Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Roberto Robalinho Lima (UFF / Tübingen)

Minicurrículo

    Pós Doutorando em Comunicação no PPGCOM da UFF e na Universidade de Tübingen, onde desenvolve a pesquisa “Imagem insuportável: território e ação política no Sul Global”. Foi professor visitante em Tübingen em 2018, e entre 2019 e 2021. Doutor em Comunicação pelo PPGCOM – UFF em 2017, com a tese “Cartografia das Imagens Ardentes: produção política e subjetiva nos protestos de junho de 2013”. Vencedor do prêmio Biblioteca UFF 2012/2013, publicou sua dissertação, Miragens da Guerra, pela EDUFF.

Ficha do Trabalho

Título

    Imagem-natureza(s): Assombro e sobrevivência na paisagem devastada

Seminário

    Cinemas pós-coloniais e periféricos

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta proposta reflete as relações complexas entre imagem e antropoceno a partir de três acontecimentos no Sul Global: o rompimento da barragem de dejetos de Mariana em 2015, a destruição de uma árvore sagrada no norte da Austrália em 2013 e os incêndios na Austrália entre 2019 e 2020. Mais do que expor a destruição das catástrofes, as imagens interrompem uma ordem sensível revelando mundos e ontologias que sobrevivem ao massacre colonial produzindo aquilo que chamamos de uma “imagem-natureza(s)”

Resumo expandido

    Esta apresentação propõe pensar as relações entre imagem e Antropoceno e seus conceitos conexos como Plantationoceno e Slow Violence (Haraway 2016 ,Nixon 2011), a partir de imagens de três acontecimentos no chamado Sul Global que chamaremos de cenas: 1. a ruptura da barreira de contenção de dejetos de mineração da Samarco em Mariana em 2015; 2. a destruição criminosa de uma árvore sagrada, uma Ghost Gum, no norte da Austrália em 2013; 3. os incêndios australianos no verão de 2019/2020, acontecimento que ficou conhecido como black summer, por conta da fumaça espessa que cobria os céus enquanto durou os incêndios.
    Cada um destes acontecimentos possui suas próprias singularidades e historicidades, não se trará de eliminar as diferenças, mas de ver como, nas diferenças, mobilizam um mesmo regime estético. No caso do rompimento da barragem em Mariana e dos incêndios na Austrália, as imagens são uma ferramenta importante como forma de enquadrar a experiência apocalíptica de um mundo que está desmoronando. No entanto, contra este cenário de fim de mundo, fotografias realizadas após as catástrofes revelam subjetividades e ontologias ignoradas por uma mirada moderna, enquanto, ao mesmo tempo, trazem para o primeiro plano as densas e enredadas temporalidades do Antropoceno. Esta mesma subjetividade indesejada e dissidente se faz presente na destruição da árvore sagrada na Austrália em 2013, na qual uma série de pinturas de árvores realizadas pelo artista aborígene Albert Namatjira (1902-1959) possuem um processo de incorporação que desarranja nossa separação fundante entre natureza e cultura, um risco ontológico que resulta na destruição material das árvores reais que serviram de modelo para os quadros. Imagem, objeto, mundo, se misturam nestas cenas, dificultando as distâncias modernas que regulam e ordenam o olhar sobre as imagens, como ordenam e regulam naturezas e corpos.
    O que conecta estas imagens singulares é o assombro de ver a imagem das árvores irromperem na superfície da paisagem devastada. O que é realmente assombroso é, como os fantasmas destas assombrações são uma agência da natureza que produz uma imagem – um fantasma – mesmo antes de serem enquadradas pela câmera, deslocando o instante fotográfico de Barthes para antes da presença da câmera, o instante aqui, é o fantasma incorporado e impresso na paisagem. É certo que o fotógrafo e o aparato fotográfico são responsáveis pela circulação da imagem, no entanto, a presença deste fantasma já estava inscrita na paisagem na forma de uma “imagem-natureza(s)”, uma presença e virtualidade que pode ou não ser ativada através das lentes de um mundo moderno.
    As assombrações decoloniais que surgem através destas imagens, expõem uma contínua violência extrativista nestes espaços do Sul Global, ao mesmo tempo em que produzem um desconforto na ordem sensível. As árvores, ou melhor, seus assombros, produzem um corpo no presente que reivindica uma subjetividade – a das naturezas – negligenciada por uma epistemologia moderna, propondo também alguma saída e estratégias para habitar as fissuras do Antropoceno.

Bibliografia

    HARAWAY, D. Staying with the trouble: making kin in the Chthulucene. Duke University Press, Durham and London, 2016.
    NIXON, Rob. Slow violence and the environmentalism of the poor. Harvard University Press, Cambridge 2011.