Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Claudio Roberto de Araujo Bezerra (UNICAP)

Minicurrículo

    Professor adjunto e pesquisador da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), vinculado à Escola de Comunicação. Integra o corpo docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Indústrias Criativas e do curso de Jornalismo da instituição. Possui mestrado em Comunicação (UFPE), doutorado em Multimeios (UNICAMP) e pós-doutoramento em Comunicação pela Universidade do Porto (U-PORTO, Portugal). Entre outros livros, publicou “A personagem no documentário de Eduardo Coutinho” (Papirus, 2014).

Ficha do Trabalho

Título

    Um passeio pela obra cinematográfica do pernambucano Fernando Spencer

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação tem como objetivo apresentar uma visão geral da produção cinematográfica do cineasta Fernando Spencer, uma obra de curtas-metragens vasta e diversa em termos estéticos, narrativos e temáticos, que dialoga com diferentes campos da arte: a literatura, as artes plásticas, a música, a cultura popular e midiática e o próprio cinema. Trata-se, portanto, de uma obra de relevante importância histórica, social e cultural para o cinema de Pernambuco e do Brasil.

Resumo expandido

    Há toda uma simbologia em torno de 1969 em função de uma série de acontecimentos marcantes que ocorreram ao longo daquele ano, em diferentes partes do mundo. No Brasil, 1969 foi marcado, sobretudo, pelo recrudescimento da ditadura com o AI-5, editado em dezembro do ano anterior, que institucionalizou a perseguição, tortura e morte de opositores ao regime militar, censurou a imprensa e as manifestações artísticas em geral, provocando o exílio de vários políticos e artistas. Mas houve luta. Apesar do assassinato de Carlos Marighella, a resistência armada continuou sob o comando de outros líderes.
    A cultura também resistiu. Nos cinemas, estrearam os seminais “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha, e “Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade. 1969 foi também o ano de criação do jornal Pasquim, semanário que se tornou porta-voz da produção cultural brasileira independente e de oposição à ditadura. Merece registro ainda o surgimento da Embrafilme. Mesmo criada com o propósito de promover uma imagem positiva do país, então mergulhado em uma criminosa política de Estado de perseguição e morte de opositores ao regime ditatorial, a entidade tornou-se um importante mecanismo de financiamento público da produção e distribuição cinematográfica nacional, inclusive de curta-metragem.
    Foi nesse contexto do agitado ano de 1969 que o jornalista e crítico de cinema pernambucano, Fernando Spencer, iniciou sua trajetória de cineasta com “A Busca”, um curta-metragem de 7 minutos, realizado em 16mm. Mas o filme não tem qualquer vínculo com o momento histórico então vivido pelo país e o mundo. Muito pelo contrário, trata-se de uma história singela, em que três crianças saem à procura de um cachorro desaparecido até encontra-lo. Curiosamente, anos mais tarde, Spencer declara que foi o ambiente criado pelo cinema novo, da ideia na cabeça e uma câmera na mão, que despertou nele o desejo de sair da teoria à prática, tornando-se também realizador.
    Mas, se o contexto político e sociocultural dos agitados anos 1960 passou ao largo do seu primeiro filme, a ditadura e suas consequências irão aparecer em trabalhos posteriores. A exemplo de “Ver/Ouvindo” (1972), codirigido por Lula Gonzaga, primeiro filme de animação pernambucano, um ensaio crítico contundente à censura em plena ditadura, e a ficção “O Último Bolero no Recife” (1988), sobre um exilado político que retorna à cidade natal em busca de uma paixão da juventude.
    Ao contrário de certa visão limitada de que Spencer foi somente um realizador de documentários sobre a cultura popular do Nordeste brasileiro, um olhar mais atento irá perceber que sua vasta obra transita pelos quatro domínios do cinema: o documentário, a ficção, o experimental e o ensaio. Sim, os documentários constituem a maior parte de sua produção e a temática da cultura popular é dominante. Mas Spencer foi além.
    Seus filmes abordam questões urgentes de sua época, e ainda atuais, como a robotização das relações humanas, em “Atrás da Porta, Dentro da Valise” (1975), codirigido por Walderes Soares Pinto; os amores passageiros, na ficção experimental “P.S. Um Beijo” (1975); a poluição do rio Capibaribe, no documentário ensaístico “Capibaribe” (1981); e a cirurgia de parto cesárea, no documentário científico “Técnica de Operação Cesareana” (1976), entre outros.
    Esta comunicação tem como objetivo apresentar uma visão geral da produção cinematográfica de Spencer, uma obra de curtas-metragens vasta e diversa em termos estéticos, narrativos e temáticos, que dialoga com diferentes campos da arte: a literatura, as artes plásticas, a música, a cultura popular e midiática, e o próprio cinema. Trata-se, portanto, de uma obra de importante relevância histórica, social e cultural para o cinema de Pernambuco e do Brasil.

Bibliografia

    BEZERRA, C. Cinema, sonho e melancolia na obra do cineasta brasileiro Fernando Spencer. In: VIII Encontro Anual da AIM, 2019, Aveiro. Atas do VIII Encontro Anual da AIM. Covilhã: AIM, 2019. v. 1. p. 28-36.
    BEZERRA, C. O afeto e a memória no cinema de Fernando Spencer. In: XXI Encontro da SOCINE, 2018, João Pessoa. Anais de textos completos do XXI Encontro da SOCINE. São Paulo: SOCINE, 2017. p. 196-202.
    BEZERRA, C. O documentário etnográfico de Fernando Spencer: primeiras impressões. In: XX Encontro Anual da SOCINE, 2017, Curitiba. Anais de Textos Completos do XX Encontro da SOCINE. São Paulo: SOCINE, 2016. p. 221-227.
    FIGUEIRÔA, A; BEZERRA, C. O documentário em Pernambuco no século XX. Recife: FASA/MXM, 2016.
    FIGUEIRÔA, A. O cinema super 8 em Pernambuco. Recife: Edições Fundarpe, 1994.
    FIGUEIRÔA, A. Cinema pernambucano: uma história em ciclos. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2000.