Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Luciana Corrêa de Araújo (UFSCar)

Minicurrículo

    Pesquisadora, professora na graduação e na pós-graduação em Imagem e Som da Universidade de São Carlos (UFSCar). Mestre e Doutora pela ECA/USP, é autora dos livros “A crônica de cinema no Recife dos anos 50” (1997) e “Joaquim Pedro de Andrade: primeiros tempos” (2013). Entre outros trabalhos, colaborou na “Enciclopédia do cinema brasileiro” (2000) e no primeiro volume do livro “Nova história do cinema brasileiro” (2018).

Ficha do Trabalho

Título

    Lia Torá em Hollywood: atriz, argumentista, produtora

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação irá abordar as relações transnacionais na carreira de Lia Torá em Hollywood, entre 1927 e 1931. Além de trabalhar como atriz, escreveu junto com o marido Julio de Moraes o argumento de “The Veiled Woman” (1929), no qual interpreta a protagonista, e formou com Moraes a Brazilian Southern Cross Productions, que produziu “The Soul of a Peasant”/“Alma camponesa” (1929), dirigido por Moraes e escrito e estrelado por Torá.

Resumo expandido

    No período do cinema silencioso, Lia Torá é uma das poucas mulheres que, além de atriz, também formou produtora própria, a exemplo de Carmen Santos, Cléo de Verberena e Eva Nil. Sua carreira no cinema também ganha particular interesse por ter se desenvolvido quase inteiramente em Hollywood, exceto por uma participação especial, já em 1971, no filme “As confissões de Frei Abóbora”, dirigido por Braz Chediak.

    Depois de ganhar a edição brasileira do Concurso de Beleza Fotogênica Feminina e Varonil, promovido pela Fox no Brasil e também no Chile, Argentina, Espanha e Itália, Lia Torá seguiu para Hollywood em 1927, onde permaneceu até 1931. Teve pequenos papeis em algumas produções e chegou a estrelar “A mulher enigma”/“The Veiled Woman” (Emmet Flynn, 1929), do qual também é co-autora do argumento, junto com seu marido Julio de Moraes. Também em 1929 eles formaram a produtora Brazilian Southern Cross Productions, que realizou um único filme, “The Soul of a Peasant”/“Alma camponesa” (1929), dirigido por Moraes e escrito e estrelado por Torá. Ambientada numa aldeia em Portugal, a produção foi filmada em locações nos arredores de Hollywood e nos estúdios da Tec-Art, companhia especializada em locação de estúdios e equipamentos a produtores independentes. Embora tenha sido realizado depois que o contrato de Lia Torá com a Fox havia se encerrado, “The Soul of a Peasant” contou com equipe e elenco (com atores brasileiros, italianos e um americano) que eram em parte formados por profissionais que costumavam trabalhar na Fox. Com a chegada do cinema sonoro, Lia Torá passou a ser escalada sobretudo para versões espanholas de produções dos estúdios norte-americanos. No final de 1931, ela estava de volta ao Rio de Janeiro, mas não daria continuidade à carreira no cinema.

    A trajetória de Lia Torá, que começou sua carreira artística na Espanha, integrando a companhia de revistas Velasco, exemplifica bem uma série de práticas e circulações transnacionais que ocorriam naquele momento. Pode-se destacar desde o sucesso das turnês brasileiras de companhias de revistas estrangeiras, como a Velasco e a Bataclan, passando pelos concursos internacionais realizados pela Fox, em busca de novos astros latinos, até a realização das versões que mobilizavam as comunidades de artistas estrangeiros em Hollywood. Esses artistas não só atuavam como também produziam seus próprios filmes. Neste sentido, “The Soul of a Peasant” se aproxima de produções como “Sei tu l’amore?” (1930), primeiro filme sonoro italiano, mas produzido em Hollywood, com direção de Agostino Borgato, um dos atores de “The Soul of a Peasant”, e também de “Hunger/Fome” (1929), estrelado, escrito e dirigido por Olympio Guilherme, ganhador do concurso da Fox, junto com Lia Torá. Compreender as relações transnacionais que viabilizaram a carreira de Lia Torá no cinema americano, como atriz, argumentista e produtora, é um dos objetivos desta comunicação.

Bibliografia

    Goulart, Isabella Regina Oliveira. “Perdidos na tradução: as representações da latinidade e as versões em espanhol de Hollywood no Brasil (1929-1935)”. Tese de Doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2018.

    Goulart, Isabella Regina Oliveira. “A ilusão da imagem: o sonho do estrelismo brasileiro em Hollywood”. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2013.

    “Retrospectiva Lia Torá”. Rio de Janeiro: Cinemateca do Museu de Arte Moderna/Clube de Cinema do Rio de Janeiro/Secretaria de Turismo do Governo da Guanabara, 1970.

    Suk, Lena Oak. Beauty in Black and White? Race, Beauty, and the 1926 Fox Film Photogenic Beauty Contest in Brazil. “Latin American Research Review”, 54(4), 2019, p. 909-926.