Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro de Alencar Sant’Ana do Nascimento (UFBA)

Minicurrículo

    Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia. Mestre e Bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense. Membro do Nanook, núcleo de pesquisa em cinema documentário, integrante do grupo de pesquisa LAF (Laboratório de Análise Fílmica). Pesquisa narrativas que envolvem imagens de violência racista.

Ficha do Trabalho

Título

    The Show: considerações sobre a exibição da violência racista

Formato

    Remoto

Resumo

    Traremos reflexões trazidas pelo cineasta Cruz Angeles em seu curta-metragem The Show (2003), no qual ele questiona a persistente exibição em museus de imagens de linchamentos produzidas pelos linchadores e, por extensão, a exibição da imagem de violência racista no geral. Buscamos articular tais reflexões com conceitos como o de dispositivo de visibilidade (RANCIÈRE, 2012) e gramática da violência (HARTMAN, 2020).

Resumo expandido

    Nesta apresentação, traremos reflexões trazidas pelo cineasta Cruz Angeles em seu curta-metragem The Show (2003), no qual ele questiona a persistente exibição em museus de imagens de linchamentos produzidas pelos linchadores e, por extensão, a exibição da imagem de violência racista no geral. Buscamos articular tais reflexões com conceitos como o de dispositivo de visibilidade (RANCIÈRE, 2012), visível (MONDZAIN, 2009), gramática da violência (HARTMAN, 2020) e imagem de atrocidade (SÁNCHEZ-BIOSCA). Argumentamos que a partir de The Show é possível pensar também na espetacularização de imagens de linchamento contemporâneas: os vídeos de violência policial (como sugerido em BALTHASER, 2016), em especial em sua presença deslocada de um contexto urgente de denúncia. Esse deslocamento é elemento chave na nossa argumentação de que diferentes contextos de exibição da imagem de violência racista requerem diferentes considerações sobre a própria ética da exibição. Ou seja, buscamos argumentar que tais imagens não podem ser vistas como dadas à reprodução independente do contexto ou da forma dessa reprodução.

    O filme mostra duas sequências separadas por décadas: o linchamento de um homem negro no sul dos Estados Unidos, e a exibição da fotografia do linchamento em uma exposição em museu. Essas imagens representavam o homem negro como inferior, mas também eram uma autorepresentação do homem branco enquanto Homem, nos termos de Wynter (2003) e do homem negro enquanto outro. O interesse de Cruz Angeles parece ser em questionar de diferentes formas o olhar do espectador do museu, e por consequência o nosso olhar como espectadores do filme, mas também – e aqui está nosso ponto de maior interesse – o próprio ato de produzir imagens a partir desse arquivo da violência e de autorepresentação da supremacia racial.

    Questionar o tornar visível, ou os dispositivos de visibilidade, supõe de fato falar em
    ética. Nesse sentido, The Show se insere num grupo amplo de autores e obras que propuseram
    fazer esse tipo de questionamento. O museu, ou qualquer outro espaço (físico, virtual,
    audiovisual) é encarado como “dispositivo que regula o estatuto dos corpos” (RANCIÈRE, 2012, p. 96) por Angeles, e que sobre essa regulação operam, aparentemente – porque há o recurso de
    montagem – questões importantes de natureza ética.

Bibliografia

    BALTHASER, Benjamin. Racial Violence in Black and White: Lynching Photography and
    the Documentation of Police Violence. Boston Review, jul. 2016.

    HARTMAN, Saidiya. Vênus em dois atos. Revista ECO-Pós, [S. l.], v. 23, n. 3, p. 12–33,
    2020.

    MONDZAIN, Marie-José. A imagem pode matar? Lisboa: Nova Vega, 2009.

    RANCIÈRE, Jacques. A imagem intolerável. In: O espectador emancipado. São Paulo:
    Editora WMF Martins Fontes, 2012. p. 83–102.

    SÁNCHEZ-BIOSCA, V. Imagens de atrocidade e modalidades do olhar: questões de método.
    In: MORETTIN, E. et al. (orgs.). Cinema e história: circularidades, arquivos e experiência
    estética. Porto Alegre: Sulina, 2017. p. 396–438.

    WYNTER, S. Unsettling the Coloniality of Being/Power/Truth/Freedom: Towards the
    Human, After Man, Its Overrepresentation–An Argument. CR: The New Centennial
    Review, v. 3, n. 3, p. 257–337, 2003.