Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Maíra Tristão Nogueira (UFRJ)

Minicurrículo

    Pesquisadora e realizadora audiovisual. Doutoranda em Comunicação e Cultura (UFRJ), mestra em Ciência da Comunicação – Cinema e Televisão (Universidade Nova de Lisboa), bacharel em Ciências Sociais (UFES) e em Comunicação Social (UVV). Como realizadora, dirigiu curta-metragens e webséries, que tiveram exibições nacionais e internacionais com temáticas feministas e sociais. Seus interesses de pesquisa envolvem questões de gênero, cinema brasileiro e latino-americano e decolonialidade.

Ficha do Trabalho

Título

    Práticas decoloniais do coletivo colombiano Al Borde Producciones

Seminário

    Cinemas mundiais entre mulheres: feminismos contemporâneos em perspectiva

Formato

    Presencial

Resumo

    Analisamos o coletivo de cinema colombiano feminista Al Borde Producciones, a partir dos conceitos de colonialidade de gênero e colonialidade do ver. Al Borde atua com práticas artivistas, na formação, produção e distribuição dos trabalhos audiovisuais de mulheres e pessoas transgêneras. Dessa forma, a atuação e as imagens produzidas pelo coletivo se inserem nas resistências à diferença colonial, propiciando novas leituras estéticas dos políticos e um novo regime visual latino-americana.

Resumo expandido

    A partir do século XXI, a produção audiovisual ultrapassa os espaços institucionais de escolas formais de cinema, equipamentos sofisticados e narrativas intelectuais. Podemos observar, uma inversão de papéis em que a antiga espectadora se torna, também, realizadora das suas próprias narrativas. No contexto latino-americano, o Coletivo colombiano Al Borde Producciones, criado em 2001, é reconhecido como pioneiro no cinema comunitário latino-americano com temática de gênero. Al Borde Producciones se define como “um projeto de produção audiovisual de Mulheres AL BORDE – em português, À MARGEM – que tem como objetivo criar imagens e contar histórias que desafiem as ordens de gênero e sexualidade, para que haja um outro mundo mais livre e feliz”. Em seus manifestos mais recentes, as integrantes escreveram que o coletivo é composto por “lésbicas, bissexuais, transexuais, pansexuais, homossexuais, heterodissidentes, intersex, queers, anormais e hermonstros/as”, e é um espaço para que a criação e onde os processos de desejo sejam valorizados (FERREIRA, p. 210, 2015). É interessante destacar a importância dos debates feministas contemporâneos pelo coletivo, que incorpora, nas suas práticas políticas, questões de gênero e sexualidade como dispositivo de discurso e performance. O que se propõe é romper barreiras dicotomicas entre masculino e feminino ou entre heterossexual e homossexual.
    Esse corpo coletivo com práticas “à margem” nos propõe pensar a produção cinematográfica como ferramentas de resistência à diferença colonial. Além do ativismo do coletivo, refletimos como as imagens nos proporcionam uma resistência à colonialidade da imagem e de gênero e constroem uma nova cultura visual latino-americana. A autora Maria Lugones (2014) complexifica a compreensão da colonialidade de poder, desenvolvida por Aníbal Quijano (1991), ancorando a colonialidade de gênero. Ela afirma que a colonialidade atravessa o controle do acesso ao sexo, a autoridade coletiva, o trabalho e a subjetividade das sujeitas. A resistência à colonialidade do gênero é historicamente complexa, mas decolonizar o gênero é decretar uma crítica da opressão de gênero racializada, colonial, capitalista e heterossexualizada, visando uma transformação do social. A produção do coletivo Al Borde se insere dentro das práticas de resistência à colonialidade de gênero a partir do cruzamento e da materialização de práticas políticas, ativistas, artísticas e cinematográficas. O artivismo do coletivo busca pela necessidade de tornar visível o que sempre esteve invisível (FERREIRA, 2015), criando suas próprias imagens, problematizando violências de gênero e dinâmicas da vida hetenormativa.
    Joaquin Barriendos (2011) desenvolveu o conceito de “colonialidade do ver”, no qual ele apresenta uma análise sobre as tecnologias de representação e organização colonial da ordem do olhar. Barriendos (2011) problematiza a matriz da colonialidade que deixa explícito o regime visual baseado na polarização e inferiorização entre o sujeito que observa e o seu objeto (ou sujeito observado). Analisamos, no entanto, a atuação e produção do colectivo Al Borde, que propõe o deslocamento desse olhar propiciando uma experiência visual e de gesto que rompe com a hegemonia das imagens.
    Dessa forma, propomos nesta comunicação analisar a atuação do coletivo a partir do rompimento das estruturas coloniais de gênero e do ver. Desenvolvemos a análise a partir da coabitação entre tecnologias, arte, ativismo e práticas políticas, para libertação das sujeitas e mulheres. Coabitação que possibilita contato com um real e novas legibilidades da imagem (DIDI-HUBERMAN, 2012). As imagens produzidas pelo coletivo criam outras leituras estéticas dos políticos, proporcionando-nos uma nova cultura visual latino-americana.

Bibliografia

    BARRIENDOS, Joaquín. La colonialidad del ver. Hacia un nuevo diálogo visual intere- pistémico. Nómadas (ISSN 0121-7550), n. 35, p. 13-29, 2011.
    DIDI-HUBERMAN, Georges. Quando as imagens tocam o real. Pós: Belo Horizonte, v.2, n 4, p.204-219, nov. 2012.
    FERREIRA, Glauco. Margeando Artivismos Globalizados: Nas bordas do mujeres al borde. In: Estudos Feministas, Florianópolis, 23(1): 312, janeiro-abril/2015.
    HARAWAY, D; KUNZRU, H; TADEU, T (Org.). Antropologia do ciborgue. As vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
    LEANDRO, Anita. Sem Imagens. Estudos da língua(gem), v. 12, n. 1, jun. de 2014. p.121-134. LUGONES, María. Rumo a um Feminismo Descolonial. Estudos Feministas, 22, 3, 2014.
    QUIJANO, Anibal. “Colonialidad, modernidad/racialidad”. Perú Indígena, v. 13, n. 29, p. 11-29, 1991.