Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Monique Alves Oliveira (UFJF)

Minicurrículo

    Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens. Mestra em Artes, Cultura e Linguagens, área de concentração: Cinema e Audiovisual. Graduada em Cinema e Audiovisual e Licenciada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Atualmente é integrante do grupo de pesquisa CPCINE e do Cineclube Movimento.

Ficha do Trabalho

Título

    A operária sob tramas: a respeito de uma personagem em Redemoinho

Formato

    Remoto

Resumo

    O trabalho apresenta uma análise de Redemoinho (2016), filme de José Luiz Villamarim, voltada para a figuração da personagem Hélia. Trata-se de uma personagem que aparece poucas vezes na história, exclusivamente na fábrica em que trabalha. Cabe discutir como essa figura surge enclausurada no espaço laboral, como sua inserção na narrativa se dá unicamente pela via profissional e como esses dados se associam à representação das novas configurações do trabalho pelo cinema brasileiro contemporâneo.

Resumo expandido

    Este trabalho se concentra na análise do filme Redemoinho (2016), primeiro longa-metragem do diretor José Luiz Villamarim. A análise busca, sobretudo, investigar a inserção e a representação da personagem Hélia na narrativa. Hélia é uma operária que trabalha na fábrica de tecidos de Cataguases, Zona da Mata mineira. Ela também é irmã de um dos protagonistas do filme, Luzimar, e foi uma antiga namorada do outro protagonista, Gildo. A operária pode ser considerada uma figura secundária no filme, principalmente por surgir em poucas cenas. E é do que se passa nessas poucas cenas que decorre o interesse central deste estudo: o enclausuramento da mulher no espaço fabril.
    Desde sua primeira aparição no filme, na entrada do trabalho, até as demais interações com outros personagens do longa, Hélia surge exclusivamente na fábrica. Essa inserção restrita à indústria parece garantir um perfil ainda mais sério à operária, além da feição de cansaço e abatimento. Isso posto, a análise busca esmiuçar a hipótese de que a inserção de Hélia na história ocorre unicamente pela via profissional. Ou seja, não há elaboração de outras perspectivas da sua vida que não estejam presas à dimensão profissional – um estereótipo comum referente às mulheres que trabalham e têm suas vivências limitadas ao extremo. No entanto, essa parece ser uma dinâmica característica do trabalho industrial, já que, em outras produções contemporâneas que igualmente colocam mulheres trabalhadoras em cena, são também exploradas esferas como a vida familiar, as experiências sexuais e amorosas, os dramas individuais, etc.
    A metodologia empregada se constitui, em primeiro lugar, da análise fílmica da obra, com destaque para três sequências principais envolvendo a personagem em debate: 1) a sequência inicial, na qual Hélia chega à fábrica para início do seu turno; 2) o plano longo, por volta da metade do filme, em que os protagonistas encenam a tentativa de suicídio de Hélia, no qual a personagem, ainda que não apareça, é o assunto central; 3) as cenas em que, já perto do final do filme, Gildo vai até a indústria para reencontrar Hélia. Nessas sequências, interessa observar, por exemplo, como a fotografia acaba por acoplar o corpo da mulher às máquinas, como a montagem acentua o isolamento da personagem na fábrica e em relação às outras figuras, e como os sons são manipulados de forma ambivalente, por vezes impedindo a comunicação, por vezes, abafados, permitindo que algum diálogo se estabeleça.
    Para auxiliar o processo de análise, algumas referências serão utilizadas como base inicial: as ideias dos autores Thomas Elsaesser e Malte Hagener (2018), publicadas no livro Teoria do cinema: Uma introdução através dos sentidos; os estudos do pesquisador Ismail Xavier (2012), em especial a publicação O discurso cinematográfico. A opacidade e a transparência; e as pesquisas da autora Vera Lúcia Follain de Figueiredo (2020), reunidas em A Ficção Equilibrista: Narrativa, Cotidiano e Política. A partir desse referencial teórico, será possível integrar as análises projetadas num contexto mais amplo de discussões conceituais e fornecer elementos para uma compreensão mais detalhada das diferentes representações da mulher no cinema brasileiro contemporâneo, em que a articulação entre personagens femininas e trabalho tem se mostrado uma linha de força relevante.

Bibliografia

    ELSAESSER, Thomas; HAGENER, Malte. Teoria do cinema: uma introdução através dos sentidos. Campinas: Papirus, 2018.

    FIGUEIREDO, Vera Lúcia Follain de. A ficção equilibrista: narrativa, cotidiano e política. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio, 2020.

    REDEMOINHO. Direção: José Luiz Villamarim. Rio de Janeiro: Globo Filmes, 2016. 1 vídeo (100 min).

    XAVIER, Ismail. O Discurso cinematográfico: A opacidade e a transparência. São Paulo: Paz e Terra, 2005.