Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Patricia Rebello da Silva (UERJ)

Minicurrículo

    Professora adjunta da Faculdade de Comunicação da UERJ desde 2012. Doutora em Comunicação pela ECO/UFRJ. Membro do comitê de seleção das mostras competitivas do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade (ETV) desde 2007. Membro do conselho deliberativo da Socine (2022-2024). Editora da revista Logos: Comunicação e Universidade, vinculada ao PPGCom/UERJ. Atuação em debates, seminários e mesas com temas relacionados ao cinema documentário e à imagem.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema de contraintes: releituras do dispositivo, do ensaio e da vida

Seminário

    Cinema Comparado

Formato

    Presencial

Resumo

    Pode o cinema ser ocupação em um único frame? Este trabalho atualiza e pensa a noção de filme-dispositivo a partir do jogo de contraintes/constrangimentos propostos pelo grupo Oulipo. No lugar do autor, o contexto como imperativo na estrutura do jogo. Notadamente, interessa pensar os procedimentos das “contraintes” a uma noção de cinema “mise en abyme”: a recusa de um recorte baseado na expressão de sensibilidades na abordagem do objeto, a noção de filme-dispositivo atualizada.

Resumo expandido

    Pode o cinema ser ocupação em único frame? Em 2020, nos primeiros dias da pandemia, o diretor Pawel Lozinski resolve testar os limites do cinema em meio à azáfama, exercício de resistência e sobrevivência, instalando uma câmera na varanda de seu apartamento. Nos limites desse confinamento, a eficácia de uma estrutura que se desdobra justamente das dificuldades em se adaptar da melhor maneira possível a uma série de constrangimentos e procedimentos que se encaixam uns nos outros. Espaço de confissão tornado diálogo, tornado performance e que se metaboliza em criação, “O filme da sacada” (2020) a um só tempo atualiza e reforça a noção de “filme-dispositivo”, além de iluminar esse fazer como possibilidade de invenção de futuro.
    Uma discussão sobre a noção de filme-dispositivo como “uma maquinação que implica a ausência de controle do diretor sobre o material filmado, propiciando uma espécie de “retirada estética” não propriamente do filme (…)” (LINS, 2007), mas das imagens e sons do filme, ganha fôlego renovado em meados dos anos 2000 a partir da identificação de uma série de obras que projetam o documentário para uma sofisticada reflexão do próprio processo como narrativa (entre outros, “33”, de 2002; “Lá-bas”, de 2006; “Sábado a noite”, de 2007; “Moscou”, de 2009 e “24 Frames”, de 2017). Nos últimos dois anos, as limitações e restrições impostas pela pandemia se transformaram, para certos realizadores, em condições e regras para a produção de filmes. Nesse contexto, os desafios de linguagem típicos dessa forma de cinema se transformaram, literalmente, em desafios de vida.
    No desdobramento de investigações apresentadas no ano passado em torno da incorporação da pausa e do silêncio como recurso narrativo no filme ensaio, nos parece interessante tensionar as experiências do dispositivo no documentário contemporâneo aos procedimentos do grupo Oulipo, a oficina literária que surge na França, nos anos 1960 com propostas de libertação da literatura, interessadas em romper com uma visão nítida do “poeta inspirador”. No lugar do autor, o contexto como imperativo na estrutura do jogo. Notadamente, interessa pensar os procedimentos das “contraintes” a uma noção de cinema “mise en abyme”: a recusa de um recorte baseado na expressão de sensibilidades na abordagem do objeto, tomando como objeto de estudos filmes interessados explicitamente, bem mais do que em uma ideia ou um tema, em uma ruptura dos termos, capaz de iluminar o processo como ideia. Ou, como nos termos do Oulipo, um texto “produzido na condição de um desafio, materializado sob uma restrição formal” (PEREIRA, 2012).

Bibliografia

    DUNCAN, Dennis. The Oulipo and Modern Throught. UK: Oxford University Press,
    PEREIRA, Vinícios Carvalho. A escrita do jogo: desafios e contraintes na literatura do Oulipo. outra travessia, n12, 2012, UFSC
    JONES, Graham & WOODWARD, Ashley (org). Cinemas: Lyotard’s philisopy of film. Edinburgh, Edinburgh University Press, 2017.
    LINS, Consuelo. Tempo e Dispositivo no documentário de Caso Guimarães. In Devires, vol 4 n2, 2007.
    LIANDRAT-GUIGUES, Suzanne & GAGNEBIN, Murielle (org). L’essai et le cinéma. Paris: Champ Vallon, 2004.
    MIGLIORIN, Cezar. Eu sou aquele que está de saída: dispositivo, experiencia e biopolítica no documentário contemporâneo. Tese 2008.
    OLIVEIRA JR., Luiz Carlos. A mise-en-scène no cinema: do clássico ao cinema de fluxo. SP: Papirus, 2013.
    ORTEGA, María Luisa & WEINRICHTER, Antonio (org). Mystère Marker: pasajes en la obra de Chris Marker. Madrid: T&B Editores, 2006.
    VEIGA, Roberta. A estetica do confinamento: o dispositivo no cinema contemporâneo. Tese 2008.