Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Fabiano Pereira de Souza (sem vínculo)

Minicurrículo

    Doutor (bolsista CAPES) e Mestre em Comunicação Audiovisual, na linha de pesquisa Análises de Produtos Audiovisuais, e especialista em Cinema, Vídeo e Fotografia – Criação em Multimeios pela Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo (SP). Pesquisa inovações de montagem pela perspectiva histórica e estética. Integrante do grupo de pesquisa, inscrito no CNPq, Cinema expandido, da estereoscopia ao web footage: novos regimes de visualidade no século XXI.

Ficha do Trabalho

Título

    Nostalgia em Hollywood: da montagem espacial à análise histórica

Seminário

    Montagem Audiovisual: Reflexões e Experiências

Formato

    Presencial

Resumo

    Estratégias de construção de nostalgia em Hollywood nos anos 2010 renderam diversas representações ficcionais dos anos 1980, como também nestes se produziu equivalentes dos anos 1950. A montagem pode intensificar simulacros do passado com marcadores cíclicos de contextos sociais conservadores da geopolítica dos Estados Unidos. Tal potencial pode desdobrar o conceito da montagem espacial, da composição de diferentes imagens para a de diferentes dados históricos que compõem um imaginário.

Resumo expandido

    Expandir o conceito de montagem espacial (MANOVICH, 2001, p. 323) dos aspectos formais para a estrutura de metodologia de pesquisa histórica é o desafio deste trabalho. Com as articulações de sentido proporcionadas pelo conceito como inspiração e a observação dos anos 1980 como cenário de vários filmes hollywoodianos dos anos 2010, a proposta parte de representações artísticas no cinema para a história social. Considerando-se as diversas camadas que compõem a imagem fílmica montada a partir de outras, observa-se o imaginário de um tempo histórico para a investigação de seus precedentes e ecos, de modo a permitir traçar paralelos mais amplos de cunho cultural, social e político.

    Há dois grandes paradigmas na historiografia nos últimos 50 anos, a perspectiva iluminista, da História cientifica e racional de uma realidade social global, e outra pós-moderna, com diferentes ênfases às representações construídas historicamente (SAMARA; TUPI, 2007, p. 46-47). Na representação artística da história social no cinema ficcional, a imagem enquanto registro frio e objetivo, cede espaço ao simulacro (AUMONT, 2002, p. 102) de uma época desdobrado não só em temporalidades que ele intrinsecamente conecta, mas em recorrentes marcadores sócio-culturais e políticos presentes e passados.

    As estratégias de criação de imaginário nostálgico no cinema hollywoodiano ao longo dos últimos 50 anos, reavivadas e atualizadas na década de 2010, ainda têm efeitos na atual. Elas permitem ligar, por meio de aspectos sociais fortemente atrelados a contextos políticos, a recente nostalgia dos anos 1980 àquela que os anos 1950 despertaram trinta anos depois. São desenvolvimentos pós-modernos do soft power, de Washington (BEASLEY;BROOK, 2019, p. 3-4), que faz de Hollywood seu braço cultural, especialmente em momentos de conservadorismo acentuado.

    Na nostalgia, um certo momento passado costuma ser resgatado com cores leves e idílicas para se recuperar valores culturais e proposições políticas em épocas de desilusões sociais recentes. “Enquanto dirige as emoções, o filme convencional propicia uma oportunidade de estimular e dirigir todo o processo do pensamento” (EISENSTEIN, p. 69). A se abordar nostalgia, há de se distinguir repetição de generalidade na montagem desse simulacro.

    Em geral, filmes de época simplesmente se apoiam em reconstituições. Por meio de estruturas narrativas helicoidais, ainda que num fluxo linear convencional, a montagem pode proporcionar marcadores cíclicos que acentuem tramas pautadas na nostalgia, forma condizente com o conteúdo. São construções espirais que, por meio de imagens ou cenas, combinam repetição e generalidade, esta na sua ordem qualitativa das semelhanças e a ordem quantitativa das equivalências (DELEUZE, 1995, p. 1).

    Como essa estratégia se estabeleceu e sofisticou nos anos 1980, tome-se como base de análise diferentes filmes americanos de valor nostálgico dos anos 1950 que se destacaram na era Reagan: Christine: o carro assassino (Christine, EUA, 1983), de John Carpenter, De volta para o futuro (Back to the future, EUA, 1985), de Robert Zemeckis, e Um corpo que cai (Vertigo, EUA, 1958), de Alfred Hitchcock, este um relançamento de 1983 muito mais bem-sucedido que o lançamento. Nenhum deles se qualifica para filme de época. Em suas diferentes construções da figura feminina, estruturas cíclicas formais narrativas refletem questões sociais e políticas em dia com o conservadorismo daquelas duas décadas, retomadas nos anos 2010.

    Os diferentes tempos e espaços que a montagem espacial permite mesclar geram um múltipla composição visual. Ao se pensar a imagem num sentido de combinação de “imagens parciais que reproduzem da maneira mais literal possível esquemas típicos convencionalmente vinculados a seu referente real” (AUMONT, 2002, p. 84), podemos entender quais camadas estéticas, culturais, históricas e políticas a nostalgia hollywoodiana consegue articular enquanto imaginário.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas: Papirus, 2004.

    BEASLEY, Chris, BROOK, Heather. The cultural politics of contemporary Hollywood film: power, culture, and society. Manchester: Manchester University Press, 2019.

    DELEUZE, Gilles. Difference and repetition. Nova York: Columbia University Press, 1994.

    EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

    MANOVICH, Lev. The Language of New Media. Cambridge: MIT Press, 2001.

    SAMARA, Eni de Mesquita; Tupy, Ismênia S. Silveira T.. História & Documento e metodologia de pesquisa. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.