Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    EDUARDO N VALENTE (UFF)

Minicurrículo

    Formado em cinema pela UFF, com mestrado pela ECA/USP, atualmente doutorando na UFF. Cineasta, crítico e programador de cinema, trabalha desde 2016 como delegado do Festival de Berlim no Brasil e é membro do comitê de seleção do Olhar de Cinema, festival que acontece em Curitiba. Dirigiu três curtas e um longa metragem, todos exibidos no Festival de Cannes; trabalhou como assessor internacional na ANCINE; e foi editor de duas revistas online de crítica de cinema, Contracampo e Cinética.

Ficha do Trabalho

Título

    MyFrenchFilmFestival: a presença online de uma cinematografia nacional

Formato

    Presencial

Resumo

    Criado em 2011 de maneira pioneira pela Unifrance para dar continuidade a suas
    ações de promoção do cinema francês pelo mundo, buscando renovar o público destas a
    partir do uso da internet como local de realização de um festival de cinema, o
    MyFrenchFilmFestival completou dez edições em pleno domínio do mercado
    audiovisual pelo conceito do streaming. A partir do estudo de sua história, busca-se
    refletir acerca do lugar dos festivais hoje no trabalho de internacionalização de um
    cinema nacional.

Resumo expandido

    Como notado por Marijke De Valck em seu seminal livro para os estudos
    dos festivais de cinema, “Film Festival: From European Geopolitics to Global
    Cinefilia”, desde aquele evento que é considerado como o primeiro festival
    internacional de cinema (o de Veneza em 1932) a questão do cinema como um
    “representante nacional” já se colocava em destaque: cada filme em
    competição representava o seu país de origem, colocando em foco temas ao
    redor de identidade cultural e da promoção dos cinemas nacionais (DE VALCK
    2007, p. 24). Desde esse princípio, portanto, o fenômeno dos festivais de
    cinema já nasce intrinsecamente dúbio: ao mesmo tempo em que nascem
    defendendo os valores artísticos da linguagem cinematográfica como seu
    diferencial, buscam abertamente encontrar uma maneira de posicionar as
    obras que exibem no tabuleiro do jogo econômico da indústria.

    A partir da criação em 1949 da Unifrance, um órgão de gestão mista
    entre o Estado francês e os empresários do setor (produtores, distribuidores)
    voltado exclusivamente para a promoção internacional da cinematografia
    francesa, o formato de “festivais de cinema francês” será constantemente
    utilizado ao longo da sua história e nas mais diferentes partes do mundo (Brasil
    aí incluído) como ferramentas de comercialização e monetarização da
    produção francesa, enquanto buscam em seus discursos afirmar valores como
    o da “qualidade” do cinema francês ou, mais tarde, da chamada “exceção
    cultural”. Como aponta De Valck, isso não é um paradoxo, e sim uma
    encarnação da natureza dupla típica do cinema.

    Neste contexto, a criação pela Unifrance do MyFrenchFilmFestival em
    2011 representa ao mesmo tempo a continuidade de uma forma de ação
    consolidada ao longo de décadas, mas também uma novidade considerável.
    Afinal, embora hoje (em especial no mundo pós-pandemia) a noção de um
    festival de cinema online pareça quase banal, é importante lembrar que, em
    2010, a Netflix acabava de lançar a sua primeira plataforma de streaming,
    ainda sem alcance global e com atuação exclusiva nos Estados Unidos. Portanto, a ideia de estabelecer uma plataforma de acesso livre em escala mundial estava longe de ser uma prática corrente.

    A modificação da dinâmica que transfere o “local do festival” de uma
    cidade ou mesmo sala de cinema específica para a casa e a tela do
    computador ou televisão de cada espectador teria repercussão considerável
    em alguns dos principais ativos sobre a realização de um tal evento. Pois
    conforme nos lembra Christelle Taillibert acerca do formato clássico dos
    festivais: “Transformar em evento a presença de um determinado filme num
    lugar em particular se torna o motor do movimento pelo qual os espectadores,
    movidos por interesses bastante variados, decidem estar presentes a uma
    mesma manifestação” (TAILLIBERT 2014).

    Em contato com uma série de dados e estudos acerca do
    MyFrenchFilmFestival, esta apresentação busca refletir como, após pouco mais
    de uma década de existência dessa manifestação, a mesma se utilizou de toda
    uma terminologia e estratégias clássicas do formato de um festival de cinema
    tradicional (como por exemplo a duração em número limitado de dias; seleção
    com um determinado número fixo de filmes; entrega de prêmios ao final do
    evento) como forma de oferecer um “lugar de conforto e familiaridade” para os
    cinéfilos, ao mesmo tempo em que se buscava engajar novos (e, importante,
    mais jovens) públicos aos que tradicionalmente consumiam o cinema francês
    nas salas. Por outro lado, buscamos perceber como hoje, face à explosão de
    oferta onipresente, das grandes plataformas de streaming aos canais mais
    especializados e as versões online dos festivais tradicionais, o
    MyFrenchFilmFestival procura se reposicionar para manter a atenção do seu
    público cativo e cumprir sua missão de servir de plataforma de promoção do
    cinema francês.

Bibliografia

    CZACH, Liz. Film Festivals, Programming, and the Building of a National Cinema. The Moving Image, Volume 4, Número 1, pp. 76-88. University of Minnesota Press: 2004.
    DE VALCK, Marijke. Film Festival: From european geopolitics to global cinephilia. Amsterdam University Press, 2007.
    PREL, Elisa. Le (très) petit écran au service du grand? MyFrenchFilmFestival ou le festival en ligne comme outil de promotion du “jeune cinéma français” à l’international. Dissertação de mestrado, CELSA – Sorbonne, 2018.
    TAILLIBERT, Christel. Festivales y patrimonio cinematográfico en la era digital: La situación francesa. In Secuencias: Revista de Historia del Cine, no. 39, 2015, pp. 83–99.
    ___________. Les nouveaux festivaliers “on line” – Une étude quantitative du public de My French Film Festival, 2015.
    ___________. Online Film Festivals: New Perspectives for Film Festivals on the Internet. International Film Festivals. Contemporary Cutures and History Beyond Venice and Cannes, 2018.