Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Francisco Elinaldo Teixeira (UNICAMP)

Minicurrículo

    Livre docente, professor de cinema no curso de Midialogia e no Programa de Pós-Graduação em Multimeios do Instituto de Artes da UNICAMP. Autor, entre outros dos livros: O ensaio no cinema: formação de um quarto domínio das imagens na cultura audiovisual contemporânea (org.). São Paulo: Hucitec, 2015; Arqueologia do ensaio no cinema-audiovisual brasileiro (Formações e Transformações). São Paulo: Hucitec, 2022, no prelo.

Ficha do Trabalho

Título

    Filme-ensaio e cultura dos arquivos

Formato

    Remoto

Resumo

    Em pesquisa em parte concluída e em parte em processo, o propósito da comunicação é apresentar um material de composição de suma importância na criação filmíca-ensaística contemporânea, o material de arquivo. Tal espírito arquivista, com gênese e desdobramentos na “arqueologia do presente” foucaultiana, mantém correlações intensas com a categoria de found footage do cinema experimental, com seus deslocamentos e investimentos no cinema ensaístico, embora de modos disjuntivos.

Resumo expandido

    O sentido de construção do filme-ensaio mantém hoje uma ligação visceral com uma cultura de arquivos feita de enunciados e visibilidades. Para além de locus-fonte ou guardião de documentos comprobatórios de uma dada realidade, o arquivo tem uma consistência plástica, dinâmica e estratificada, aberta a novas formações e transformações que se operam nas relações entre o visual e o sonoro em suas apropriações. São várias as analogias que os realizadores propuseram no que diz respeito ao seu trabalho com materiais de arquivo: “patchwork frankensteiniano”, “exumação arqueológica”, “escavação mineradora”, “reciclagem ecológica” etc (Weinrichter, 2009). Assim, uma multiplicidade de fazeres, de visões-concepções jaz por sob o manejo desses “materiais encontrados” (found footage), inscrevendo gestos que se contrapõem tais como filme de montagem versus desmontagem, filme de apropriação versus expropriação. Mas todos eles com uma ênfase incontornável no que diz respeito ao significado de tal gesto como impulso de transformação do material apropriado, levando a uma “ressignificação” ou criação de um novo sentido em relação à significação já estabelecida, dada, incrustada, portanto, geradora de um pensamento diferente do que estava inscrito antes nos materiais.
    Esse cinema de found footage, assim, se lança para além da mera apropriação enquanto apenas citação ou antologia fílmica. Ressignificar o material apropriado torna-se, portanto, a maneira privilegiada do realizador inscrever, desdobrar, expandir seu pensamento por sobre as significações dominantes, gerando novos sentidos sobre o material apropriado. Com tal consistência, o termo found footage vem inscrever um gesto novo em relação à temporalidade, para além do tempo linear-cronológico tão aclamado pelas primeiras vanguardas, com a introdução desse aspecto historiográfico tornando-se um dos pontos focais de seus aportes-contribuições aos cinemas experimental e ensaístico.

Bibliografia

    Deleuze, Gilles. Foucault. Lisboa: Vega, s/data.
    Foucault, Michel. A arqueologia do saber. Petrópolis/RJ: Vozes, 1972.
    Oiticica, Hélio. “Experimentar o experimental”. São Paulo, Arte em Revista, no. 5, 1980.
    Teixeira, F. E. O ensaio no cinema: formação de um quarto domínio das imagens na cultura audiovisual contemporânea (org.). São Paulo: Hucitec, 2015.
    ______________.Arqueologia do ensaio no cinema-audiovisual brasileiro (Formações e Transformações). São Paulo: Hucitec, 2022, no prelo.
    Weinrichter, Antonio. Metraje encontrado. La apropiación en el cine documental y experimental. Pamplona/ES: Fondo de publicaciones del gobierno de Navarra, 2009.