Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    PATRICIA REGINA DOS SANTOS SANTINELLI (UAM)

Minicurrículo

    Mestranda pelo Programa de Pós-graduação Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, com bolsa CAPES, sob orientação da Profa. Dra. Nara Lya Cabral Scabin. Integrante do Grupo de Pesquisa RisoMídia – Representações, Mediações e Humor na Cultura Audiovisual (UAM/CNPq) e associada da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM).

Ficha do Trabalho

Título

    A circulação do filme “Bicho de Sete Cabeças” e a luta antimanicomial

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho discute a circulação do filme “Bicho de Sete Cabeças” (Laís Bodanzky, 2001), partindo, para tanto, da análise de textos midiáticos sobre a obra. Indagamos sobre de que modo as mediações estabelecidas em torno do longa mobilizam (e se mobilizam) discursos relacionados à luta antimanicomial, com destaque para possíveis relações estabelecidas entre a obra e a aprovação da Lei Paulo Delgado (Lei n° 10.216/01), cujo projeto tramitava no Congresso desde os anos 1980.

Resumo expandido

    Este trabalho discute a circulação do filme “Bicho de Sete Cabeças” (Laís Bodanzky, 2001), com base nos conceitos de representação e circuito da cultura como apresentados pelos Estudos Culturais (HALL, 2016; SILVERSTONE, 2002; JOHNSON, 2007; ESCOSTEGUY, 2007), indagando sobre de que modo as mediações estabelecidas em torno do filme mobilizam (e se mobilizam) discursos relacionados à luta antimanicomial.
    Mais especificamente, interessa-nos investigar possíveis relações estabelecidas entre a obra e a aprovação da Lei Paulo Delgado (Lei n° 10.216/01), cujo projeto tramitava no Congresso desde os anos 1980. O corpus da pesquisa abarca matérias jornalísticas publicadas no jornal O Estado de S. Paulo acerca da temática em foco no trabalho, considerando, como período de observação, o intervalo compreendido entre a produção do longa-metragem e a aprovação da Lei Antimanicomial.
    O filme “Bicho de Sete Cabeças” é uma adaptação do livro autobiográfico “Canto dos Malditos” (1990), de Austregésilo Carrano Bueno, e conta a história de um pai que interna o filho em uma clínica psiquiátrica por ter encontrado um cigarro de maconha em sua jaqueta. A obra denuncia as violações de direitos humanos a que os pacientes de instituições psiquiátricas eram submetidos. Vencedor de diversos prêmios, o longa, após a premiação no Festival de Brasília (2000), foi exibido, a pedido do então ministro da Saúde, José Serra, em sessão particular para todo o seu Ministério. Assim, embora a história do livro faça referência à sociedade dos anos 1970, parece-nos fundamental considerar as relações estabelecidas entre o filme, como reflexo e refração, com o pensamento do corpo social do final dos anos 1990.
    Como nos lembra Martín-Barbero (1987) o objeto de estudo adequado às pesquisas em comunicação deve dizer respeito não aos meios em si, mas sim, às mediações estabelecidas entre os meios de comunicação, a sociedade e a cultura. Para Silverstone (2002), de modo correlato, as mediações correspondem a processos de transformação de sentido estabelecidos em diferentes lugares da cultura midiática; dessa forma, torna-se relevante investigar o “diálogo social expandido” estabelecido, em “textos secundários”, em torno de produtos midiáticos.
    A partir dessa perspectiva teórica, delineamos a pergunta de pesquisa que fundamenta o presente trabalho, a saber: o filme “Bicho de Sete Cabeças”, a partir das mediações estabelecidas na circulação entre consumidores, instituições e texto audiovisual, pode ter contribuído para ampliar o debate sobre a política manicomial adotada no país até então, ajudando na aprovação da Lei da Reforma Antimanicomial? Sobre essa possível influência das mídias na sociedade, Silverstone (2002) destaca que é preciso entender os meios como processos ao mesmo tempo políticos e econômicos; como conteúdo e forma; como ideologia; e como palco de lutas pelo controle de instituições e significados, por acesso e participação, por representação. Stig Hjarvard (2014), por sua vez, define como midiatização o processo segundo o qual a lógica da mídia passa a estruturar diversas práticas sociais e culturais: “os estudos de midiatização enfocam o papel da mídia na transformação das relações sociais e culturais”.
    Dessa forma, à luz da midiatização da cultura audiovisual, busca-se analisar se o filme de Laís Bodanzky promoveu um debate para além do seu enredo – um debate sobre a violação de direitos humanos em hospitais psiquiátricos e manicômios, a necessidade de reforma psiquiátrica e sobre a luta antimanicomial. Nesse sentido, cabe observar que, em 2021, a Lei Paulo Delgado completou 20 anos, mas vem sofrendo inúmeros retrocessos, pois o governo federal ampliou os leitos em hospitais psiquiátricos e comunidades terapêuticas e está financiando a compra de aparelhos de eletroconvulsoterapia, agindo contra o sentido do diploma legal. Diante disso, torna-se urgente compreender as representações e mediações da luta antimanicomial a partir da cultura audiovisual.

Bibliografia

    BUENO, A. C. Canto dos malditos. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
    MARTÍN-BARBERO, J. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997
    ESCOSTEGUY, A. C. (2007) Circuitos de cultura/circuitos de comunicação: um protocolo analítico de integração da produção e da recepção. Comunicação, Mídia e Consumo, 11(4), p. 115-135.
    HALL, S. Cultura e representação. Rio de Janeiro: PUC-Rio: Apicuri, 2016.
    HJARVARD, S. A midiatização da cultura e da sociedade. São Leopoldo: UNISINOS, 2014.
    SILVA, Tomaz T. (Org.). O que é, afinal, Estudos Culturais?. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 9-132.
    PRYSTHON, A. F. Stuart Hall, os estudos fílmicos e o cinema. MATRIZes, 10(3), p. 77-88, 2016.
    SILVERSTONE, R. Por que estudar a mídia? São Paulo: Loyola, 2002.
    STAM, R. Introdução à Teoria de Cinema. São Paulo: Editora Papirus, 2000.
    VASCONCELOS, E. M. Reforma psiquiátrica, tempos sombrios e resistência. Campinas: Papel Social, 2018.