Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Cíntia Langie Araujo (UFPel)

Minicurrículo

    Cineasta, pesquisadora e professora de Cinema. Docente no curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) desde 2007. Atualmente coordena o Cine UFPel – a sala de cinema da instituição. Mestre em Comunicação Social (2006) e Doutora em Educação (2020), com tese premiada pela CAPES. Atua na pesquisa acadêmica com ênfase nas questões relativas a cinema e educação, cinematografias periféricas e distribuição alternativa de cinema.

Ficha do Trabalho

Título

    Formação de público e o circuito de exibição de cinema em Misiones/Ar

Seminário

    Cinema e Educação

Formato

    Presencial

Resumo

    A pesquisa interessa-se pela relação entre cinematografias nacionais e seu público e, para tanto, investe em cartografar uma experiência de circulação de cinema na região de Misiones, na Argentina. O objetivo principal é olhar para o trabalho diferenciado que o Instituto de Artes Audiovisuais de Misiones vem realizando, no que se refere a circulação de obras e formação de público e aprender com a expertise dos hermanos para melhor entender a problemática de circulação do cinema brasileiro.

Resumo expandido

    Como pensar em formação de público para cinematografias nacionais nos tempos atuais, em que a difusão de cinema parece ter se firmado nos modelos individualizados do streaming, com um domínio cada vez maior dos filmes estrangeiros? Talvez um dos caminhos possíveis seja a aproximação do conceito de distribuição aos campos da educação e das políticas públicas, voltando-se para iniciativas que operam uma democratização da fruição de cinema e, ao mesmo tempo, um maior e mais amplo acesso aos filmes independentes realizados nos países periféricos, filmes que nem sempre têm fôlego de concorrer com os produtos comerciais.
    Assim, a grande temática desta pesquisa é a relação entre cinematografias nacionais e seu público. De posse de uma experiência de quatro anos pesquisando distribuição alternativa de filmes brasileiros em universidade públicas, pretende-se agora cartografar experiências em um país vizinho que se destaca pela tradição e competência na realização de cinema: a Argentina.
    Desse modo, desejamos operar além dos grandes centros, a fim de entender os processos micropoliticamente, pelas bordas, voltando-se à uma perspectiva fora do eixo, valorizando os vaga-lumes (DIDI-HUBERMAN, 2011), olhando para a América Latina, mais especificamente para a região de Misiones, no interior da Argentina. A escolha desta localidade deve-se ao trabalho diferenciado que o IAAviM – Instituto de Artes Audiovisuais de Misiones vem realizando, uma autarquia estadual cujo objetivo é promover o cinema da região. O Instituto mantém o projeto Mirá IAAviM, um circuito de janelas coordenado pela Gerência de Exibição e Distribuição, que mantém hoje oito salas públicas, algumas gratuitas, em diferentes localidades da região de Misiones, como nas cidades de Oberá e Positos.
    Uma das justificativas para este recorte é a vontade de descolonizar as estruturas hegemônicas da cultura, entendendo a urgência do “abre-te-sésamo” (GOMES, 2016), isto é: a importância de quebrar as barreiras entre público e obra, voltando as pesquisas de educação do cinema para um viés que entende a distribuição como revolução, o acesso como potencializador da experiência estética e a formação de público como liberdade e empoderamento.
    A problemática do cinema latino-americano, hoje, envolve questões políticas, econômicas, mas, sobretudo, uma tradição cultural colonizada, advinda das dificuldades de acesso às obras. Logo, diz respeito à formação de público. “Hoje, em matéria de cinema, o público jovem é antes de tudo um alvo para os negociantes de filmes e produtos derivados que não têm a menor preocupação nem respeito pela formação do gosto das crianças” (BERGALA, 2008, p. 97). Nesse sentido, o objetivo principal do trabalho é investigar como a Argentina vem buscando garantir maior acesso a obras cinematográficas nacionais. Nos interessa colocar em marcha algo que por hora chamamos de “Miradas Hermanas”, isto é, aprender com a experiência dos hermanos latino-americanos para tentar pensar melhor a distribuição e circulação de conteúdos no Brasil.
    Por conta disso, nosso método cartográfico pressupõe uma investida no gesto de viajar, observar e entrevistar. Com inspiração no modus operandi do cinema documental, a pesquisa irá acontecer por meio de deslocamento até a região citada para observar as salas do circuito alternativo e conversar com as pessoas. A pesquisa de campo na região de Misiones já está agendada para ocorrer em julho de 2022, com financiamento da CAPES. Se o primeiro passo para pensar uma formação de público é garantir acesso aos cinemas nacionais, pesquisar e mapear projetos de difusão em outros países torna-se um meio de reunir dados para pensar ações e experiência a serem reproduzidas aqui no Brasil.

Bibliografia

    BERGALA, Alain. A hipótese-cinema. Pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink; CINEAD-LISE/FE/UFRJ, 2008.

    CREMONTE, Juan Pablo (org). Avances y retrocesos en las políticas de comunicación en la Argentina: del consumo a los derechos y de los derechos a la incertidumbre Ciudad Autónoma de Buenos Aires: CLACSO Los Polvorines, 2021.

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobrevivência dos vaga-lumes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

    GOMES, Paulo Emílio Sales. Uma situação colonial? São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

    GONZÁLEZ, Leandro. Exhibición y consumo de cine en la Argentina (1980-2013). Versión. Estudios de Comunicación y Política, núm. 36, pp. 76-88, 2015.

    GONZÁLEZ, Leandro; MANTECÓN, Ana Rosas. Cines latinoamericanos en circulación: en busca del público perdido. México: Universidad Autónoma Metropolitana: Juan Pablos Editor, 2020.