Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Gustavo Soranz (UFPA)

Minicurrículo

    Doutor em multimeios pela Unicamp. Professor visitante no Programa de Pós-Graduação em Artes da UFPA. Graduado em Rádio e TV e mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia. Publicou artigos sobre cinema na Amazônia e documentário em livros e revistas nacionais e internacionais. É membro do Núcleo de Antropologia Visual, da Universidade Federal do Amazonas (NAVI/UFAM) e do Grupo de Pesquisa Documentação e Experimentação em Sistemas Audiovisuais, da Unicamp.

Ficha do Trabalho

Título

    Clichês visuais sobre a Amazônia no cinema narrativo estrangeiro

Formato

    Remoto

Resumo

    Apresentaremos o corpus de filmes do projeto de pesquisa A Amazônia (re)imagina no cinema, que se debruça sobre filmes narrativos estrangeiros que tematizaram a região, à partir do qual indicaremos clichês visuais identificados e uma proposta de sua sistematização à partir das categorias Oriente, Selvagem e Natureza (SANTOS, 2008), a fim de demonstrar como a Amazônia foi frequentemente representada no cinema a partir de um senso comum de estereótipos cristalizados sobre a região.

Resumo expandido

    Historicamente, analistas em diversos campos do conhecimento têm se debruçado sobre as representações da Amazônia em diferentes áreas, das ciências naturais à filosofia, passando pelas artes e pela mídia, a fim de interpretar as interpretações recorrentes sobre a região (ALMEIDA, 2008). Em resumo, podemos dizer que as visões e narrativas sobre a Amazônia continuam a elaborar representações sobre a região marcadas por dualismos como a velha oposição entre inferno verde/paraíso na Terra, com vários níveis de requinte, reinvenção ou fabulação. São noções elaboradas a partir de um conjunto relativamente limitado de ideias, que foram se acumulando e se adensando desde as crônicas de viagem dos séculos passados, se estendem para reflexões de pensadores lapidares da modernidade, chegando aos discursos artísticos e midiáticos contemporâneos. Grosso modo, podemos dizer que nesses discursos a Amazônia segue sendo um lugar mítico e imaginário, sem história e fora da história.
    Entre os discursos modernos sobre a Amazônia, consideramos que o cinema pode ser tomado como um domínio privilegiado para refletir sobre como as narrativas acerca da região repetem tais convenções habituais, historicamente elaboradas e culturalmente reproduzidas há tempos, contribuindo por atualizar e perpetuar estas para públicos contemporâneos em nível mundial, em função de ser o cinema narrativo hegemônico um produto destinado ao consumo por essas audiências amplas e massivas. Atualmente desenvolvo o projeto de pesquisa A Amazônia (re)imagina no cinema, no PPGARTES da UFPA, onde utilizo o cinema como meio de reinterpretar a Amazônia, a partir de uma abordagem crítico-reflexivo-experimental sobre um determinado corpus de filmes narrativos que a tematizaram, de modo que tal conjunto permita demonstrar como esta foi frequentemente representada no cinema adotando um senso comum de estereótipos cristalizados sobre a região, com ênfase para as categorias de Oriente, Selvagem e Natureza (SANTOS, 2008), que servem de chaves analíticas para as dimensões da experiência de exclusão colonial e imperial em relação ao chamado Novo Mundo.
    A pesquisa em andamento realiza um esforço de análise e revisão crítica do corpus de filmes, à luz de um arcabouço teórico transdisciplinar, com aportes de autores dos campos da teoria social e da teoria da arte, a fim de levantar subsídios para a elaboração de uma experimentação estética na forma de um longa-metragem, montado somente com imagens de filmes de ficção comerciais estrangeiros que tematizaram a região, ressignificando suas imagens em novos arranjos de articulação espaçotemporais, como uma espécie de intervenção artística sobre o cinema comercial hegemônico, subvertendo e reinventando seu discurso sobre a Amazônia, de modo a desvelar simbologias subjacentes em suas estruturas, oferecendo ao final um filme reflexivo sobre a região, obtido totalmente pelo desvio e alteração dos sentidos originalmente propostos pelo material de origem.
    Apresentaremos o corpus de filmes selecionados no projeto de pesquisa A Amazônia (re)imagina no cinema, relacionando quais os clichês visuais foram identificados e como foram sistematizados, à luz das categorias Oriente, Selvagem e Natureza (SANTOS, 2008). Tal sistematização indica as linhas de força e os caminhos sobre os quais será elaborado o filme resultante da pesquisa, que buscará promover um gesto artístico de apropriação desse determinado conjunto de imagens e sons, ao modo de um falso found-footage sobre a região. Um filme experimental e reflexivo, resultante da revisão e deslocamento dos signos que sustentam o discurso do cinema hegemônico sobre a Amazônia, desvelando os simbolismos subjacentes a suas formas e estruturas narrativas, inventando um discurso outro sobre ela.

Bibliografia

    ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Antropologia dos archivos da Amazônia. Rio de Janeiro: Casa 8/FUA, 2008.
    BENJAMIM, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 8ª Ed. Revista. São Paulo: Brasiliense, 2012.
    BOURRIAUD, Nicolas. Pós-produção: como a arte reprograma o mundo contemporâneo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
    GONDIM, Neide. A invenção da Amazônia. São Paulo: Marco Zero, 1994.
    MISEK, Richard. Trespassing Hollywood: property, space, and the “appropriation film”. October, Cambridge, nº 153. p. 132-148, 2015.
    PINTO, Renan Freitas. Viagem das ideias. Manaus: Editora Valer/Prefeitura de Manaus, 2006.
    PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru, SP: EDUSC, 1999.
    RUSSEL, Catherine. Archiveology: Walter Benjamin and archival film practices. Durham: Duke University Press, 2018.
    SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2008.