Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Gabriel Linhares Falcão (PPG-Cine UFF)

Minicurrículo

    Gabriel Linhares Falcão é mestrando no PPGCine UFF, pesquisa “Cinema Experimental e Realismos: Uma investigação a partir dos escritos de Éric Rohmer e Jacques Rivette à crítica cinematográfica do experimental”. Escreve para as revistas El Cine Probablemente, Revista Limite e Multiplot!. Tem experiência nas áreas de direção, crítica cinematográfica e curadoria. Mantém o blog de cinema Belo é o sentimento (https://beloeosentimento.home.blog).

Ficha do Trabalho

Título

    O Drama das Formas: A montagem polivalente de Nathaniel Dorsky

Formato

    Remoto

Resumo

    A partir do início dos anos 1960, Nathaniel Dorsky, Jerome Hiler e Warren Sonbert desenvolveram e especularam, em grupo e independentemente, uma forma aberta de cinema que culminaria na montagem polivalente, que se move de uma tomada a outra fora de quaisquer outras necessidades, exceto, o acúmulo de ser. Analisaremos a possibilidade de uma transparência descontínua e do estabelecimento de um drama das formas na montagem polivalente de Nathaniel Dorsky nos filmes Variations e Threnody.

Resumo expandido

    No início dos anos 1960, um “rebanho rebelde” de jovens cineastas surgia no cenário experimental americano. P. Adam Sitney divide em dois grupos emergentes, os pastorados pelo cineasta, crítico e programador/fundador da Anthology Film Archives em Nova York, Jonas Mekas (dentre eles, o mais famoso, Andy Wahrol) e os mentorados e defendidos por Gregory J. Markopoulos, que incluía, Warren Sonbert, Nathaniel Dorsky e Jerome Hiler.
    Os dois últimos, também companheiros até hoje, apresentavam seus filmes em exibições privadas, e tinha Warren Sonbert como frequentador assíduo e beneficiado pelas ideias e teorias apresentadas. O trio, de maneira quase rascunhada, desenvolveu e especulou ao longo dos anos, em grupo e independentemente, uma forma aberta de cinema que culminaria na montagem polivalente. Nathaniel Dorsky descreve esta da seguinte maneira: “A montagem da qual estou falando se move de uma tomada a outra fora de quaisquer outras necessidades, exceto, é claro, o acúmulo de ser. Não tem obrigações externas. É o lugar do filme.” (SITNEY, 2012. p.198).
    Os três diretores junto a um grupo de amigos que incluía os poetas Michael Brownstein, Anne Waldman e Ted Greenwald “nutriram ideias de filmes que não teriam organização narrativa ou temática, nenhuma das unidades aristotélicas de tempo, lugar ou ação além dos ritmos imanentes que ligam uma imagem cinematográfica a outra.” (SITNEY, 2012. p.198).
    Compartilhavam uma grande admiração pelo cineasta americano Stan Brakhage (Dorsky: “o que me fascinou em Brakhage foi obviamente que uma pessoa pudesse sair com uma câmera e declarar uma linguagem fílmica, e declarar um sentido a existência.” Em entrevista para a revista Lumière), porém, diferentemente do diretor já renomado no cenário experimental americano, apreciavam e defendiam o cinema clássico hollywoodiano (em especial, cineastas como Alfred Hitchcock e Douglas Sirk) e o cinema europeu (Michelangelo Antonioni e Roberto Rossellini) que influenciaram suas composições, uso de cores, ritmo e montagem.
    Um interesse pela continuidade – mesmo que não espacial, temporal, ou de movimentos – e fluidez luminosa parece advir do gosto pelo cinema clássico, assim como o excesso de cores radiantes nos filmes destes diretores. Por mais que os filmes polivalentes se estabeleçam pelo desacordo da repetição espaço-temporal e que cada cineasta tenha elaborado procedimentos individuais, seu caráter é muito mais metonímico que metafórico, não há interesse em criar sentidos, mas toda imagem está banhada pela luz (não necessariamente solar), contidas no mesmo universo, e projetadas por uma outra fonte luminosa que engrandece estes filmes feitos em 16mm ou super-8. se move de uma tomada a outra fora de quaisquer outras necessidades, exceto, é claro, o acúmulo de ser.
    Em seu livro Devotional Cinema, Dorsky apresenta um interesse pela transparência:
    “Quando o cinema consegue fazer com que as formas medievais internalizadas e renascentistas externalizadas de ver se unam e se transcendam, ele pode alcançar um equilíbrio transcendental. Este ponto de equilíbrio revela a transparência de nossa experiência terrena. Estamos flutuando. É um equilíbrio que não é nossa visão nem a crença na objetividade exterior; não pertence a ninguém e, estranhamente, não existe em lugar nenhum.” (DORSKY, 2007. P.27)
    Analisaremos a possibilidade de uma transparência descontínua e do estabelecimento de um drama das formas na montagem polivalente de Nathaniel Dorsky, em especial, nos filmes Variations (1998) e Threnody (2004).

Bibliografia

    DORSKY, Nathaniel. Devotional Cinema. Segunda Edição. California: Tuumba Press. 2005
    MACDONALD, Scott. A Critical Cinema. Interview with Independents Filmmakers, 5. Berkeley: University of California Press, 2006.
    MICHELSON, Annette. On the Eve of the Future: Selected Writins on Film. Massachusetts: MIT Press. 2017
    NAVARRO, Francisco Algarín. En la noche de la matéria nació una flor blanca. Las películas de Nathaniel Dorsky. Revista Lumière nº 6, 2013
    SITNEY, P. Adams. The Cinema of Poetry, Nova York: Oxford University Press, 2015.
    SITNEY, P. Adams. Tone Poems, Nova York: Artforum, novembro de 2007

    Em vídeo: Entrevista com Nathaniel Dorsky (2011) por Francisco Algarín Navarro e Félix García de Villegas Rey para a Revista Lumière.