Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Cristian Borges (USP)

Minicurrículo

    Professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da ECA-USP, com auxílio à pesquisa FAPESP. Doutor em Cinema e Audiovisual pela Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris 3 (CAPES), fez pós-doutorado na Columbia/ NYU (FAPESP). Cineasta e curador de mostras, foi diretor do Cinusp e preside a Socine desde 2019. Publicou o livro EM BUSCA DE UM CINEMA EM FUGA (Perspectiva/ Fapesp, 2019), além de artigos e capítulos de livros no Brasil e na França.

Ficha do Trabalho

Título

    Dança e ritual na obra de Maya Deren

Seminário

    Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas

Formato

    Presencial

Resumo

    Maya Deren explorou como poucos, no cinema, a noção de “geografia criativa” (Kulechov) e a natureza performática do transe, enfatizando seus aspectos coletivos. Afeita à psiconeurologia (Bekhterev), ela conjugará técnicas sociais e atividade mental em seus textos teóricos como em seus filmes, fazendo as sensações subjetivas das personagens corresponderem a trucagens fílmicas objetivas, com uma forma ritualística que despersonaliza o indivíduo em prol de um entendimento coletivo de transformação.

Resumo expandido

    Defensora de uma dança filmada que escapasse ao mero registro de uma performance, Maya Deren explorou como poucos, no âmbito do cinema, a noção de “geografia criativa” (Kulechov) e a natureza performática (e não patológica) do transe e da possessão, enfatizando seus aspectos coletivos, sociais. Mais afeita à psiconeurologia de Bekhterev do que à psicanálise freudiana, por influência direta de seu pai, o psiquiatra Solomon Derenkovsky, ela conjugou técnicas sociais e atividade mental tanto em suas reflexões teóricas quanto em sua prática cinematográfica, fazendo as sensações subjetivas de suas personagens corresponderem a trucagens fílmicas objetivas.
    Nesse sentido, Deren propôs, em seus filmes, uma forma ritualística – fruto do período em que foi assistente da coreógrafa e antropóloga afro-americana Katherine Dunham, cujo trabalho era voltado à cultura caribenha e à mitologia do vodu haitiano –, ao estabelecer a despersonalização do indivíduo no interior de um complexo dramático em prol de um entendimento coletivo de transformação. Pois, por um lado, o que lhe interessava retratar era, muito mais do que a dança, o conjunto de movimentos corporais; e, por outro lado, o que lhe parecia mais caro era garantir a integridade, não do movimento em si, mas da imagem do movimento, através de experiências com procedimentos cinematográficos, numa deformação necessária da dança e da movimentação originais.
    Ao retirar o dançarino do teatro, “oferecendo-lhe o mundo como palco”, Maya Deren explorou incansavelmente as possibilidades de um “coreocinema” (Fuller Snyder) ou de uma “dança como cinema” (Greenfield) – impossível, portanto, de ser vista ao vivo –, na ânsia, em última instância, por “criar dança a partir de materiais não dançantes”.

Bibliografia

    COHEN, Selma Jeanne; LEABO, Karl (ed.). Dance Perspectives, n. 30 – “Cine-Dance”, verão de 1967.
    DEREN, Maya. Essential Deren: Collected Writings on Film. Kingston: McPherson and Company, 2005.
    GREENFIELD, Amy. “Dance As Film”, in Filmmakers’ Newsletter, vol. 4, n. 1, novembro de 1970, p. 26-32.
    KULECHOV, Lev. L’Art du cinéma et autres écrits. Lausanne: L’Age d’Homme, 1994.
    NICHOLS, Bill (ed.). Maya Deren and the American Avant-Garde. Berkeley/ Los Angeles/ Londres: University of California Press, 2001.
    ROSENBERG, Douglas (ed.). The Oxford Handbook of Screendance Studies. Oxford/ Nova York: Oxford University Press, 2016.
    SNYDER, Allegra F. “Three Kinds of Dance Film: A Welcome Clarification”, in Dance Magazine, vol. 39, n. 9, setembro de 1965, p. 34-39.