Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Jansen Hinkel Molineti Tavares (UAM)

Minicurrículo

    Graduado em Cinema e Vídeo pela Faculdade de Artes do Paraná (UNESPAR). Mestre e doutorando (bolsista Capes) pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Audiovisual da Universidade Anhembi Morumbi (PPGCOM-UAM). Pesquisa as narrativas fílmicas da região do Oriente Médio. É integrante do Grupo de Pesquisa Imagens em Conflito: Estética e Política no Cinema do Oriente Médio (GRUPIC) e autor dos livros “Paragrafias” (2020) e “Se o tempo não fechar nós iremos ao cinema” (2021).

Ficha do Trabalho

Título

    Afeganistão e a Guerra no Cinema de Atiq Rahimi

Mesa

    Imagens em conflito: estética e política no cinema do Oriente Médio

Formato

    Remoto

Resumo

    A comunicação apresenta a análise de dois filmes do escritor e cineasta afegão Atiq Rahimi: “Terra e Cinzas” (2004) e “A Pedra da Paciência” (2012), livros homônimos do próprio autor. As obras retratam o povo do país e os efeitos da guerra, singularizados em personagens que precisam continuar a vida após o contato com a extrema violência. A partir dos filmes pretende-se elaborar uma discussão sobre a realidade do Afeganistão e as escolhas estéticas do cineasta.

Resumo expandido

    Atiq Rahimi é um escritor e cineasta do Afeganistão, nascido em Cabul em 1962. Fugiu de seu país em 1984 rumo ao Paquistão e obteve asilo político na França. Sua literatura e cinema refletem tanto a experiência do próprio exílio quanto a realidade afegã, onde o jihad, a guerra e os conflitos políticos fazem parte do cotidiano do país. Suas histórias se concentram em personagens vítimas da guerra a partir de uma abordagem poética e metafísica, onde a religião islâmica e os costumes aparecem de forma crítica e intimista, construindo assim através da ficção retratos identitários e políticos sobre o povo do Afeganistão.
    O presente trabalho analisa dois filmes de Atiq Rahimi: “Terra e Cinzas” (2004) e “A Pedra da Paciência” (2012). Ambos os filmes são adaptações de romances escritos pelo próprio autor, sendo os filmes tanto propostas estéticas de cinema de autor quanto uma visão íntima e particularizada da história política do país, esta apresentada nas figuras de personagens que precisam lidar com as marcas da guerra na tentativa de recomeçar a vida.
    Em “Terra e Cinzas”, um avô e seu neto atravessam as paisagens áridas do Afeganistão após a invasão soviética, à procura de Murad, pai do menino. A aldeia onde eles viviam foi incendiada pelo exército russo e, como únicos sobreviventes, precisam chegar até Murad e contar o ocorrido. Nessa jornada, o velho senhor precisa encontrar a melhor forma de avisar seu filho que toda a família está morta e que só restaram ele e a criança. Nesse filme, baseado no conto homônimo escrito pelo cineasta (RAHIMI, 2002), a travessia do velho e da criança que carregam uma triste notícia para o destino final da viagem é onde o retrato do povo afegão se manifesta por uma abordagem audiovisual que intercala o realismo cinematográfico com intervenções poéticas e oníricas. Dessa forma, utilizando símbolos, flashbacks e imagens do sonho, o cineasta retrata a experiência da guerra no audiovisual.
    Em “A Pedra da Paciência”, um homem se encontra em estado vegetativo, abandonado pelos irmãos e pelos membros do Jihad. Preso a uma cama, e cuidado por sua esposa, o soldado aguarda a morte enquanto a mulher, perdida em memórias e no silêncio, divaga sobre questões da vida como a infância, a dor, a solidão, Deus e os sonhos. Por meio de suas palavras para o marido, ela busca uma forma de recomeçar a vida, a esperar pacientemente a recuperação ou a morte de seu marido. Esta espera, a “pedra da paciência” do título, define a atmosfera silenciosa da personagem, decodificada por enquadramentos fixos em locação interna. Confinada numa casa parcialmente destruída por bombardeios, ela tem apenas sua imaginação e linguagem para continuar sã.
    A proposta do trabalho, por meio da análise fílmica, é entender as narrativas sob o ponto de vista da metafísica (ou seja, as escolhas estéticas do cineasta que tratam de uma dura realidade a partir de códigos poéticos e simbólicos), a recortar tal questão para cada filme e obra literária. Também é objetivo discutir teoricamente a adaptação de um romance para o audiovisual no que compreende a metafísica tanto na jornada do avô e neto pelas estradas do Afeganistão (“Terra e Cinzas”); quanto na personagem que só tem a fala e a memória para dividir com o marido em estado vegetativo na busca por um recomeço (“A Pedra da Paciência”). Por fim, a comunicação se baseia na realidade do Oriente Médio e nas formas audiovisuais que um dos cineastas da região elegeu para contar, através do cinema, sua experiência com os conflitos de seu país natal.

Bibliografia

    AL-MARASCHI, I.; GOLDSCHMIDT JUNIOR, A. Uma História Concisa do Oriente Médio. Petrópolis: Vozes, 2021.
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    LINHARES, M. Y. Oriente Médio e o Mundo dos Árabes. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982.
    RAHIMI, A. A Pedra da Paciência. São Paulo: Estação Liberdade, 2009.
    RAHIMI, A. Terra e Cinzas. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.
    SHAKIB, S. Deus Veio ao Afeganistão e Chorou. Rio Tinto: Editora Grafiasa, 2001.
    STAM, R. A Literatura Através do Cinema: realismo, magia e a arte da adaptação. Belo Horizonte: UFMG, 2008.