Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Welton Florentino Paranhos da Silva (ECA/USP)

Minicurrículo

    Tom Paranhos é ator e pesquisador. Mestrando em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP onde pesquisa o trabalho do performer em plataformas on-line. Pós-graduado em Técnica Klauss Vianna (PUC/SP) e graduado em Letras (FFLCH/USP). Formado nos cursos de Introdução ao Método do Ator do CPT/SESC e de Atuação da SP Escola de Teatro. Trabalha regularmente como ator e performer em espetáculos presenciais. Nos últimos dois anos tem se dedicado a criações em plataformas on-line.

Ficha do Trabalho

Título

    A emergência das plataformas on-line como espaço de encenação

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação apresenta um estudo do espetáculo teatral A última cena [epitáfios] (2021) dirigido por Flávia Melman, realizado em plataforma on-line no contexto de pandemia. A proposta de encenação em plataforma on-line é objeto de reflexão a partir de teorias próprias dos dois campos de trabalho – o presencial e o on-line. A discussão destaca as mudanças paradigmáticas no campo das artes cênicas que impactaram a arte de encenar.

Resumo expandido

    Esta comunicação aborda a realização de encenações teatrais em plataformas on-line no contexto de pandemia. Para investigar encenação em plataformas on-line é proposta a descrição de um experimento realizado na plataforma Zoom durante o período de isolamento: A última cena [epitáfios] (2021) dirigido por Flávia Melman. O espetáculo apresenta quatro homens (atores e não atores) que, por meio de conversas entre si e com o público, tratam de suas experiências diante de um tema tabu que encontra eco na circunstância de pandemia: o medo de morrer. A partir deste experimento é investigada a encenação em plataformas on-line por meio da discussão de referenciais teóricos próprios dos dois campos de trabalho – presencial e on-line. Nessa perspectiva, são colocadas em diálogo as concepções de encenação de Patrice Pavis e Janet Murray, respectivamente. Para além de definir encenação como ordenamento e arranjo no tempo e no espaço de diferentes elementos entre eles cenário, iluminação, música e atuação, Pavis pauta as relações do encenador com os demais artistas (atores, dramaturgos, cenógrafos) abordando, inclusive, relações entre teatro, mídia e tecnologia e suas reverberações sobre noções como “ao vivo” e presença. O autor afirma que os verdadeiros desafios do teatro como arte ao vivo, vêm das mídias audiovisuais, especialmente a partir da década de 1980 devido aos impactos do audiovisual na percepção do espectador. Janet Murray destaca a potência de gerar encantamento e prazer em ambientes eletrônicos se traduzem a partir do aproveitamento de conceitos como imersão e agência. Na experiência de imersão está presente a sensação de envolvimento por uma realidade estranha que se apodera de todo o nosso sistema sensorial com abundância de estímulos sensoriais, acesso irrestrito às emoções, sentimentos mágicos, transe liminar, testes de durabilidade e limites de encantamento. Ao comparar experiências eletrônicas e presenciais, a autora adverte que em formatos narrativos tradicionais há um subaproveitamento da agência, sendo comum o público ganhar uma posição de figuração em uma cena, distantes do núcleo central da trama e que os enredos são projetados para se desenvolverem de um modo fixo independentemente da participação da audiência. Para abordar o ambiente das plataforma on-line e suas especificidades é adotada a perspectiva de Carlos D´Andrea. O uso de plataformas por artistas durante a pandemia atinge um ápice e incorpora de maneira mais ou menos eficiente as dimensões de convívio, produção, criação, transmissão e recepção de produtos culturais. Neste sentido o termo “plataformização” é evocado por D´Andrea para explicar as relações de crescente dependência do setor cultural cujo mercado passou por uma profunda transformação. A discussão avança para uma reflexão sobre como a pandemia catalisou mudanças paradigmáticas no campo das artes cênicas que impactaram noções como a de encenação e sobre como tais mudanças indicam a necessidade de aprofundamento do conhecimento e do manejo dos recursos tecnológicos pelos artistas do palco.

Bibliografia

    ANDREA, Carlos D. Pesquisando plataformas on-line: Conceitos e métodos. Salvador: EDUFBA, 2020.
    BASTOS, Marcus; MORAN, Patrícia. Audiovisual ao vivo – Tendências e conceitos. São Paulo: Intermeios, 2020.
    MURRAY, Janet H. Hamlet no Holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço. São Paulo: Itaú Cultural: Editora Unesp, 2003.
    MURRAY, Janet H. Inventing the medium: principles of interaction design as a cultural practice. Cambridge: The MIT Press, 2012.
    PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. São Paulo: Perspectiva, 2008.
    PAVIS, Patrice. A encenação contemporânea. São Paulo: Perspectiva, 2010.