Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Marina Mapurunga de Miranda Ferreira (USP/UFRB)

Minicurrículo

    Professora de Som do curso de Cinema da UFRB, onde coordena o projeto de extensão SONatório – Laboratório de Pesquisa, Prática e Experimentação Sonora. Doutoranda em Processos de Criação, no PPGMUS-ECA/USP, onde pesquisa estratégias de reativação da escuta na formação de estudantes de audiovisual. Integrante da rede Sonora – músicas e feminismos e do NuSom – Núcleo de Pesquisas em Sonologia da USP.

Coautor

    CLOTILDE BORGES GUIMARÃRS (FAAP)

Ficha do Trabalho

Título

    Escuta, substantivo feminino:

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Adotando a conversa enquanto método da escuta de si (CAMPESATO; BONAFÉ, 2019), que se aproxima de uma epistemologia feminista, em que o subjetivo e o particular estão presentes, e coletando dados e relatos de 28 mulheres trabalhadoras do som no audiovisual brasileiro, discutimos temas como: a escuta; relações de trabalho; maternidade; machismo e assédio. Também levantamos as seguintes questões: Existe uma escuta feminina? Qual nossa relação com a escuta em nosso campo de trabalho?

Resumo expandido

    Esta pesquisa nasce de conversas dentro e fora da SOCINE, em busca de bibliografia sobre a presença das mulheres na área do som no audiovisual brasileiro e de um desejo de nos escutar. Por meio de um grupo de 28 mulheres trabalhadoras da área do som no audiovisual, no qual, nós, autoras, estamos inseridas, estabelecemos uma conversa sobre temas voltados a relação das mulheres com a escuta, a divisão do trabalho, a maternidade, o preconceito, o assédio e o machismo nas nossas relações profissionais.
    Para esta pesquisa, utilizamos “a conversa como método da escuta de si”, método de pesquisa desenvolvida por Lílian Campesato e Valéria Bonafé, que deriva de uma proposta da utilização de epistemologias feministas para a pesquisa científica acadêmica, a qual se coloca como uma alternativa ao modo dominante de produção do pensamento científico.
    O modo de produção dominante se utiliza de um processo racional e objetivo para atingir uma verdade pura e universal, pensada a partir de um conceito universal de homem branco, heterossexual, civilizado do Primeiro Mundo, que deixa à margem todos que escapam deste padrão referencial totalizante. A alternativa epistemológica feminista abandona a pretensão de ser a única forma de produção de conhecimento e acredita que pode fazer parte, lado a lado, de outras formas de produção de conhecimento. Este novo agente epistêmico propõe uma relação entre teoria e prática, não isolado do mundo, mas inserido nele, não isento e imparcial, mas subjetivo e particular, oposto a um distanciamento do pesquisador com seu objeto que tem por objetivo a produção de um conhecimento neutro, livre de interferências subjetivas. As mulheres carregam uma experiência historica e cultural diferente da masculina, das margens, do detalhe, a epistemologia feminista (ou feministas) defende o envolvimento do sujeito com seu objeto, incorporando a dimensão subjetiva, emotiva e intuitiva no processo da produção de conhecimento. (RAGO, 2019).
    A reflexão sobre a escuta, nesta pesquisa, segue em duas direções. Em uma direção, a escuta faz parte do método da conversa, ao escutarmos as participantes e a nós mesmas; e em outra, a escuta é nosso objeto de pesquisa, pois refletimos sobre ela em nosso ambiente de trabalho e em nosso processo criativo. Nossa apresentação se divide em dois blocos. No primeiro, apresentamos a fundamentação teórica utilizada para o seu desenvolvimento. No segundo, abordamos nosso contexto como mulheres que trabalham com som no audiovisual. Nesse segundo bloco, apresentamos o grupo de participantes desta pesquisa e trazemos parte de suas escritas de si (seus comentários) e trechos das nossas conversas.
    O processo desta pesquisa provocou um movimento reflexivo sobre nós mesmas, autoras. Percebemos que tínhamos referências de mulheres em nossa área que não tínhamos dado importância antes, e que também tínhamos sofrido assédios que relevamos na época. A tomada de consciência desse assunto provocou uma contaminação em nossas atividades.
    A maternidade foi um dos assuntos mais sensíveis nesta pesquisa. Ele gerou questionamentos mais profundos sobre o modo como nossa sociedade lida com a criação das crianças. Como incorporar, nas produções audiovisuais, as necessidades que as mães e os pais demandam para cuidar de suas filhas e filhos?
    A conversa, a autoetnografia e a escrita de si utilizadas de maneira entrelaçada como métodos de pesquisa se adequaram a nossa procura por uma via de produção de conhecimento que partisse do particular, associado a uma epistemologia feminista. O percurso dessa escrita, que partiu de um questionamento inicial sobre a ausência de publicações sobre as mulheres do som no audiovisual brasileiro, nos tornou mais conscientes e engajadas como mulheres-pesquisadoras-artistas-professoras.

Bibliografia

    ADAMS, T. E.; JONES, S; ELLIS, C. Autoethnography. Oxford; New York: Oxford University Press, 2015.
    CAMPESATO, L; BONAFÉ, V. A conversa enquanto método para emergência da escuta de si. Debates, n. 22, p.28-52, dez., 2019.
    CAVARERO, A. Vozes Plurais: filosofia da expressão vocal. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.
    ECKHARDT, J; DE GRAEVE, L. The second sound – conversations on gender and music. Bruxelas: umland, 2017.
    NANCY, J. A Escuta. Belo Horizonte: Edições Chão da Feira, 2014.
    RAGO, M. “Epistemologia feminista, gênero e história”. In: HOLLANDA, H. B. (org.). Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019. p.371- 390.