Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Natasha Roberta dos Santos Rodrigues (UNICAMP)

Minicurrículo

    Nascida e crescida no Grajaú, em São Paulo, formou-se em Midialogia, pela Universidade Estadual de Campinas. Dirigiu os curtas-metragens documentais Cabeças Falantes (2017) e àprova (2020). Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Multimeios da UNICAMP.

Ficha do Trabalho

Título

    A participação de mulheres na expansão do cinema negro brasileiro

Seminário

    Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.

Formato

    Presencial

Resumo

    O cinema brasileiro possui seus lugares de decisão partilhados de maneira desigual entre os sujeitos sociais. A luta dos movimentos de resistência e as políticas públicas para educação e cultura das últimas décadas propiciaram o aumento de mulheres negras realizadoras e pesquisadoras em cinema. Além do aprofundamento do campo reflexivo sobre o cinema negro, mulheres negras têm protagonizado também inovações na apropriação da linguagem cinematográfica para representar identidades negras.

Resumo expandido

    O cinema brasileiro pode ser entendido como território de disputas de diferentes sujeitos, tanto no que diz da resistência à entrada massiva de filmes internacionais desde o início do século XX, quanto no que fala da histórica concentração do mercado cinematográfico interno nas mãos de homens brancos. A organização dos movimentos sociais e o avanço de suas pautas proporcionou eventos transformadores para essa configuração hegemônica do cinema nacional. Para além da questão de recurso financeiro – o cinema se funda enquanto arte industrial e, portanto, demanda alto capital para seu empreendimento –, que funciona como elemento excludente de determinados grupos sociais, o cinema é, acima de tudo, um lugar de possibilidade de narrativas, de construção de imagens. Se a demanda de recurso é fundamental para pensar a democratização do acesso ao fazer cinematográfico, talvez mais estrutural e congelada seja a partilha do direito de contar histórias e de compor o imaginário de identidade nacional.
    O “filme de autor negro”, que até os anos 1970 era um fenômeno inédito no Brasil (NEVES, 1968), hoje se configura num dever institucional, de modo que editais públicos de apoio à produção precisam se responsabilizar, por exemplo, por cotas étnico-raciais. Há, em especial a partir dos anos 2000 em diante, um aumento considerável de pessoas negras realizando obras audiovisuais e adentrando o mercado cinematográfico em diferentes áreas de atuação. A presença crescente de pessoas negras nas universidades não apenas corroborou para esse fenômeno, como também fundamentou a ampliação da reflexão acerca de um cinema negro brasileiro, permitindo a escrita de trajetórias históricas e a delimitação de conceitos e categorias; em outras palavras, trouxe o fazer cinematográfico de pessoas negras para o campo da ciência do cinema e da história do cinema nacional.
    Se os autores Noel dos Santos Carvalho e Petrônio Domingues (2018) sustentaram a existência de um cinema negro brasileiro, as reflexões dos últimos quinze anos têm alargado suas fronteiras, ampliando a composição interna desse campo. No que tange à realização de filmes, observa-se, desde 2015, o protagonismo de mulheres (OLIVEIRA, 2017). O mesmo se pode notar no campo da reflexão e da crítica sobre o cinema negro, onde contribuições como as de Edileuza Penha de Souza, Ceiça Ferreira, Kênia Freitas e Viviane Ferreira têm dilatado as ações e, principalmente, as perspectivas sobre o movimento.
    Assim como se aprofunda o debate sobre o cinema negro brasileiro, adensam-se igualmente as questões abordadas pelas realizadoras na criação das inúmeras representações de negritude. Na busca por narrativas fílmicas autorreferenciadas e mais inovadoras em termos de linguagem (FREITAS, 2018), as produções dessas cineastas se afastam cada vez mais de discursos “panfletários” e se aproximam de estratégias singulares de fabulação das identidades. A utilização do cinema para pensar identidade racial tem feito do conceito negro uma massa modelável e transfigurável à perspectiva dessas intelectuais da imagem. Filmes como “Mulheres Negras: Projetos de Mundo” (2016, Day Rodrigues e Lucas Ogasawara) e “Aurora” (2018, de Everlane Moraes) expressam uma transição da maneira de representar identidades negras no cinema brasileiro nos últimos anos.
    Diante dos fenômenos apresentados, este artigo se propõe, portanto, a destacar a trajetória recente do cinema negro brasileiro a partir da participação das mulheres, em especial no campo da pesquisa, e dispõe-se também a analisar os curtas “Mulheres Negras: Projetos de Mundo” e “Aurora” enquanto trabalhos emblemáticos para compreender alguns aspectos do cenário atual da relação político-artística desse campo.

Bibliografia

    CARVALHO, Noel dos Santos; DOMINGUES, Petrônio. Dogma Feijoada: a invenção do cinema negro brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais [online]. 2018, vol.33, n.96, e339612.
    NEVES, David E. O cinema de assunto e autor negros no Brasil. (Tese apresentada no Congresso de Gênova sobre o Terceiro Mundo e a Comunidade Mundial. Publicada em Cadernos Brasileiros, n. 47, p. 75-81, mai./jun. 1968. Texto atualizado pelo Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa). In: SIQUEIRA, A. [et al]. Festival Internacional de curtas de Belo Horizonte (catálogo). Belo Horizonte: Fundação Clóvis Salgado, 2018.
    OLIVEIRA, Janaína. Cinema Negro contemporâneo e o protagonismo feminino. In: FREITAS, K.; ALMEIDA, P. R. G. (Org.). Diretoras Negras no cinema brasileiro. Caixa Cultural/ VOA. 1ª edição: Rio de Janeiro, 2017.

    Filmografia
    AURORA. Direção: Everlane Moraes. Cuba, 2018.
    MULHERES NEGRAS – PROJETOS DE MUNDO. Direção: Day Rodrigues e Lucas Ogasawara. Brasil, 2016.