Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Amanda Mansur Custódio Nogueira (UFPE)

Minicurrículo

    Amanda Mansur é professora adjunta do Núcleo de Design e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. Ministra disciplinas, oficinas e minicursos sobre teoria e prática do audiovisual, além de atuar na área como produtora, diretora, e continuísta. É autora dos livros O Novo Ciclo de Cinema em Pernambuco: a questão do estilo (Editora UFPE, 2010), A Brodagem do Cinema em Pernambuco (Editora Massangana, 2019) e organizadora do livro A Aventura do Baile Perfumado (Cepe, 2016).

Ficha do Trabalho

Título

    Fabulário Tropical: o Cinema Super-8 de Geneton Moraes Neto

Formato

    Presencial

Resumo

    Geneton Moraes Neto (1956-2016) nasceu em Recife e ficou conhecido como um dos mais admiráveis jornalistas brasileiros. Em paralelo à sua carreira de jornalista, Geneton foi um dos cineastas experimentais mais criativos do país. Entre o anos de 1973 e 1983, realizou dezessete filmes nos formato Super-8. Seus filmes transitam no limiar da memória, da poesia e da sua capacidade de escrever o mundo. O objetivo desta comunicação é refletir sobre a relação entre a poesia e o cinema em sua obra.

Resumo expandido

    O objetivo desta comunicação é refletir sobre a relação entre poesia e cinema super-8 na obra do jornalista e cineasta Geneton Moraes Neto (1956-2016). Ele nasceu em Recife e iniciou a sua carreira no jornalismo ainda adolescente e, durante sua trajetória, trabalhou em diversos veículos: Diario de Pernambuco, O Estado de S. Paulo e Rede Globo de Televisão, onde foi editor do Jornal da Globo e do Jornal Nacional, editor-chefe do Fantástico e correspondente internacional da GloboNews. Em paralelo à sua carreira de jornalista, Geneton foi um cineasta muito criativo. Entre os anos de 1973 e 1984, realizou vinte filmes de curta-metragem nas bitolas super-8 e 16mm, rodados em Recife e Olinda, mas também no Rio de Janeiro, Paris, Assunção e Santiago do Chile.

    Boa parte dessa produção está sendo recuperada. Em 2018, a Cinemateca Pernambucana realizou a digitalização em 4k de dezessete filmes em super-8 do diretor, permitindo ao público o acesso a essa importante produção no campo do audiovisual. Os curtas estão disponibilizados no site da Cinemateca Pernambucana. No ano de 2019, o pesquisador Paulo Cunha publicou junto com Ana Farache o livro Viver de Ver o Verde Mar (CEPE, 2019), sobre a vida e obra de Geneton Moraes Neto. Paulo Cunha (2021) também organizou o e-book Expedições à Noite Morena: em Defesa de um Cinema Vadio [Fazer Super-8 no Brasil dos anos 1970], uma coletânea de textos escritos entre 1973 e 1983 por Geneton, que resgata parte da memória do que foi a produção de super-8 em Pernambuco.

    A propósito, a existência da produção cinematográfica pernambucana está frequentemente vinculada à constituição de grupos de cineastas que operam em um modo colaborativo de produção conhecido localmente como “brodagem” (Mansur, 2019). De fato, desde os primórdios, na década de 1920, ao cinema contemporâneo, os realizadores pernambucanos configuram grupos articulados em torno de uma estrutura de sentimentos, com laços de amizade, vínculos afetivos relacionados ao desejo de fazer cinema.
    No Ciclo Super-8 dos anos 1970, por exemplo, um grupo pequeno (cerca de trinta pessoas) se envolveu na produção de filmes em 8mm, entre outros, Fernando Spencer, Jomard Muniz de Britto, Amin Stepple, Kátia Mesel, Geneton Moraes Neto. Em tal contexto, mesmo considerando-se o modo coletivo de produção, os caminhos adotados pelos cineastas sempre foram autorais, com propostas estéticas individualizadas. Entretanto, a constituição dos vínculos afetivos, as experiências de grupo compartilhadas atravessam as obras. Cada filme é, portanto, uma apresentação do cineasta individualmente, mas igualmente uma apresentação do grupo.

    Para refletir sobre tais possibilidades, no curta-metragem Fabulário Tropical (1979), Geneton Moraes Neto apresenta imagens de locais históricos de Recife e Olinda, enquanto duas “guias turísticas” apresentam o caráter generoso dos brasileiros. Reflete também sobre outras obras do diretor e seu discurso poético e por vezes irônico, por exemplo, em A Flor do Lácio É Vadia (1978), rodado nas ruínas do Forte Orange, na Ilha de Itamaracá (PE).

    Sobretudo há o interesse em perceber como os filmes de Geneton Moares Neto transitam no limiar entre poesia e imagem, cruzando fronteiras da literatura ao cinema, produzindo geografias flexíveis, traçando novos mapas para a compreensão de um lugar. Tal lugar pode ser Recife ou outra cidade da América Latina ou mesmo Paris. Nas cartografias dessas cidades, projetadas pela bitola super-8 e pelo olhar apurado do diretor, “os deslocamentos e o pensamento sobre o espaço da cidade se vinculam à dimensão do afeto” (Chauvin, 2019). O afeto de grupo, os sentimentos compartilhados com os jovens amigos “outsiders” impulsionaram essa trajetória cinematográfica e literária.

Bibliografia

    CORRIGAN, T. O filme-ensaio – desde Montaigne e depois de Marker. Trad. Luís Carlos Borges. Campinas, SP: Papirus, 2015. (Coleção Campo Imagético)

    CHAUVIN, I.D. Geografías afectivas – desplazamientos, prácticas espaciales y formas de estar juntos en el cine de Argentina, Chile y Brasil (2002-2017). Pittsburgh, Estados Unidos: Latin American Research Commons, 2019.

    CUNHA, P. (org.). Expedições à noite morena: em defesa de um cinema vadio [Fazer Super-8 no Brasil dos anos 1970]. Recife: Cinemateca Pernambucana, 2021.

    FARACHE, A.; CUNHA, P. Geneton: viver de ver o verde mar. Recife: CEPE, 2019.

    MANSUR, A. A brodagem no cinema pernambucano. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2019. (Col. Cinemateca Pernambucana, 1)