Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Lisandro Nogueira (ufg)

Minicurrículo

    Sou professor de cinema na Universidade Federal de Goiás desde 1989. Mestre em Cinema e Televisão pela Escola de Comunicações e Artes da USP.

    Doutor em Cinema e jornalismo pela PUC/SP, professor do programa de Pós-Graduação do Mestrado/Doutorado em Performances Culturais da Faculdade de Ciências Sociais da UFG e professor da Faculdade de Informação e Comunicação da UFG.

    Coordenador de comunicação do Centro de Estudos Brasileiros da UFG (CEB-UFG)

    Membro do Comitê Cientifico da Socine

Coautor

    Victor Hugo de Carvalho Caldas (UFG)

Ficha do Trabalho

Título

    As séries de TV – a complexidade de uma nova narrativa

Formato

    Presencial

Resumo

    As series são a única contribuição da TV-Streaming para a arte ocidental? essa pergunta faz sentido a partir do momento em que as series passam a ocupar um espaço privilegiado na grade de programação com formatos variados. O objetivo da pesquisa é observar, no pêndulo entre seguir padrões narrativos dentro da indústria audiovisual e “criar” para além das normas impostas, se as series conseguem reunir características para obter um “estatuto de arte” – semelhante ao cinema moderno.

Resumo expandido

    Há alguns anos, as séries têm ampliado a sua popularidade em todo o mundo. Os espectadores desse tipo de narrativa se multiplicaram e se impuseram como consumidores com grande força no cenário atual da produção audiovisual. Em diferentes contextos, o mercado tem se organizado para atender a uma demanda crescente por novas séries, e também nas Faculdades e Departamentos de Comunicação há movimentos no sentido de entender todos os aspectos possíveis do fenômeno. No já clássico livro A Cultura da Convergência, Henry Jenkins (2008) comenta os diferentes caminhos pelos quais as narrativas de séries podem ser estudadas, sublinhando a sua importância para entender o comportamento notadamente ativo e participativo do espectador atual.
    O despertar global para as narrativas seriadas ganhou impulso nos anos 1990, quando obras de fôlego apareceram na TV americana e se transformaram em êxitos mundiais. Entendemos que o alto padrão narrativo que se conhece hoje não é uma novidade, mas sim um aprimoramento que começou a ser gestado nos anos 1980, período “marcado por uma profusão de novas séries, os chamados ‘dramas de qualidade’” (STARLING CARLOS, 2006, p. 26). Ainda hoje, o mercado da ficção seriada continua aquecido e não dá sinais de estagnação. Observando esse cenário, Martin (2014) afirma que estamos vivendo uma terceira era de ouro da TV-Streamingt, devido ao alto nível de qualidade que diversas séries alcançaram ao longo das décadas de 1990 e 2000, com destaque para o apuramento das produções e o rebuscamento dos roteiros, que resultaram em obras ricas e narrativamente complexas.
    Há uma cultura das séries na atualidade que estabelece três condições para a investigação do sucesso das ficções seriadas nas últimas duas décadas. A primeira é a dimensão da forma, que é “ligada tanto ao desenvolvimento de novos modelos narrativos, quanto à permanência e à reconfiguração de modelos clássicos, ligados a gêneros estabelecidos como a sitcom, o melodrama e o policial” (SILVA, 2013, p. 03). A segunda se refere aos contextos tecnológicos, considerando sobretudo o advento do processamento digital de dados, tanto na parte da produção como na parte do consumo, que estimulou a circulação das séries e mudou o hábito de assisti-las para muito além do tradicional modelo de difusão televisiva. A terceira, por fim, diz respeito à experiência dos espectadores com as narrativas seriadas, e chama a atenção para aspectos como as comunidades de fãs (fandom studies), as diferentes formas de engajamento ou a criação de espaços noticiosos e críticos dedicados às séries, com ou sem a participação das empresas e agentes criadores ou exibidores.
    O grande salto gestado pela televisão, hoje disseminado nas mais variadas plataformas, é o poder de se criar uma tapeçaria de histórias e de personagens que antes seria inconcebível em qualquer outro meio. Portanto, não soa exagerado uma ligeira comparação das séries com os romances e com o cinema moderno. Nos dois, detalhes ganham importância bem devagar em padrões repetidos de ação, muito mais que no modo imediato de outros formatos visuais. “É esse sentindo de densidade, construído ao longo de um período de tempo contínuo, que nos oferece um significado completo de um mundo inteiramente criado por um artista” (Carlos, 2006, p.36). Se, como sustenta Thompson (1997), “as séries são a única contribuição estética da TV para a arte ocidental” (p.32), é porque o meio engendrou um tipo de história que só pode ser contado nos seus próprios termos ou seja, no formato seriado e na televisão.

Bibliografia

    BOURDAA, Melanie. Quality Television: construction and de-construction of seriality. In: GÓMEZ, Miguel A. Pérez (org.). Previously On: Estudios Interdisciplinarios Sobre la Ficción Televisiva em la Tercera Edad de Oro de la Televisón. Sevilla: Biblioteca da la Facultad de Comunicación de la Universidad de Sevilla, 2011.
    CARLOS, Cássio Starling. Em tempo real: Lost, 24 Horas, Sex and The City e o impacto das novas Séries de TV. São Paulo: Alameda, 2006.
    ESQUENAZI, Jean-Pierre. As Séries Televisivas. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2011.
    JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2008.
    MARTIN, Brett. Homens Difíceis: os bastidores do processo criativo de “Breaking Bad”, “Família Soprano”, “Mad Men” e outras séries revolucionárias. São Paulo: Aleph, 2014.
    NEWMAN, Michael Z. From Beats to Arcs: Toward a Poetics of Television Narrative. The velvet light trap, n. 58, Texas: University of Texas Press, 2006. P. 16-28.