Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Angelita Maria Bogado (UFRB/UFSCar)

Minicurrículo

    Pós-doutoranda no Departamento em Artes e Comunicação da UFSCar (DAC/UFSCar) sob supervisão da Profa. Dra. Josette Monzani. Docente do Centro de Artes, Humanidades e Letras da UFRB. Pesquisadora/Coordenadora do Grupo de Estudos em Experiência Estética: Comunicação e Artes – GEEECA/UFRB. Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA. E-mail: angelitabogado@ufrb.edu.br

Coautor

    Scheilla Franca de Souza (PPGCOM/UFRB)

Ficha do Trabalho

Título

    A origem é o alvo: imagens que tocam o futuro do lado de cá

Seminário

    Cinemas pós-coloniais e periféricos

Formato

    Presencial

Resumo

    Fazem parte desta gira imagens forjadas em uma estética anticolonial, em que o corpo deixa de ser alvo e se apresenta como corpo-memória. Inspirado no movimento do Samba de Roda, uma imagem convoca a outra para o centro da roda. Entendemos que essa circularidade potencializa a aparição do corpo-memória, seus saberes, suas temporalidades e põe para circular sua força vital, o axé. As imagens dos territórios periféricos alçam voo sem deixar o chão e juntas praticam um futuro ancestral.

Resumo expandido

    No estado autoritário, desde os idos de Cabral, flechas e balas não são perdidas, têm alvo certo. Vamos mobilizar um conjunto de imagens em que o corpo deixa de ser alvo e se apresenta como corpo-memória que antecipa outros futuros. O corpo-memória, que foi sequestrado dos seus territórios de origem, é o guardião de saberes e gestos ancestrais. De geração em geração, de fragmento em fragmento, saltando entre os tempos, o corpo da/em cena performa a transmissibilidade das experiências e age sobre o tempo. “A origem é o alvo” (Ursprung ist der Ziel), o verso de Karl Kraus aparece na epígrafe da tese XIV, de Walter Benjamin (1994, p. 229); seguindo estes rastros, convocamos as palavras de Kraus para refletir, em imagens recentes, o duplo sentido de sua sentença: o tempo sequencial e sem ruptura da branquitude e o tempo em forma de arco, múltiplo e circular, da cultura afro-diaspórica.
    Inspiradas nas ideias de Rufino acerca das encruzilhadas (2019), propomos um método de circulação, leitura e fabulação das imagens que vibram em outra lógica. Do cruzamento das cenas surge um corpo-coletivo (ALVES JUNIOR, SOUZA, BOGADO, 2021), que carrega a força praticada nas margens como forma de denunciar e transgredir as epistemologias brancas de um mundo binário e linear. O movimento de cruzar as imagens, trazido por nós, segue a lógica de uma expressão cultural que nasceu no Recôncavo da Bahia: o Samba de Roda. Datado do século XVII, trata-se de um estilo musical que combina música, dança e poesia e foi alçado, pela UNESCO, à Patrimônio Imaterial da Humanidade, em 2008. A gira ganhou o mundo. Os corpos que bailam se reúnem em um círculo, chamado de roda. No centro gravitacional da roda, um corpo dança em destaque. Após algum tempo, por meio de um movimento nomeado de umbigada, o corpo que baila no centro convida outro para performar em seu lugar, em continuidade. O Samba de Roda em si já é uma encruzilhada, por enlaçar a cultura regional com os saberes corpóreos dos povos africanos em diáspora. A partir da poética do cruzo, o corpo da cena/em cena dá a ver outras formas de ser/saber. O método de fazer circular essas imagens, como corpos que dançam, neste trabalho, é inspirado no movimento da umbigada, em que uma imagem convoca a outra para o centro da roda. Entendemos que essa forma de aproximar as imagens potencializa a aparição do corpo-memória, seus saberes, suas temporalidades e põe para circular a força vital, o axé.
    Fazem parte desta gira imagens forjadas em uma estética anticolonial dos filmes marvin.gif Part II (Marvin Pereira, 2020) e Ilha (Ary Rosa e Glenda Nicácio), dos videoclipes Dai a César o que é de César (2021), Cleane (Criolo y Tropkillaz, 2021) e Era uma vez Liliane (2022) e do videopoema Para ser pipa (Marvin Pereira e Breno Silva, 2020). Como uma força gravitacional, uma imagem atrai a outra, dando a ver similaridades e diálogos entre si. Por vezes, os cacos imagéticos parecem ter sido retirados de um mesmo filme – revelando repetições ao narrar, em contextos periféricos distintos (Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Ilha Grande). A circularidade das imagens – seja pelo gesto das personagens ou pela mise-en-scène – promove o descentramento das experiências circunscritas a um indivíduo localizado e constroem um corpo-coletivo. As imagens, quando aproximadas, retiram o alvo das costas das populações periféricas e juntas praticam um futuro ancestral, uma dimensão temporal que extrapola os domínios da “separabilidade, sequencialidade e determinabilidade” (FERREIRA DA SILVA, 2019).

Bibliografia

    ALVES JUNIOR, Francisco; SOUZA, Scheilla Franca de; BOGADO, Angelita. “O Amor Não Cabe em Um Corpo?”: O Engajamento Espectatorial pela Experiência Familiar/comunitária e Imagens de Libertação. In: ANAIS DO 44º CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO. Disponível em: https://portalintercom.org.br/anais/nacional2021/resumos/dt7-ep/francisco-alves-junior.pdf Acesso em 20 abr. 2022.
    BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. SP: Brasiliense, 1994.
    RUFINO, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas. RJ: Mórula, 2019.
    FERREIRA DA SILVA, Denise. A Dívida Impagável. SP: Ed. Oficina de Imaginação Política e Living Commons, 2019.
    FERREIRA DA SILVA, Denise. Um fim para “este” mundo: entrevista de Denise Ferreira da Silva na revista Texte Zur Kunst, 2019. Disponível em: https://revistadr.com.br/posts/um-fim-para-este-mundo-entrevista-de-denise-ferreira-da-silva-na-revista-texte-zur-kunst/. Acesso em 02 fev. 2022.