Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Gabriel de Souza e Costa (UTP)

Minicurrículo

    Mestrando bolsista PROSUP/CAPES em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), com especialização em Metodologia do Ensino de Artes e Metodologia do Ensino de História. Graduado em Gastronomia, Fotografia e com Formação Pedagógica em Artes Visuais. Membro do Grupo de Pesquisa Comunicação, Imagem e Contemporaneidade (CIC / PPGCOM-UTP). Atualmente pesquisando assuntos relacionados à memória e ao cinema.

Ficha do Trabalho

Título

    Titanic: pensamentos sobre a relação entre história, memória e ficção

Formato

    Remoto

Resumo

    Este trabalho é um recorte de pesquisa de mestrado e tem o objetivo de investigar a interligação entre história, memória e ficção que instigam uma reflexão acerca de suas participações no cinema, especificamente no filme Titanic (1997). Para tal, uma pesquisa bibliográfica foi realizada com base nos materiais e ideias de Hayden White, Paul Ricoeur, Robert Rosenstone, Marc Vernet, Walter Lord e a produção de James Cameron.

Resumo expandido

    Este trabalho é parte do desenvolvimento de minha dissertação de mestrado sobre a memória de personagens ficcionais na narrativa de fatos históricos no cinema, sendo o objetivo neste recorte buscar relações entre história, memória e ficção. Para tal, foi realizada uma pesquisa bibliográfica com base nos textos e conceitos de Hayden White, Paul Ricoeur, Robert Rosenstone, Marc Vernet, Walter Lord e na produção de James Cameron.
    Utilizando uma mistura de fatos e ficção o diretor James Cameron construiu uma narrativa baseada nas memórias da personagem ficcional Rose Dawson, uma sobrevivente do Titanic que relata os acontecimentos já em sua velhice. Entre as fontes utilizadas para desenvolver seu filme está o texto Uma Noite Fatídica de Walter Lord, um livro escrito nos anos 1950 essencial sobre o desastre desenvolvido a partir de pesquisas e entrevistas com sobreviventes reais do naufrágio que inspirou, também, Somente Deus por Testemunha (1958), outro importante filme sobre o caso.
    Para compreender como ocorre a relação entre história, memória e ficção é interessante iniciar com o entendimento acerca da narrativa histórica, sendo relevante então analisar os textos do historiador White que parte do pressuposto de que relatos históricos não são livres da interpretação de quem os descreve (WHITE, 1992). Nesse prisma, é possível perceber que quem escreve a história não deixa de ser suscetível ao meio em que vive, ou seja, escreve aquilo que julga ser relevante. Neste ponto o trabalho de White é criticado por supostamente eliminar a “verdade” como princípio do historiador sendo o relativismo exposto responsável por um negacionismo perigoso que colocaria em dúvida a confiabilidade dos escritos. Todavia, essa justificativa poderia ser refutada já que nenhum historiador é realmente capaz de descrever todos os fatos e de todos os ângulos.
    Ricoeur traz a memória como uma das bases da história, defendendo sua importância indo contra a sua diminuição a simples objeto de estudo, em outras palavras, a memória é valorizada como um recurso da construção historiográfica, uma fonte importante a ser considerada ao se formular um conceito (OLIVEIRA, 2011). O pensamento de Ricoeur se assemelha ao de White ao apontar a impossibilidade de se lembrar de tudo e no que diz respeito a necessidade de alguém para contar a história, tendo em vista que o passado por si só nada significa (LISBOA, 2018). Rosenstone se aproxima dos dois autores ao colocar como equivalentes historiadores profissionais e cineastas por ambos interpretarem a história ao realizar “concepções” do passado, não existindo assim uma só verdade, mas sim diferentes formas de narrar, contudo acredita que imagens e palavras não trabalham da mesma maneira (DIAS, 2015), desta forma, Rosenstone acredita na necessidade de historiadores compreenderem as funções de cenas e personagens ficcionais nas narrativas cinematográficas.
    Nesse aspecto, Vernet (2012) acrescentaria outro ponto para reflexão quando expressa que todos os filmes são ficção, mesmo os documentários, pelo fato de a intenção influenciar a construção da narrativa. Ou seja, mesmo que se busque interferir o mínimo possível, o simples ato de escolher um determinado corte, ritmo ou perspectiva o transformaria em ficção, fortalecendo os apontamentos acerca da intervenção daquele que escreve a história.
    Desta forma, os relatos da personagem ficcional Rose Dawson se encaixariam nas questões até aqui abordadas ao pensar que tudo relacionado ao ocorrido passaria por seu filtro, isto é, ela descreve a história a partir de sua vivência. A personagem é uma criação, não existiu, mas o naufrágio sim. Logo, o elo que liga história, memória e ficção estaria fechado, mas para realizar tal afirmação será necessário um maior aprofundamento nas questões expostas neste trabalho e em outras que dele surgirão.

Bibliografia

    DIAS, Rodrigo Francisco. Pensando a “Escritura Fílmica da História”: uma leitura crítica do livro de Robert A. Rosenstone. In: XXVIII Simpósio Nacional de História, Lugares dos Historiadores: Velhos e Novos Desafios, 2015, Florianópolis. p. 01-16.
    LISBOA, João Luís. Hayden White, Ricoeur e os desafios morais da História. Práticas da História, Journal on Theory, Historiography, and uses of the Past, Lisboa, n. 6, p. 97-104, 2018.
    OLIVEIRA, Emerson Dionísio Gomes de. Esquecimentos possíveis: a hermenêutica da memória de Paul Ricoeur. Em Tempo de Histórias. n. 14, 2011.
    VERNET, Marc. Cinema e Narração. In: AUMONT, Jacques. A Estética do Filme. Campinas, SP: Papirus, 2012. p. 89-155.
    WHITE, Hayden. Meta-História: A Imaginação Histórica do Século XIX/ Hayden White; [tradução de José Laurêncio de Melo]. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1992. (Coleção Ponta; v.4)