Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Fernando de Barros Honda Xavier (UTP)

Minicurrículo

    Mestrando bolsista PROSUP-CAPES do PPGCom da Universidade Tuiuti do Paraná na LP Estudos de Cinema e Audiovisual. Especialista em teologia e salas de leitura além de graduado em fotografia pelo Instituto de Educação Superior de Brasília. Áreas de pesquisa em fotografia como linguagem e aprendizado visual, fine art e narrativas.

Ficha do Trabalho

Título

    A possível narração do horror natural em United 93 (2006)

Formato

    Remoto

Resumo

    A análise do filme United 93 (2006) visa compreender de qual forma há a construção de um possível horror natural. A hipótese é: a narração utilizaria o tempo cronológico dos eventos de 11/09 para recriar – ou mostrar – o que teria ocorrido durante o voo que nomeia o filme. Utilizamos a diferenciação de horror natural e artístico em Noël Carroll (1991) bem como o entendimento de narração no filme de ficção abordada por David Bordwell (1985).

Resumo expandido

    A importância desse tema está na possibilidade de aprofundamento do horror natural, o qual é apontado por Carroll, mas que serve como diferenciação metodológica do horror artístico. Assim, acaba por apontar o deslocamento dos estudos espectatoriais de um “espectador ideal” para um espectador na sociedade que se relacione com a obra fílmica a partir dessa mesma obra fílmica, aproximando assim a arte e comunicação contidas no cinema. O objetivo da pesquisa é compreender de qual forma ocorreria a construção do horror natural a partir da narração no filme United 93. Para isso, iremos [a] delinear no filme momentos específicos do enredo e estilo com base no tempo, [b] para relacioná-los com os registros textuais e audiovisuais de veículos de comunicação e, enfim, [c] entender a construção de um possível horror natural pela narração do filme. Para a metodologia, elencamos três momentos específicos do filme, compararemos com os registros audiovisuais e documentos oficiais com o intuito de entender como é construída a narração. Por se tratar de um filque que mostra o momento em que houve risco real, morte e tensão entende-se a relação direta da sociedade e a forma de construção da narração desse filme no âmbito do horror natural em Noël Carroll (1991). A construção da narração delineada por Bordwell (1985) seria a coexistência entre enredo e estilo, os dois podem ser utilizados para compreender a fábula, enquanto o enredo trata-se dos eventos seguidos que ocorrem nela, o estilo destaca a técnica cinematográfica utilizada. É importante salientar que esses dois aspectos constituintes da narração nem sempre se entrelaçam conceitualmente de acordo com uma obra fílmica em análise, pois não haveria um modo fechado de contar uma “estória” . Cada obra pode ter uma particularidade ao construir a própria narração. Por isso, há necessidade de compreender o aspecto principal de cada uma para a construção de uma narrativa. O enredo é composto pelo tempo demonstrado na narrativa, o espaço construído a partir da relação das personagens com as localidades e a maneira como os eventos se conectam e entrelaçam na ordem causa-efeito. O estilo seria o aparato técnico ou decisões de montagem/filmagem para a construção do enredo, logo os dois culminariam na “estória” representada na tela, mas, todo esse processo “é para” e “advém de” o espectador. O espectador aqui é entendido como uma entidade com as funções cognitivas e mentais de um ser humano material. Nesse aspecto, Carroll (1999) apresenta a interação do espectador no contexto do horror com a obra fílmica de mesmo gênero. Diante disso, além das reações físicas e emocionais de horror e medo, ele interage com a narrativa e personagens apresentados. E assim, pode-se perceber que o filme relata em ações e imagens momentos que não poderiam ter sido registrados no dia 11/09, esses momentos são apresentados com base em registros audiovisuais do dia do ataque bem como relatórios oficiais de investigação. Em sua construção, o filme utiliza-se do tempo cronológico dos eventos e dos registros audiovisuais para afastar um horror artístico – ou seja, naturalmente distante – para um horror natural – o medo que ocorreu no cotidiano. Nesse contexto, ao inserir o registro audiovisual do momento em que os aviões alvejam as torres do World Trade Center, poderia haver a aproximação do horror natural na “recriação” dos acontecimentos do voo 93. Assim, os relatórios (textuais) oficiais da investigação, as gravações da cabine de comando e os registros audiovisuais das emissoras de televisão fluem no tempo cronológico do voo 93, demonstrando um possível horror natural.

Bibliografia

    BORDWELL, David. Narration in the fiction film. 1. ed. Wisconsin: The University of Wisconsin Press, 1985.

    CARROLL, Noël. A filosofia do horror ou paradoxos do coração. Tradução de Roberto Leal Ferreira. 2. ed. Campinas: Papirus, 1999. p. 26-76.

    EUA. U.S. Federal Bureau of investigation. Investigation of United Flight 93. Pittsburg: 2016. Disponível em: WWW.fbi.gov/video-repository/investigation-of-flight-93.mp4/view. Acesso em: 3 jan. 2022.

    MARC, Vernet. Cinema e narração. In: AUMONT, Jacques (et al.). A estética do filme. 9. ed. Campinas: Papirus, 2012. p. 89-155.

    RICOEUR, Paul. A configuração do tempo na narrativa de ficção. Tradução de Márcia Valéria Martinez de Aguiar. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. p. 103-172.

    ______________. O tempo narrado. Tradução de Márcia Valéria Martinez de Aguiar. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. p. 310-328.

    SODRÉ, Muniz. As estratégias sensíveis: afeto, mídia e política. 2. ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2016. p. 73-124.