Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Fernanda Luá Brandão Rocha (UFC)

Minicurrículo

    Bacharel em Jornalismo pelo Centro Universitário UniFanor|Wyden. foi aluna do Curso de Extensão em Audiovisual realizado pelo Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC). Atualmente é estudante do curso de Mestrado em Comunicação do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará (PPGCOM-UFC), na linha de pesquisa 01: Fotografia e Audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    Os Outros de Abbas Kiarostami: Sabzian, o Impostor

Formato

    Remoto

Resumo

    Abbas Kiarostami costuma se projetar em sua cinematografia a partir de seus personagens em uma relação de alteridade para com estes. Sabzian, personagem principal do filme “Close up” (1990) é o que podemos considerar como o primeiro outro de Kiarostami. Sabendo dessa relação particular, este trabalho busca entender como Kiarostami entrega a Sabzian a chance de este ser um sujeito de si e não apenas um outro do cineasta, baseado em uma análise decolonial do conceito de outros e sujeitos.

Resumo expandido

    Abbas Kiarostami é considerado um dos mais proeminentes cineastas iranianos, como todo diretor, possui um filme de sua obra preferido. Em diversas entrevistas Kiarostami (2004) salientou que “Close-up” (1990) é o seu melhor filme, pois foi uma obra que nasceu por si só, sem a intervenção dele na condução da produção. Quando Kiarostami afirma que o filme nasceu por si só, evidencia um apagamento da figura do diretor na construção criativa de sua obra, ao mesmo tempo que este se coloca no papel de espectador. Em “Close-up” somos apresentados a Hossein Sabzian, um homem pobre que finge ser o cineasta iraniano Mohsen Makhmalbaf e, que passa a enganar uma família de classe média. Ao ser preso, Sabzian comenta em um jornal: “Daqui por diante sou um pedaço de carne de um animal sem cabeça e podem fazer comigo o que quiserem”. Em entrevistas, o diretor afirmava que se sentia fisgado pela história de Sabzian, chegando a afirmar que ele era o real impostor e não Sabzian. Existe uma projeção de Kiarostami nessa pessoa impostora, sendo este alguém um possível outro de Kiarostami, explicando em partes, que há uma projeção do cineasta e o sentimento de espectador que ele tem para com este. Ao longo de sua carreira é possível perceber uma reprodução de si em escala nas suas obras, sendo “Close-up” a primeira representação direta do diretor. Contudo, Kiarostami não usa seus personagens apenas e exclusivamente para retratar seus conflitos sobre algo ou alguém, mas dá a eles a possibilidade de serem sujeitos de si e não apenas objetos, onde tem sua história contada por alguém em posição de sujeito. Então, como Kiarostami dá a Sabzian a oportunidade de este ser um sujeito de si e não apenas um outro do diretor? Para esta análise usaremos determinadas cenas de “Close-up” em contraposição aos conceitos de escritas de si, outros e sujeitos das pesquisadoras decoloniais Grada Kilomba, Bell Hooks e Toni Morrison. Sabzian era um homem desafortunado e na casa de seus trinta e poucos anos, sem emprego e abandonado pela esposa por causa da condição precária que viviam. Fingir ser Makhmalbaf foi uma maneira de Sabzian tornar-se um sujeito e sair da condição de outro. Kilomba (2019) afirma que ter sua história e identidade descritas por si própria, tira a oportunidade de esta ser contada por outro alguém. Este posicionamento a resguarda de uma objetificação de si pelo o outro. Desde o início Sabzian não queria ser Makhmalbaf, mas sim ele próprio. Queria a oportunidade de criar uma nova realidade para si, porém dada a impossibilidade de tal realização pelos meios tradicionais, este viu no cinema uma abertura para essa transformação de sua imagem. É válido pontuar que mesmo ao fingir ser um outro com o intuito de sair do marasmo em que se encontra, este possui um respeito e dignidade sobre si. Já que ao confessar sua vontade de interpretar a si próprio, este não se odeia a tal ponto de aniquilar seu eu, mas sim há o desejo de reverter sua condição. Entretanto, tal forma é precária, Sabzian por si só não é capaz de realizar tal feito sendo necessário a ajuda do cineasta Abbas Kiarostami, que realiza um filme completo dedicado ao caso. Ainda que tal reconstituição envolva todas as pessoas do ocorrido, a única em destaque é Sabzian. As outras pessoas são representadas como se fossem um pano de fundo dele, como um suporte para que o protagonista brilhe. Tal feito só é possível graças ao enquadramento de câmera denominado close-up, que é usado para capturar a expressão facial dos atores e, com isso, apagando o que há por trás, fazendo uma maior aproximação de quem olha para quem é olhado. Então, a partir da imagem cinematográfica, Kiarostami consegue fazer com que Sabzian transforme sua representação. Sendo os filmes uma forma de propagação e difusão das verdades que constroem uma sociedade. A exibição desse filme levaria a imagem de Sabzian a outros e assim iniciando um processo de reconstrução da representação sociocultural de pessoas como Sabzian às massas.

Bibliografia

    CLOSE-up. Direção de Abbas Kiarostami. Produção de Ali Reza Zarin. Irã: Kanun, 1990. 1 DVD (98 min.)
    DABASHI, Hamid. Close Up: Iranian cinema, past, present and future. London-New York: Verso, 2001.
    DOANE, Mary Ann. “The close-up: Scale and detail in the cinema”. Differences: A journal of feminist cultural studies, vol. 14, nº 3, 2003, 89-111.
    ISHAGHPOUR, Youssef. O real, cara e coroa. In: Abbas Kiarostami. MACHADO, Alvaro (Org). São Paulo: Cosac Naify, 2004.
    KIAROSTAMI, Abbas. Abbas Kiarostami. Trad. Álvaro Machado. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
    KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: Episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
    MORRISON, Toni. A origem dos outros: Seis ensaios sobre racismo e literatura. Trad. Fernanda Abreu; prefácio Ta-Nehisi Coates. São Paulo: Companhia das letras, 2019.
    TAPPER, Richard. Introduction. In: The new iranian cinema – Politics, Representation and Identity. TAPPER, Richard (Org.). London-New York: I. B. Tauris & Co Ltd, 2002.