Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Caroline de Almeida (UFPE)

Minicurrículo

    Pesquisadora, professora e curadora de cinema. Doutora no programa de pós-graduação em Comunicação na UFPE, com pesquisa centrada no cinema contemporâneo brasileiro. Faz parte da equipe curatorial do Festival Olhar de Cinema/Curitiba desde 2017, e já participou da curadoria do Recifest, da Mostra Sesc de Cinema e da Mostra de Cinema Árabe Feminino.

Ficha do Trabalho

Título

    Pessoas embarcações em filmes no Porto de Santos ontem e hoje

Formato

    Presencial

Resumo

    Porto de Santos, de Aloysio Raulino (1978) colide com Estamos todos aqui, de Chica Santos e Rafael Mellim (2017). Dois filmes que partem de pequenos ou grandes levantes dentro do território do Porto de Santos para elaborar dinâmicas diversas de relação entre câmera e os corpos por ela filmados. As conversas entre esses filmes abrem debates sobre subversões ao “modelo sociológico” (BERNARDET, 2003) e gestos ainda mais radicais de inundar as bordas entre o documental e a ficção.

Resumo expandido

    Porto de Santos, de Aloysio Raulino (1978) colide com Estamos todos aqui, de Chica Santos e Rafael Mellim (2017). Dois filmes que partem de pequenos ou grandes levantes dentro do território do Porto de Santos para elaborar dinâmicas diversas de relação entre câmera e os corpos por ela filmados. As conversas entre esses filmes abrem para um debate maior sobre como Raulino faz enfrentamento ao chamado “modelo sociológico” (BERNARDET, 2003) de alguns documentários brasileiros, e como o filme de Chica Santos e Rafael Mellim cria um gesto ainda mais radical de inundar as bordas entre o documental e a ficção. Entre Escorregão, a figura andrógina que obriga Raulino a lhe filmar dançando, e Rosa Luz, a mulher trans que dobra o roteiro do real, muitas histórias podem ser imaginadas.

    No gesto de criar atrito entre filmes feitos em contextos históricos distintos, mas unidos tanto por um território quanto por corpos desviantes da norma, essa comunicação deseja abrir as questões sobre as transformações do fazer documentário entre o filme de Raulino e o de Chica Santos e Rafael Mellim. Para tanto, a proposta é partir para uma investigação de como esses filmes moldam ou são moldados pelo real que se apresenta diante de suas câmeras e de que forma eles intervêm na elaboração também de um desejo por um outro real, a partir de uma “fabulação crítica” (HARTMAN, 2020) diante dele, produzindo desvios que não negam o documental, mas atuam para modificá-lo de alguma forma. 

    Como fios condutores dessa investigação, coloco no centro do trabalho o corpo movente, dançante, “amante latino”, magnético e andrógino da figura de Escorregão no filme de Raulino e o corpo movente “no corre” de Rosa Luz, uma jovem mulher com esmalte gasto e lama na pele que, assim como Escorregão, controla a câmera, ainda que por métodos distintos. Essas duas pessoas nos ajudam a pensar sobre as negociações entre os filmes e esse real desejado.

    Usando da fortuna crítica elaborada sobre esses dois filmes, a comunicação pretende pensar sobre: 1) o tipo de contrato “documental” que eles firmam porque são grandes as diferenças entre a proposta expositiva de Porto de Santos e a “ficção documental” de Estamos todos aqui; 2) os contextos históricos do cinema brasileiro em que eles se inserem e, naturalmente, 3) as diferenças entre o filmar de fora quando uma equipe chega ao território, mas não é familiar a ele (caso de Porto de Santos), e o filmar de dentro, quando a equipe vive nesse território e sabe caminhar por ele (caso de Estamos todos aqui).

Bibliografia

    ALMEIDA, Carol. Um cinema contemporâneo no desejo de implodir os limites do corpo-cidade. In: EDUARDO, Cleber (org.). O cinema brasileiro em resposta ao país: 2016-2021. Belo Horizonte: Gráfica Rede, 2022.
    BERNARDET, Jean Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
    GALINDO, Bruno. Estamos Todos Aqui, de Chico Santos e Rafael Mellim. Crítica no site Cinefestivais.
    HARTMAN, Saidiya. Vênus em dois atos. Revista ECO-Pós, v. 23, n. 3, p. 12–33, 24 dez. 2020. Tradução: Fernanda Sousa; Marcelo R. S. Ribeiro.
    RIBEIRO, Nathalia; ARAÚJO, João Vitor. Entrevista com Chico Santos e Rafael Mellin sobre Estamos todos aqui: https://medium.com/comcafemeexpresso/chico-santos-e-rafael-mellin-falam-sobre-as-quest%C3%B5es-relevantes-que-os-inspiraram-a-produzir-o-5cdedecc32cd
    VIEIRA JR, Erly. O Porto de Santos (Aloysio Raulino, 1978). Curta brasileiro – 100 filmes essenciais, Ed. Letramento/Canal Brasil, 2019.