Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    ALINE DE CALDAS COSTA DOS SANTOS (UFOB)

Minicurrículo

    Aline de Caldas é professora de Teorias da Comunicação e Fotografia da Universidade Federal do Oeste da Bahia. Graduada em Rádio e TV e mestra em Cultura e Turismo pela UESC; doutora em Memória: linguagem e sociedade pela UESB.

Coautor

    Julianna Nascimento Torezani (UESC)

Ficha do Trabalho

Título

    O corte das “cores” na cinematografia de Vidas Cinzas

Seminário

    Estética e plasticidade da direção de fotografia

Formato

    Presencial

Resumo

    O estudo aborda as escolhas de cinematografia presentes no curta Vidas Cinzas (Martinelli, 2017), que apresenta o Rio de Janeiro em tons de preto e branco em função do corte das cores feito pela prefeitura. Trata-se de uma metáfora para analisar a corrente crise econômica e política nacional. A pesquisa documental é feita a partir de Moletta (2009), Brown (2012), Andrade (2013), Machado (2019), Carreiro (2021). O “corte” das cores evidencia os cortes que são feitos nos direitos das pessoas.

Resumo expandido

    O documentário Vidas Cinzas (Leonardo Martinelli, 2017) apresenta o Rio de Janeiro através de uma reportagem de uma emissora francesa; entretanto, a cidade está em tons de preto e branco em função de um corte das cores feito pela prefeitura municipal. A decisão, de natureza político-orçamentária, impacta a população carioca de variadas maneiras, expostas na forma de depoimentos por parte de personalidades públicas reais como Wagner Moura, Marielle Franco, Gregório Duvivier, Glenn Greenwald, Marcelo Freixo, Petra Costa, Flávio Bolsonaro, Lindbergh Farias, entre muitos outros. Trata-se de uma metáfora para analisar a crise econômica e política da sociedade atual, para chamar atenção das dificuldades que as pessoas estão enfrentando, sobretudo quanto à educação, saúde, cultura e emprego.
    Desse modo, questiona-se: Como os elementos de cinematografia foram mobilizados de modo a comunicar os problemas elencados através das imagens de Vidas cinzas?
    O objetivo deste trabalho é analisar as escolhas do diretor e do diretor de fotografia do filme dentre os elementos de cinematografia que compõem as imagens e materializam a crítica dos problemas sociais.
    A pesquisa foi realizada a partir das ideias de Moletta (2009), Brown (2012), Andrade (2013), Machado (2019) e Carreiro (2021) sobre direção de fotografia. O estudo aborda as camadas de sentido comunicadas pelos elementos de cinematografia (BROWN, 2012) presentes no curta Vidas Cinzas. Segundo Leonardo Martinelli – roteirista, fotógrafo e diretor do curta -, o filme é um exemplo do chamado gênero híbrido, também conhecido como docudrama, no qual imaginação e testemunho se mesclam. Porém, para Arlindo Machado, estamos diante de um falso documentário (MACHADO, 2019), gênero que convoca a linguagem e o formato documentais ou ainda a forma jornalística para narrar acontecimentos fictícios, abrindo um caminho de expressão visual com a tônica da ironia. As imagens podem ser reais ou encenadas – o que importa é que o argumento seja convincente e coloque o espectador no lugar de reflexão entre o que está sendo dito e os não-ditos que se colocam em pauta.
    A discussão destacou a opção pela imagem em preto e branco e suas implicações sob o ponto de vista de diferentes autores; a presença recorrente do dueto primeiro plano/plano geral; o desfoque na figura humana quando em primeiro plano, prevalecendo em foco o plano de fundo da paisagem urbana; a representação das manifestações populares de rua no início do filme e a presença marcante de imagens de protesto de rua e a força policial ostensiva em ação mais ao final do filme; o clichê das imagens de jornais impressos em diferentes línguas entre outros recursos de direção de fotografia disponíveis.
    Foi verificado que, em todos esses destaques, a configuração dicotômica ganhou ênfase, como se a crise social e política se reduzisse a uma opção ou outra. A restrição cromática ao preto e branco funcionou como uma maneira de ocultar a enorme complexidade da vida da metrópole e ainda como negação da diversidade de pautas sociais existentes. A dinâmica dos planos narrativos e expressivos concretizou o olhar estrangeiro enquanto distância e exotismo da situação inusitada. O uso do desfoque do primeiro plano coloca a paisagem em posição de maior interesse do que o cidadão presente nos espaços urbanos turísticos e destacam também os cortes dos direitos das pessoas, conformando uma estética-narrativa que convoca à discussão do cenário de crise que está sendo vivenciado de 2017 até então.

Bibliografia

    ANDRADE, Matheus. Rec: uma iniciação à filmagem. João Pessoa: Ideia, 2013.
    BROWN, Blain. Cinematografia – teoria e prática: produção de imagens para cineastas e diretores. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
    CARREIRO, Rodrigo. A linguagem do cinema: uma introdução. Recife: Ed. UFPE, 2021.
    MACHADO, Arlindo. Novos territórios do documentário. In: _____. Outros cinemas: formas esquisexóticas de audiovisual. São Paulo: Ribeiro edições, 2019.
    MOLETTA, Alex. Criação de curta-metragem em vídeo digital: uma proposta para produções de baixo custo. São Paulo: Summus, 2009.
    VIDAS Cinzas. Direção e Roteiro: Leonardo Martinelli. Produção: Jéssica Paola e Leonardo Martinelli. Pseudofilmes, 2017. 15 min. Disponível em: Meteoro Brasil https://www.youtube.com/watch?v=wGp26Hzoga4 Acesso em: 10 maio 2022.