Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Patricia Furtado Mendes Machado (PUC)

Minicurrículo

    Professora da graduação e pós-graduação do Departamento de Comunicação da PUC-Rio.

Coautor

    Thais Blank (FGV CPDOC)

Ficha do Trabalho

Título

    Inês e Norma : caminhos cruzados em imagens, arquivo e militância

Seminário

    Outros Filmes

Formato

    Presencial

Resumo

    A presente comunicação é um desdobramento de uma pesquisa iniciada em 2018, que tem como objetivo mapear, coletar e analisar imagens em movimento realizadas no âmbito privado no Brasil no período da Ditadura Civil-Militar (1964 e 1985). Na caminho traçado pela pesquisa, fomos levadas ao encontro da atriz Norma Bengell, conhecida por encarnar papéis de vedetes e mulheres sensuais no cinema Brasileiro, com Inês Etienne, militante política e única sobrevivente da Casa da Morte.

Resumo expandido

    Em 2012, Norma Bengell doou seu arquivo pessoal à Cinemateca Brasileira. Dentre as centenas de recortes de jornal, fotografias e cartazes de filmes que a atriz colecionou ao longo de sua vida, chegou também ao acervo um material inédito, rodado em Super-8 pela a própria atriz. O registro testemunha a saída da prisão da militante Inês Etienne Romeu, em 1979. A informação sobre a existência desse registro nos foi dada no âmbito da pesquisa que realizávamos em torno da trajetória de Inês Etinne, e que foi incida em 2018 no projeto “Entre o político e o íntimo: o cinema doméstico sob a ditadura militar”. O material em Super-8 foi finalmente digitalizado pela Cinemateca Brasileira e será exibido pela primeira vez no âmbito dessa pesquisa.

    A existência desse registro nos despertou o interesse em mapear as conexões e motivações que impulsionaram Norma, atriz notadamente conhecida como “vedete do cinema brasileiro”, a produzir imagens com caráter de denúncia política. Foi esse percurso que nos conduziu ao vídeo militante francês Inês (1974), realizado no âmbito do coletivo feminista Les insoumises. O curta, que se encontra depositado no Centre Audiovisuel Simone de Beauvoir, aborda a prisão e a tortura sofrida pela presa política Inês Etienne Romeu. Idealizado por Norma Bengell e Delphine Seyrig, o vídeo é uma produção coletiva feita para denunciar a situação bárbara vivenciada por Inês em seu incarceiramento, e pressionar pela revisão dos autos de sua prisão. Analisamos a obra e seu contexto de produção no artigo “Musas insubmissas: Estudo de Inês (1974), um filme de coletivo sobre uma presa política brasileira (Revista ECO Pós, 2020).

    Nesta comunicação, propomos seguir esse caminho aberto na pesquisa e que nos colocou diante de uma nova e inesperada personagem, a atriz Norma Bengell. Explorando o método de “cruzamento de arquivos” (Lindeperg), que temos implementado e desenvolvido nos últimos anos, abordaremos a trajetória incendiária de Bengell e sua vinculação com as imagens. Da cena emblemática do filme Os cafajestes (1962, Ruy Guerra), passando pela sua participação no vídeo Inês e chegando ao registro em que Norma filma a libertação de Inês Etienne, reconhecemos uma política das imagens que se manifesta pelo erótico, onde desejo e desprezo são antes de tudo uma questão política.

Bibliografia

    BENGELL, Norma. Norma Bengell. São Paulo: Versos Editora, 2014
    FLECKINGER, Hélène. Cinéma et vidéo saisis par le feminisme (France 1968- 1981). Thèse de doctorat en études cinématographiques et audiovisuelles. UNIVERSITEq SORBONNE NOUVELLE – PARIS 3, 2011
    LE BRETON, David. El sabor del mundo – Una antropología de los sentidos. Buenos Aires, Ediciones Nueva Visión, 2007, 367 p.
    LINDEPERG, Sylvie. Nuit et Brouillard- un film dan l ́histoire. Odile Jacob, Janvier 2007. _____________. Des lieux de mémoire portatifs. Entretien réalisé par Dork Zabunyan. Critique: Revue générale des publications françaises et étrangères. Paris: Les Éditions de Minuit, Mars 2015.
    MULVEY, Laura. Prazer visual e cinema narrativo. In: XAVIER, I. A experiência do cinema. Rio de Janeiro: Ediçõ es Graal, 1983.