Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcele Sales Alves Gomes (UERJ)

Minicurrículo

    Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atualmente, é mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), sendo bolsista CAPES.

Ficha do Trabalho

Título

    Herança do ensaio literário no filme-ensaio

Formato

    Remoto

Resumo

    A partir de reflexões sobre o ensaio literário e o filme-ensaio, o intuito deste trabalho é compreender como a herança da literatura têm forma na realização de filmes ensaístas. O ensaio literário possui diversas características que são vistas, também, no cinema, apesar de não existir uma única forma de fazer o filme-ensaio. Além da pesquisa bibliográfica, foi realizada uma análise fílmica de Carta da Sibéria (1957), a fim de analisar elementos do ensaio no filme.

Resumo expandido

    A literatura, em sua forma atemporal, se apresenta como herança em diversos aspectos culturais que conhecemos. O filme-ensaio é mais do que uma produção cinematográfica ordinária, pois ele apresenta elementos ensaísticos que possuem um legado da própria literatura, colocando o ensaio literário em perspectiva para a construção dos filmes ensaístas.
    Elaborar um ensaio não é apenas escrever de forma fluída, mas oferecer uma reflexão sobre um determinado tema. Por isso, se vê a importância da compreensão de como as narrativas do filme-ensaio são construídas com influências do ensaio literário. O objetivo é investigar a herança que essa forma de literatura deixou para a construção de filmes e, a partir de ideias de Aumont e Marie (2013), realizar uma análise fílmica de Carta da Sibéria (1957), de Chris Marker, para a compreensão de como a escrita literária adotada pelo realizador se mistura com imagens e sons, formando um filme-ensaio contemplativo.
    A escolha deste filme para a análise possui duas justificativas. A primeira está diretamente relacionada a importância da figura de Chris Marker para o filme-ensaio e a segunda justificativa evidencia as importantes características dessa produção, como a linguagem adotada no filme, em conjunto com outros elementos importantes dessa obra, como as imagens e vídeos proporcionados pelo realizador.
    A herança do ensaio literário é observada, em Carta da Sibéria (1957), na história epistolar, contada em primeira pessoa. Marcado pela voz em off, a carta é percebida logo no início do filme: “Estou te escrevendo esta carta de uma terra distante. Seu nome é Sibéria”. Narrada em formato de um diário de um viajante, a história apresenta, de maneira subjetiva, as experiências e relatos do realizador sobre um lugar perdido e como ele se encontra. Apesar de em alguns momentos a escrita se assemelhar a uma poesia, a narração está em formato de prosa, sendo essa uma das características que descreve o ensaio literário, de acordo com Bense (2018).
    A imagem é uma peça importante para fornecer determinadas emoções (BELLOUR, 1997), pois a estrutura visual é tão importante quanto a textual, mostrando a importante relação entre fala e imagem que constrói o filme-ensaio (CORRIGAN, 2015). O filme, portanto, é uma mistura de texto (narrativa) com imagens e vídeos, produzidas pelo próprio realizador. Na contribuição cinematográfica, o filme apresenta as imagens como uma mistura entre o real e o ficcional, proporcionando emoção à história, porém, mantendo a narração, com a voz em off, como elemento principal, enquanto as imagens (foto, vídeo ou animações) e efeitos sonoros complementam a experiência do realizador.
    Weinrichter (2007) descreve que as noções de filme-ensaio são diversas e, muitas vezes, não são colocados em uma categoria única. O autor ainda acrescenta que a noção de filme-ensaio conhecida hoje provém a partir dos anos oitenta, justamente a partir de alguns filmes de Godard, Marker e Farocki. No entanto, o filme-ensaio não pode ser considerado apenas um documentário, pois a sua principal característica está no caráter experimental, como vemos no filme Carta da Sibéria (1957), no qual a experiência do realizador aborda assuntos reais e serve o propósito de discutir as suas próprias ideias. A visão sobre os acontecimentos e descrições apresentadas no filme é do próprio Chris Marker.
    Realizar ensaios, seja na literatura ou no cinema, são singulares, por serem marcados pela subjetividade, pois o ensaio é feito para causar emoções em quem está assistindo, não é idealizado como uma escrita fechada, e sim, como algo variável e baseado em experiência (ADORNO, 2003). Dessa maneira, Carta da Sibéria (1957) mostra acontecimentos que trabalham com interpretações do passado, apresentado conflitos de uma terra distante. Esse sentimento conflitante é apresentado em uma combinação entre imagem e palavra, permitindo que o espectador possa ter suas interpretações sobre os acontecimentos da Sibéria.

Bibliografia

    ADORNO, Theodore. “O ensaio como forma”, In Notas de literatura I. São Paulo: Duas
    Cidades/Editora 34, 2003.

    AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. A análise do filme. Lisboa: Texto & Grafia, 2013.

    BELLOUR, Raymond. Entre-imagens: foto, cinema, vídeo. Tradução de Luciana A. Penna. Campinas, SP: Papirus, 1997.

    BENSE, Max. O ensaio e sua prosa. In PIRES, Paulo Roberto (org). Doze ensaios sobre o ensaio: antologia serrote. São Paulo: IMS, 2018.

    CORRIGAN, Timothy. O filme ensaio: desde Montaigne e depois de Marker. Campinas, SP: Papirus, 2015.

    CORRIGAN, Timothy. Essayism and contemporary film narrative. In PAPAZIAN, Elizabeth A.; EADES, Caroline (orgs). The Essay Film: dialogue, politics, utopia. London & New York: Wallflower Press, 2016.

    WEINRICHTER, Antonio. Un concepto fugitivo: notas sobre el film-ensayo. In La forma que piensa: tentativas en torno al cine-ensayo. Festival Internacional de Cine Documental de Navarra, 2007.