Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    MEIRE OLIVEIRA SILVA (UFMA)

Minicurrículo

    Doutora e Mestra em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Docente no curso de Letras da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Autora de Liturgia da pedra: negro amor de rendas brancas (2018), O cinema-poesia de Joaquim Pedro de Andrade: passos da paixão mineira (2016), O caos e a lira (2021) e desenvolve pesquisas em História do documentário brasileiro. E-mails: meireoliveirasilva79@gmail.com

Ficha do Trabalho

Título

    Ciclos de totalitarismo no Cinquentenário de Os inconfidentes (1972)

Formato

    Remoto

Resumo

    O cinema de Joaquim Pedro de Andrade configura-se por histórias que aludem a memórias da chamada brasilidade, em consonância com as investigações acerca da controversa identidade nacional no curso de quase 30 anos. O longa-metragem Os inconfidentes (1972), lançado no Sesquicentenário da Independência, em meio aos anos de chumbo, estabelece dialogismos com o século XVIII, contudo, remete também a resquícios de totalitarismos que ainda ecoam no país atualizando tristemente o seu Cinquentenário.

Resumo expandido

    A filmografia de Joaquim Pedro de Andrade é atravessada por memórias e narrativas repletas de elementos formadores da cultura brasileira. As compreensões do cineasta acerca da História e da Cultura do país revelam desigualdades e paradoxos de resquícios coloniais e escravocratas que atestam uma formação social e histórica ancorada sobre violências e traumas (SELIGMANN-SILVA, 2008) ainda não elaborados. Nesse sentido, a análise crítica e contundente de Joaquim Pedro sobre o Brasil revela elementos problemáticos que se embatem com certos mitos que compõem a chamada identidade cultural brasileira. Seu cinema, voltado para símbolos nacionais, como o futebol, o carnaval, o samba, entre outras alegorias sobre a ideia de brasilidade ou, até mesmo, nas reflexões em torno da realização de cinema no país, estão imbuídas de um pensamento questionador de símbolos, personagens e eventos nacionais quando, em um primeiro olhar, poderia parecer apenas uma representação reverente de alguns motes inspiradores (SOUZA, 1980). O longa-metragem Os inconfidentes (1972), apesar de remeter ao século XVIII, estabelece intenso diálogo com os acontecimentos dos anos 1970, por meio de uma sociedade imersa em desmandos governamentais em voga no âmbito da ditadura civil-militar. O ano de 1972 situou-se em meio ao “milagre econômico” brasileiro e os “anos de chumbo”, logo, um período controverso política e economicamente na sociedade brasileira. A violência deflagrada entre os corpos desaparecidos, mortos e torturados, chocava-se com o clima efusivo das comemorações em torno do Sesquicentenário da Independência do Brasil. Naquele momento-histórico, a retomada dos poemas árcades de Alvarenga Peixoto, Claudio Manuel da Costa e Tomás Antonio Gonzaga, dos inquéritos dos Autos de Devassa e dos versos do Romanceiro da Inconfidência (Cecilia Meireles) utilizados no roteiro de Joaquim Pedro e Eduardo Escorel, a partir de vasta pesquisa, confirma o movimento de resgate do passado a fim de propor uma reflexão sobre o presente que vivenciava os horrores e desregramentos que erigiram o país e parecem retornar em ciclos de traumas históricos latentes, ainda hoje. Além disso, as questões estéticas e a própria mise-en-scène revelam a desenvoltura não só política, mas uma proposta fílmica que dialogava com as estéticas modernistas, ressignificadas pelas propostas tropicalistas e a aura vanguardista dos anos 1970 de provocação e desbunde de produções anteriores, como Macunaíma (1969) que, junto a O homem do pau-brasil (1980) formaria uma tríade reflexiva de contestação e resgate de mazelas e memórias em chave antropofágica e pesarosa sobre o paradoxo destino ancorado em uma promessa de futuro. Dessa forma, a presente proposta de comunicação intenciona retomar os dialogismos (BAKHTIN, 2011) engendrados pelo filme Os inconfidentes, ano de seu cinquentenário, infelizmente atualizado e ressignificado pelas questões sociais e históricas de um país imerso em incertezas e ameaças de totalitarismos que sempre retornam à cena, neste ano de 2022, que também marca o Centenário do Modernismo Brasileiro e o Bicentenário da Independência.

    Palavras-chave: 1. Joaquim Pedro de Andrade; 2. Os Inconfidentes; 3. Inconfidência Mineira; 4. Modernismo Brasileiro; 5. Bicentenário da Independência.

Bibliografia

    ANDRADE, Joaquim Pedro. Entrevista a Teresa Cristina Rodrigues [12 set. 1988]. O Globo, Rio de Janeiro.
    Autos de Devassa da Inconfidência Mineira. Brasília: Câmara dos Deputados, 1977.
    GONZAGA, Tomás Antônio; PEIXOTO, Alvarenga; COSTA, Cláudio Manuel da. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
    MEIRELES, Cecília. Romanceiro da inconfidência. Porto Alegre: L&M Pocket, 2011.
    OS INCONFIDENTES. Dir.: Joaquim Pedro de Andrade. Filmes do Serro, Rio de Janeiro, 1972, 100 min.
    NAPOLITANO, Marcos. História do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2018.
    SELIGMANN-SILVA, Márcio. “Narrar o trauma: a questão dos testemunhos de catástrofes históricas”. Psic. Clin., Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 65-82, 2008.
    SILVA, Meire Oliveira. Cinema-poesia de Joaquim Pedro de Andrade: passos da paixão mineira. São Paulo: Appris, 2016.
    SOUZA, Gilda de Mello. O baile das quatro artes: exercícios de leitura. São Paulo, Livraria Duas Cidades, 1980.