Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    João Paulo Pinto Wandscheer (PUCRS)

Minicurrículo

    Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Atualmente, pesquisa sobre cinema queer brasileiro. Tem experiência como ator há aproximadamente quatro anos. Também é professor do Instituto de Idiomas Yázigi, atuando no ensino de Língua Inglesa e Espanhola.

Ficha do Trabalho

Título

    Sexo e o Cinema Queer Brasileiro: uma análise do filme Corpo Elétrico

Formato

    Remoto

Resumo

    Resultado de uma dissertação que estuda a conexão entre homossexualidade e cinema queer brasileiro, este trabalho consiste em uma análise das cenas de sexo no longa-metragem Corpo Elétrico (2017), dirigido por Marcelo Caetano. Serão analisadas aproximações entre atitudes dos protagonistas Elias e Wellington com o termo queer, o qual não apenas se distancia do conceito de assimilação, como também acaba por tensionar a heterossexualidade como uma sexualidade dominante e a imposição da monogamia.

Resumo expandido

    Resultado de uma dissertação publicada em abril de 2022 através do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da PUCRS, este trabalho consiste em uma análise das cenas de sexo do filme Corpo Elétrico (2017), dirigido por Marcelo Caetano. Serão analisadas aproximações das atitudes dos protagonistas Elias e Wellington com o termo queer nas cenas de sexo que ocorrem no longa-metragem.
    Nossa compreensão do conceito de queer está embasada no pensamento de Louro (2018), a qual explica que o termo consiste em um vocábulo da língua inglesa que significa “estranho” e foi historicamente utilizado para ofender pessoas que não fossem heterossexuais. Entretanto, a expressão passou a ser utilizada por teóricos e militantes não apenas com o objetivo de se afirmarem politicamente, mas também para se referirem a gays, lésbicas, bissexuais e pessoas trans que se distanciam do que podemos entender como assimilação.
    Conforme Lacerda Júnior (2015), a assimilação pode ser compreendida como uma reivindicação de homossexuais por tolerância e igualdade entre indivíduos homo e heterossexuais, tendo como horizonte a inserção de homossexuais à sociedade predominantemente heterossexual. Contudo, a perspectiva política assimilacionista estaria em desacordo com estratégias liberacionistas, uma luta que, segundo Lacerda Júnior (2015), não somente sublinha diferenças entre pessoas homo e heterossexuais, como também reivindica a legitimidade de viver tais diferenças.
    A perspectiva política liberacionista orientou, segundo relata Lacerda (2015), movimentos sociais estadunidenses que utilizavam o termo queer durante o fim da década de 80 e não apenas combatiam a negligência do governo em relação ao avanço de casos de HIV/Aids, mas também rejeitavam estratégias assimilacionistas. Percebemos portanto – ao longo da história das lutas políticas – um distanciamento entre o termo queer e o assimilacionismo, bem como uma conexão com o liberacionismo.
    Lacerda Júnior (2015) todavia entende que perspectivas políticas assimilacionistas não deixam de promover contribuições como, por exemplo, o rompimento com as noções de anormalidade, doença e abjeção associados à homossexualidade. Entretanto Lacerda Júnior (2015) também ressalta que o assimilacionismo acaba por esbarrar em contradições e limites uma vez que a identidade gay vem a ser mais facilmente assimilável quando está relacionada a homens cisgêneros brancos pertencentes à classe média alta que não apenas possuam comportamentos que socialmente correspondam ao gênero masculino, mas também vivenciem um núcleo familiar centrado em um casal monogâmico – o que gera uma nova exclusão de indivíduos homossexuais que não correspondam a esse perfil.
    Nagime (2016) destaca que – assim como a heterossexualidade – a monogamia também é compulsória na sociedade e que combater ambas as formas de imposição consiste em questões relevantes à luta queer. Desestabilizar e questionar conceitos rígidos em relação à sexualidade inclusive são atitudes que Nagime (2016) associa ao conceito de queer.
    Em Corpo Elétrico, é possível perceber – através das cenas de sexo – um distanciamento em relação à monogamia. O protagonista Elias se envolve com Wellington ao longo do filme sem uma preocupação por parte dos personagens em estabelecer um conceito definido e rígido para o vínculo que estão construindo. Elias e Wellington inclusive participam de uma orgia com outras duas pessoas após uma noite de festa.
    Os protagonistas transam pela primeira vez em uma festa que ocorre na casa de Anderson, um dos colegas da fábrica onde trabalham e que os flagra enquanto se beijam e trocam carícias. Esse é um momento no qual podemos perceber que, além da raiva de vê-los transando em seu quarto, o preconceito consiste em uma camada que compõe a fúria de Anderson. As cenas de sexo em Corpo Elétrico apresentam um tensionamento de preconceitos em relação a homossexuais e ainda vêm a desestabilizar a heterossexualidade como uma sexualidade dominante da sociedade.

Bibliografia

    GUERIN, Daniel. A revolução sexual. São Paulo: Brasiliense, 1983.
    LACERDA, Chico. New Queer Cinema e o cinema brasileiro. In: MURANI, Lucas; NAGIME, Mateus (org). New Queer Cinema: cinema, sexualidade e política. Caixa Cultural, 2015. p. 120 – 125.
    LACERDA JÚNIOR, Luiz Francisco Buarque de. Cinema gay: políticas de representação e além. 2015. 187 f. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2015.
    LOPES, Denilson. Afetos, relações e encontros com filmes brasileiros contemporâneos. São Paulo: Hucitect, 2016.
    LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho. Belo Horizonte: Autêntica, 2018.
    MARCONI, Dieison. Ensaios sobre autorias queer no cinema brasileiro contemporâeneo. 2020. 142 f. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2020.
    NAGIME, Mateus. Em busca das origens de um cinema queer no Brasil. 2016. 170 f. Dissertação (Mestrado em Imagem e Som) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2016.