Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Vitória Garcia Galhardo (UNESP)

Minicurrículo

    Doutoranda e mestra em Comunicação na “Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho” (UNESP-Bauru). Pesquisadora sobre cinema e estética cinematográfica com foco nas correntes epistemológicas dentre os estudos das audiovisualidades. Como foco de trabalho, investiga como o cinema pode potencializar a experiência do espectador junto a imagem, por meio da estética, narrativa e dos discursos sociais, intimistas e de excessos.

Ficha do Trabalho

Título

    Sensorialidade e hapticidade nas imagens de “Le corps sublimé” (2007)

Formato

    Remoto

Resumo

    Através das correntes fenomenológicas dos estudos do cinema, observamos a importância da experiência háptica do espectador. Proponho investigar através do filme “Le corps sublime” (2007) de Jérôme de Missolz, como as imagens são potenciais hápticos da experiência. Considero que as noções sensíveis de tocar, sentir e degustar as imagens estão inseridas em um contexto individualizado do sujeito, mas também, composto de configurações sociais que conduzem as sensibilidades por meio da cultura.

Resumo expandido

    Podemos observar que diversos estudos apontam a potencialidade epistemológica do cinema como um espaço dos saberes e do sentir, um foco fundamental na experiência do espectador. Experiência essa, que vai além da representatividade e dos discursos da imagem, mas que afetam o espectador em suas noções sensíveis. Imagens que estimulam por meio das sensibilidades, das emoções, do tocar, sentir e degustar.
    Sabemos que as imagens conseguem proporcionar experiências hápticas. Como investiga Laura U. Marks, o conceito de háptico é marcado pelo fenômeno da experiência do espectador em poder sentir através das imagens. Ao relacionar-se com o filme, as sensações tencionadas no próprio corpo do sujeito tornam-se primordiais para os entendimentos do sentido da narrativa do filme (MARKS, 2000). Deslocamos um pensamento sobre as significâncias da imagem, de um sentido racional para uma dimensão devida e essencialmente material e corpórea.
    Proponho investigar através do filme, “Le corps sublimé” (2007) de Jérôme de Missolz, como essas dimensões sensíveis podem ser exploradas nas imagens do cinema. Viso elencar um filme que aborda dimensões corporais e íntimas, permeadas por elementos visuais e sonoros que dimensionam uma experiência sensível. Tendo que, filmes que abordam imagens íntimas, compostas por corpos dos personagens, detalhes do espaço, elementos em close-up, uma trilha sonora imersiva, entre outros elementos visuais e sonoros, proporcionam potencialidades para a experiência. Como alude Erly Vieira Jr (2020), são a fusão de elementos fílmicos que determinam e aguçam as sensibilidades, para ele, a dimensão háptica, tátil e de proximidade frisam o aspecto profuso da estética e tornam as imagens mais presentes e intensas (VIEIRA JR, 2020).
    As noções táteis e hápticas durante a experiência com a imagem são consideradas aqui, não apenas como uma dimensão particular do sujeito. Entendo, através do fabuloso trabalho de David Le Breton (2021), que estamos inseridos em culturas que configuram as sensibilidades dos sujeitos e que cada aspecto da cultura infere como as pessoas fruem suas experiências sensíveis. Como cito, “o mundo sensível é a tradução em termos sociais, culturais e pessoais […] uma percepção sensorial do homem inscrito em uma trama social” (LE BRETON, 2021, p. 29). Penso na importância de explorar a imagem como um espaço que proporciona experiências subjetivas e também, sensibilidades pertencentes aos nossos comportamentos e instituições culturais.
    Em análise, as sensorialidades são tencionadas durante a experiência através das imagens íntimas do filme. A presença dos elementos de nudez e a composição das fotografias elaboradas pelos personagens destinam uma relação corpórea expressiva. Podemos dizer, que através das corporalidades na imagem, o espectador pode emocionalmente se reconhecer e, através das relações sensíveis, se posicionar como um sujeito presente às angústias e intimidades dos personagens (SOBCHACK, 2004). Sendo assim, em síntese, as sensibilidades do toque no filme estão relacionadas a pele, o degustar aos elementos de composição das fotografias: como as brilhantes enguias ou as frutas. As emoções do espectador vagam pela melancolia e aos aspectos culturais da morte prematura de Francesca. Assim como, a delicadeza e a intimidade carnal com os elementos que constituiu suas fotografias.
    Por fim, podemos considerar que os elementos fílmicos utilizados na narrativa de “Le corps sublimé” (2007), são essenciais para pensarmos as sensorialidades. Assim como, as noções corpóreas e os discursos sociais que permeiam o filme, conduzem uma trama social em que a arte estava inserida no final da década de 70, quando a artista produziu suas fotografias. Atualmente temos que a experiência com o nu e o íntimo, podem provocar também, sensorialidades em novas configurações sociais permeadas pela constante, e às vezes minimamente menos opressivas, transformações culturais.

Bibliografia

    MARKS, Laura U. The Skin of the Film: Intercultural Cinema, Embodiment, and the Senses. 1. ed. Durham; Londres: Duke University Press, 2000. 298 p.
    _____________. Touch: Sensuous theory and multisensory media. 1. Ed. Mineápolis: University of Minnesota Press, 2002. 259 p.
    LE BRETON, David. Antropologia dos sentidos. 3. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2021. 546 p.
    SILVA, Salif Diallo Agues da Cruz. Do paradigma do ver ao do tocar: o devir háptico na criação artística contemporânea. 2016. 286 p. Tese (Doutorado) – Universitat Politècnica de València, Valência, 2016.
    SOBCHACK, Vivian. Carnal thoughts: Embodiment and moving image culture. Los Angeles: Univ of California Press, 2004. 328 p.
    VIEIRA JR, Erly. “Por uma exploração sensorial e afetiva do real: esboços sobre a dimensão háptica do cinema contemporâneo”. In: MELLO, Cecília (Org.). Realismo Fantasmagórico. São Paulo: Coleção CINUSP, 2015.
    ____________. Realismo sensório no cinema contemporâneo. 1. ed. Vitória: Edufes, 2020. 240 p.