupo estariam mais preocupados em estabelecer uma comunicação com o público do que em conduzir uma interpretação complexa de fenômenos em curso. Nesse sentido o “(…) naturalismo aparece, então, como estratégia sedutora do espetáculo e como marca de autenticidade, de ousadia, na apresentação dos dados” (XAVIER, 2001, p. 113). Dentro desse escopo, o cineasta João Batista de Andrade produz pelo menos três filmes nos quais o diálogo com o gênero policial estaria presente: Doramundo (1978), O Homem que Virou Suco (1981) e A Próxima Vítima (1983).
    Além dos dois filmes de Batista já citados, também poderiam ser indicados os filmes Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (Hector Babenco, 1977), Barra Pesada (Reginaldo Farias, 1977), O Bom Burguês (Oswaldo Caldeira, 1983) e Pra Frente Brasil (Roberto Farias, 1982). Esses filmes se dedicavam a uma apresentação clara dos problemas sociais, assumindo a função de obras de arte capazes de denunciar explicitamente as violências praticadas por agentes policiais durante o período do regime militar. A possibilidade de conduzir a denúncia nesses termos é associada por Ismail Xavier ao período no qual são produzidas, o qual é marcado pela “abertura democrática” e pela possibilidade de encontrar meios de escapar à censura para que os filmes elaborassem temas sensíveis, como a violência policial, a tortura e a perseguição política. Xavier identifica que, no entanto, esse cinema padece de uma limitação na análise dos problemas, tendo em vista estar preso à uma organização dos conflitos narrativos a partir de fórmulas tradicionais: “a estrutura dramática, a composição de heróis e vilões, o imperativo da ação, tudo trabalha para que se ponha em cena uma coleção de fatos articulados de modo simplificado, resultando uma verdade de aparência, reduzida” (XAVIER, 2001, p. 113).
    Essa apresentação investiga a interlocução do cinema de Batista com o gênero policial produzido nesse período, buscando compreender a particularidade dessa apropriação nos filmes do autor e o diálogo com as questões levantadas por Xavier, particularmente ao analisar as relações entre as convenções de gênero e a interpretação do processo social em curso.

Bibliografia

    ALMEIDA, Marco Antônio de. O cinema policial no Brasil: entre o entretenimento e a crítica social. Cadernos de Ciências Humanas – Especiaria, v. 10, n.17, jan/jun, 2007, p. 137-173.
    LEME, Caroline Gomes. Um certo cinema paulista. Entre o Cinema Novo e a Indústria Cultural (1958-1981). São Paulo: Alameda, 2019.
    OLIVEIRA, Alcilene Cavalcante. A transição democrática brasileira (1974-1989) pelas lentes de João Batista de Andrade. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v.9, n.21, 2017, p.43-73.
    RAMOS, Alcides Freire. O cinema de João Batista de Andrade e a resistência à ditadura militar brasileira (1964-1985). Revista Perseu, n.1, Ano I, 2007, 315-335.
    XAVIER,Ismail. O cinema brasileiro moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001.