Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Cazes Costa (UFF)

Minicurrículo

    Doutor em Letras-Estudos de Literatura pela PUC-Rio. Professor Adjunto do curso de Produção Cultural da UFF em Rio das Ostras. Fez estágio pós-doutoral no PPGCine da UFF, sob a supervisão da professora Mariana Baltar, pesquisando os gêneros cinematográficos no cinema de Juliana Rojas e Marco Dutra. Coordenador do cineclube Cinema Brasileiro de Gênero, projeto de extensão na UFF. Pesquisa a utilização das convenções genéricas no cinema/audiovisual brasileiro contemporâneos.

Ficha do Trabalho

Título

    Mistura de gêneros em Sintonia: estratégias genéricas e streaming

Formato

    Presencial

Resumo

    Sintonia é uma ficção seriada brasileira, exibida pelo streaming de vídeos Netflix. Nele a série é indexada aos seguintes gêneros: brasileiro; séries policiais; séries teen. Este trabalho tem por hipóteses: a mistura de gêneros narrativos existente em Sintonia assemelha-se àquela existente no cinema hollywoodiano desde a época áurea dos estúdios até hoje, a fim de atingir um escopo de público amplo; os streamings de vídeos por assinatura criam os seus próprios rótulos genéricos.

Resumo expandido

    Sintonia é uma ficção seriada brasileira, exibida pelo site de streaming de vídeos por assinatura Netflix. Narra a história de três amigos da periferia de São Paulo, Doni, Nando e Rita. Foi criada por Kond, proprietário da produtora de conteúdo Kondzilla, que atua nas áreas do audiovisual e da música. Os episódios de Sintonia são escritos por diversos roteiristas, com Kond fazendo o papel de showrunner da ficção seriada. Foram exibidas, até o momento em que escrevo este resumo, duas temporadas de Sintonia, cada uma com seis episódios, cada episódio com uma duração média de quarenta e um minutos. No Netflix a série é indexada aos seguintes gêneros: brasileiro; séries policiais; séries teen.
    Este trabalho tem por hipóteses: a mistura de gêneros narrativos existente em Sintonia, a partir dos enredos protagonizados por seus três protagonistas, assemelha-se àquela existente no cinema hollywoodiano (ALTMAN, 1999) e (STAIGER, 2003), desde a época áurea dos estúdios (SCHATZ, 1991), permanecendo até os dias de hoje. O objetivo da mistura de gêneros, em ambos os casos, é buscar agradar e alcançar espectros mais amplos de público; os sites de streaming de vídeos por assinatura, como o Netflix, criam os seus próprios rótulos genéricos (ALTMAN, 1999), como brasileiro, a fim de se comunicar melhor seus produtos a seus públicos.
    Na época áurea dos estúdios de Hollywood (SCHATZ, 1991) a produção de longas-metragens não se orientava pela filiação a um gênero “puro” (STAIGER, 2003) e, sim, partia do princípio da mistura de gêneros (ALTMAN, 1999). O objetivo dessa mistura de gêneros era conseguir alcançar públicos os mais diversos possíveis para um mesmo filme, prática que, de forma geral, permanece até os dias de hoje. A não ser em momentos nos quais a produção de Hollywood busca se aproveitar de algum gênero que esteja fazendo muito sucesso (ALTMAN, 1999). Nos dias de hoje essa estratégia de produção é aplicada, por exemplo, aos filmes de super-heróis da Marvel.
    A questão dos gêneros no cinema/audiovisual está associada a uma forma de produção industrial (AUMONT; MARIE, 2009). No entanto, houve algumas experiências de cinema de gênero no Brasil. Há pesquisas importantes sobre o cinema policial (FREIRE, 2011), o horror (CÁNEPA, 2008), a chanchada (AUGUSTO, 2005), etc. De forma geral o debate que havia em torno de gêneros como a chanchada, a pornochanchada, etc. era de desvalorização por parte dos intelectuais à época, sendo, hoje, revisitados e, muitas vezes, revalorizados por novos estudos acadêmicos. (RAMOS; SCHVARZMAN, 2018).
    Sintonia se utiliza da mistura de gêneros a partir de sua estrutura dramatúrgica, que consiste no entrelaçamento das narrativas de seus três protagonistas, cada uma correspondendo a determinado (s) gênero (s) narrativo (s). Os protagonistas de Sintonia e seus gêneros são: Nando (crime), Rita (drama) e Doni (musical). Essa mistura de gêneros, a nosso ver, aumenta o escopo de público a ser alcançado por Sintonia, criando três narrativas distintas interligadas pela amizade dos protagonistas e a sua transformação de adolescentes em adultos.
    O substantivo brasileiro (FREIRE, 2011), utilizado pelo site de streaming Netflix em relação à ficção seriada Sintonia para definir os gêneros aos quais pertence, não faz sentido do ponto de vista narrativo, do texto em si da ficção seriada. Entretanto, ao pensar nos gêneros a partir da ideia de que são, também, instrumentos de comunicação (ALTMAN, 1999) e rótulos (ALTMAN, 1999) que se “colam” aos produtos audiovisuais para melhor divulgá-los, o brasileiro faz sentido. Para o público brasileiro consumidor do audiovisual produzido no Brasil, brasileiro é, na maioria das vezes, um substantivo e não um adjetivo. Os sites de Streaming procuram criar as suas próprias etiquetas genéricas para se comunicar melhor com seus públicos e a utilização de brasileiro como substantivo faz sentido a partir do entendimento desse processo.

Bibliografia

    ALTMAN, Rick. Film/Genre. Londres, BFI, 1999.
    AUGUSTO, Sérgio. Este mundo é um pandeiro.A chanchada de Getúlio a JK. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
    AUMONT, Jacques; MARIE, Michel.Dicionário crítico e teórico de cinema. Campinas: Papirus, 2006.
    CÁNEPA, Laura. Medo de quê? Uma história do horror nos filmes brasileiros. 2008. 498 f.Tese. (Doutorado em Multimeios)-Unicamp, Campinas, 2008.
    FREIRE, Rafael de Luna. Carnaval, Mistério e Gângsters:o filme policial no Brasil (1915-1951). 2011. 504.f. Tese (Doutorado em Comunicação, imagem e informação)-UFF, Niterói, 2011.
    RAMOS, Fernão Pessoa; SCHVARZMAN, Sheila. (orgs.)Nova história do cinema brasileiro. v. 1 e 2. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018.
    SCHATZ, Thomas. O gênio do sistema.A era dos estúdios em Hollywood. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
    STAIGER, Janet. Hybrid or Inbred: The Purity Hypothesis and Hollywood Genre History.In: GRANT, Barry Keith (org.). Film genre reader III. Austin, University of Texas Press, 2003.