Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    NINA VELASCO E CRUZ (UFPE)

Minicurrículo

    Professora do Departamento de Comunicação da UFPE, fazendo parte do curso de cinema e do Programa de Pós-Graduação dessa instituição. Possui diversas publicações na área, tendo como tema de pesquisa as relações de hibridismo entre fotografia, cinema e artes visuais.

Ficha do Trabalho

Título

    Gesto e política em Faz que Vai (2015)

Mesa

    Corpo, gesto e política no audiovisual contemporâneo

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho “Faz que vai” (2015), de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, será analisado a partir do conceito de gesto (AGAMBEN). Pretende-se discutir como a relação entre o fixo e o estático na obra desses artistas promove uma imagem gestual em que o corpo se coloca como lugar de potência e resistência política.

Resumo expandido

    Ao apresentar a ideia de “entre-imagem”, Bellour evoca a potência do congelamento da imagem no cinema, chamada por ele “tomada fotográfica do filme” (BELLOUR, 1997, p. 13) e percebe uma coincidência entre a invasão do fotográfico no cinema da virada da década de 60 e as transformações que surgiram com a imagem eletrônica do vídeo nas décadas seguintes. Esse conceito, que pode parecer datado, já que possui quase três décadas (o livro foi publicado pela primeira vez em 1990) passa a ter sua acepção renovada na contemporaneidade pelos atravessamentos entre as tecnologias da imagem cada vez mais presentes na contemporaneidade (FATORELLI, 2013). Hoje, estamos diante de uma miríade de possibilidades de hibridizações entre fotografia, cinema, vídeo e digital (entendido aqui como a imagem de síntese, e não como suporte) e falar da especificidade de cada meio se torna anacrônico e pouco produtivo. É nesse contexto que as passagens entre as imagens fixas e as imagens em movimento se proliferam, tanto nas práticas vernaculares (os smartphones estão recheados de aplicativos que transformam pequenos vídeos em fotografias e vice-versa) como nas produções da indústria do entretenimento e nas práticas artísticas.
    Barbara Wagner, fotógrafa brasiliense radicada em Recife, tem tido cada vez mais visibilidade no campo da arte contemporânea e nos festivais de cinema. Comumente associado ao documental, seu trabalho, no entanto, pode ser inserido na tendência de “imagem performada” descrita por Michel Poivert (2010). A partir de 2011, Bárbara Wagner passa a trabalhar com Benjamin de Burca explorando mais diretamente a interseção entre a imagem fixa e a imagem em movimento. Além das séries de fotografias que continua produzindo, sempre lidando com o universo popular e com o gênero do retrato, Bárbara produz com essa parceria algumas instalações de vídeo e filmes curta metragens em que o corpo e o movimento são colocados em primeiro plano através de retratos audiovisuais.
    ‘Faz que vai’ (2015) aproxima o frevo de outros ritmos populares, no caso o funk, a dança vogue, o stilleto e a swingueira. Tendo tido conhecimento de que muitos passistas de frevo profissionais preferiam, em seus tempos livres, dançar ao som de músicas da cultura pop, a artista propôs um dispositivo para um grupo de quatro bailarinos. A proposta era que seus personagens executassem diante da câmera de vídeo uma performance de frevo em diálogo com outro ritmo, sem nenhuma música, apenas com a marcação temporal de um metrônomo (com variações de velocidade para cada um). Na edição, uma música para cada performance foi composta por músicos da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério , de forma que se encaixasse com seus passos. Os dançarinos tiveram liberdade de escolher livremente também os adereços e roupas que queriam. As tomadas partem sempre de um enquadramento aberto em que o personagem ocupa o espaço central, de corpo inteiro. Como em um retrato em movimento, poucos efeitos de montagem são utilizados. Além dos vídeos, o trabalho também possui um complemento impresso de quatro fotografias lenticulares, em que a imagem é impressa numa fusão de camadas que causa a impressão de movimento, o que ressalta a importância da relação entre o estático e o movimento nesse trabalho.
    O título “Faz que vai” remete a um passo de frevo inspirado em um golpe de capoeira. A dinâmica do vai não vai, do drible, do blefe, é encenada em alguns passos de frevo, dança que teve origem no século XIX. Alguns historiadores apontam que o frevo teria surgido em brigas de capoeira entre grupos de escravos que acompanhavam bandas em desfiles militares durante o carnaval. A dança, aqui, assim como no samba das favelas do Rio, surge não apenas como expressão de alegria e espontaneidade, mas também como forma de luta e resistência à condição de marginalidade imposta a certos corpos.

Bibliografia

    AGAMBEM, G. “Notas sobre o gesto” In: Meios sem fim: notas sobre a política. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2017.
    ____________. “Kommerell, ou do gesto”. In: A potência do pensamento: ensaios e conferências. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2015.
    ____________. “Por uma ontologia e uma política do gesto”. In: Caderno de Leituras, n. 76, Editora Chão da Feira, abr. 2018.
    BELLOUR, R. Entre-imagens: foto, cinema, vídeo. São Paulo: Papyrus, 1997.
    MAIA, A. M. “A dança que desafia o retrato”. In: Select, ed. 28, 01/03/2016. Disponível em: https://www.select.art.br/a-danca-que-desafia-o-retrato/
    POIVERT, M. La Photographie Contemporaine. Paris: Flammarion, 2010.
    _____________ « Notes Sur l´Image Performée » In : Les Tableaux vivants ou l´image performée. Catálogo co-editado pelo INHA (Institut National d´Histoire de l´Art) e Mare &Martin, 2015.
    VERAS, L. “Faz que vai: versões para dança do frevo” In: Revista Continente, 01 de junho de 2015.