Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Ludmila Moreira Macedo de Carvalho (UFRB/UFRJ)

Minicurrículo

    Ludmila Moreira Macedo de Carvalho é professora adjunta do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Coordena desde 2018 o projeto Cinececult – Laboratório de Apreciação e Análise do Audiovisual, onde desenvolve ações de ensino, pesquisa e extensão em cinema e educação. Atualmente realiza estágio pós-doutoral na Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a orientação da professora doutora Adriana Mabel Fresquet.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema dos primeiros tempos, infância e a entrada na linguagem

Formato

    Presencial

Resumo

    No campo do cinema e educação, diversas atividades pedagógicas voltadas para crianças e jovens são pensadas a partir do surgimento do cinematógrafo. Partindo destes exercícios de criação, propomos uma investigação acerca das relações entre a infância e o cinema dos primeiros tempos. Podemos pensar na “invenção” do cinema como um gesto de infância? Infância, assim como o cinema dos primeiros tempos, serão compreendidos enquanto momentos marcados pela entrada na linguagem e suas complexidades.

Resumo expandido

    No campo do cinema e educação, percebe-se que diversas atividades pedagógicas de introdução à linguagem do cinema para crianças e jovens são pensadas a partir do surgimento do cinema, dos primeiros aparelhos ópticos (que não por acaso são chamados de brinquedos) e das experimentações de pioneiros como os irmãos Lumière, Alice Guy-Blaché, George Meliès entre outros. À primeira vista, tais exercícios parecem contrastar com a realidade profundamente midiatizada na qual crianças e jovens encontram-se atualmente, com acesso a aparelhos que podem filmar e fotografar (assim como difundir e reproduzir) imagens de forma rápida e extremamente portátil. No entanto, atividades práticas de criação tais como as propostas por Alain Bergala (2008), Alicia Vega (2019) e Adriana Fresquet (2020) nos revelam que, apesar da preponderância das câmeras portáteis e imagens digitais; apesar do tempo e das mudanças tecnológicas que separam os primeiros filmes das crianças de hoje, estes continuam dialogando fortemente com a infância. Podemos pensar os exercícios de criação em educação como exercícios de (re)criação do próprio cinema: vendo, revendo, recriando os primeiros filmes e gestos de criação, é como se a cada vez que uma criança fizesse um exercício desses ela inventasse o cinema de novo e de novo. A partir desta ideia, propomos uma investigação mais detalhada acerca das relações entre a infância e o cinema dos primeiros tempos. Podemos pensar na “invenção” do cinema também como um gesto de infância? É importante dizer que infância, assim como o cinema dos primeiros tempos, é compreendida aqui não enquanto uma fase pré-histórica, incipiente ou rudimentar numa linha de desenvolvimento evolucionista, mas sim como um momento marcado sobretudo pela entrada na linguagem e suas complexidades. Partimos, a partir da psicanálise, de uma visão sobre o processo de entrada na linguagem, que coincide com o movimento de individuação do sujeito, na infância, quando este se percebe ao mesmo tempo como sujeito de desejo e de falta. Jean Pierre Meunier (1969), partido da teoria lacaniana, faz um paralelo entre as primeiras trocas sensórias e a brincadeira simbólica da criança e os estágios de identificação fílmica: o primário, que seria uma identificação com o próprio olhar e a situação espectatória, e o secundário, correspondendo mais à projeção e empatia com situações narrativas e personagens. A partir desta perspectiva propomos pensar a analogia entre a infância e o desenvolvimento do cinema como um momento igualmente marcado pela entrada na linguagem: de um cinema sensorial, de atrações, marcado pelo hibridismo de linguagens, pela experimentação, pela descoberta e pela brincadeira, a uma entrada no sistema simbólico estruturado da narrativa através de constantes negociações com as convenções e os limites do mundo “adulto”.

Bibliografia

    AZEREDO, V. P. O.; DIAS, M. S. A. Alícia Vega: Taller de Cine para Niños nos labirintos do tempo. In: Revista Maracanan, Rio de Janeiro, N. 22, p. 197-211, set./dez. 2019.
    BENJAMIN, W. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades/Editora 34, 2005.
    BERGALA, A. A hipótese-cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink, 2008.
    FRESQUET, A. Ver-rever-transver: una aproximación a los motivos visuales del cine y al plano comentado, entre otros modos de ver cine en la escuela. In: Saberes y prácticas. Revista de Filosofía y Educación. Vol. 5, N° 2, 2020.
    MEUNIER, J. Les structures de l’expérience filmique: L’identification filmique. Paris: Librairie universitaire, 1969.
    SOUZA, S. J. Infância e linguagem. Bakhtin, Vygotsky e Benjamin. São Paulo: Papirus, 2005.
    VIGOTSKY, L.S. Imaginação e criatividade na infância. São Paulo: Martins Fontes, 2014.