Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Daniel P. V. Caetano (IHS/UFF)

Minicurrículo

    Formado em Cinema pela UFF, fez sua pós-graduação em Letras pela PUC-RJ. É professor do curso de Produção Cultural do IHS-UFF. Diretor e produtor de filmes de ficção e documentários de longa e curta metragem, entre eles Conceição – autor bom é autor morto (2007), Rio em Chamas (2014) e Verão em Rildas (2018). Foi curador de mostras no CCBB e na Caixa Cultural e já colaborou com diversas publicações, como Filme Cultura, Cinética e Contracampo.

Ficha do Trabalho

Título

    Tempestade perfeita, margens e vazantes, faróis desregulados

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    No ensaio “Uma situação colonial”, Paulo Emilio Salles Gomes apontava a mediocridade como denominador comum das atividades relacionadas a cinema no Brasil. Motivada por uma observação participante realizada junto a uma associação do setor de produção, a comunicação aqui proposta pretende analisar a crise de rumos do atual cenário à luz de um retorno às reflexões de Salles Gomes, relacionando as tendências estilísticas das últimas décadas àquelas do momento em que o referido ensaio foi escrito.

Resumo expandido

    No seu célebre ensaio “Uma situação colonial”, Paulo Emilio Salles Gomes apontava a mediocridade como denominador comum das atividades relacionadas a cinema no Brasil. Naquele contexto, Salles Gomes ressaltava que não havia qualquer setor que pudesse obter sucesso em superar solitariamente o contexto de pobreza estrutural que marca a sociedade brasileira: “Assim como as regiões mais pobres do país se definem imediatamente aos olhos do observador pelo aspecto físico do habitante e da paisagem, todos os que nos ocupamos de cinema no Brasil dificilmente escapamos a um processo de definhamento intelectual, que mais cedo ou mais tarde acaba por imprimir características reconhecíveis à primeira vista.” (SALLES GOMES, 2016).

    Avançando seis décadas no tempo, o panorama, embora mais numeroso em matéria de agentes e produções (e portanto mais complexo e nuançado), não é mais alentador nos dias de hoje. A atividade de produção reduziu-se fortemente e se encontra em crise profunda devido à interrupção do modelo de fomento que predominada até poucos anos (com financiamento através do FSA e demais mecanismos de incentivo), intensificada pelas consequências da pandemia de Covid-19. Nesta repetição dramática de fim de ciclo, formatos alternativos buscam ter visibilidade e continuidade em diversas escalas e plataformas, às vezes em modelos radicalmente opostos – seja através do esquema de baixíssimo orçamento, seja através do serviço de produção prestado às empresas de VOD, por exemplo. Paralelamente, no setor de exibição a concorrência do VOD e a as consequências da pandemia estrangularam parte dos modelos alternativos às salas das grandes redes.

    É neste cenário que, em conjunto com a discussão sobre cotas de tela nas mais diferentes plataformas, vem se desenrolando de forma precária o debate sobre a regulação do modelo de acesso à produção audiovisual por streaming – embora já sejam claros os indícios de que este modelo, que desde a última década vem se tornando dominante em diversos circuitos sociais, pode gerar uma transformação nos modos de acesso à produção audiovisual comparável ao surgimento da televisão. A notória crise entre o setor e os agentes estatais no período intensifica os riscos e gera divisões na sociedade e no setor. Determinados modelos são privilegiados, outros são postos à margem e outros tantos se inviabilizam. Conforme o dito de Gustavo Dahl: “Frequentemente os filmes brasileiros não são filmados, são viabilizados”.

    Motivada por uma observação participante realizada nos últimos seis anos junto à ABRACI-RJ uma associação representativa de cineastas, a comunicação aqui proposta pretende analisar este cenário à luz de um retorno às reflexões de Salles Gomes.

    Esta presente comunicação é um desenvolvimento e um prolongamento de outra comunicação já proposta para ser realizada na IV Jornada de Estudos em História do Cinema Brasileiro. O projeto de revisitar o ensaio de Paulo Emilio Salles Gomes aqui se desdobra, então, numa proposta de análise comparativa de modelos de produção, tendências estilísticas e projetos estéticos do contexto histórico em que se dava a crítica de Salles Gomes e o atual panorama.

Bibliografia

    IKEDA, Marcelo. O Cinema Independente Brasileiro Contemporâneo em 50 filmes. Porto Alegre: Sulina, 2020
    RAMOS, Fernão, SCHVARZMAN, Sheila (orgs.) Nova História do Cinema Brasileiro vol.1 e 2. São Paulo: Editora Sesc, 2018
    SALLES GOMES, P.E. “Uma situação colonial”. Publicado originalmente em 19/11/1960 no Suplemento Literário do Estado de São Paulo. In: Uma situação colonial. SALLES GOMES, P. E., CALIL, C.A. (org.). São Paulo: Companhia das Letras, 2016.