Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Ricardo Jose de Barros Cavalcanti (ESPM Rio)

Minicurrículo

    Ricardo (Rico) Cavalcanti estudou cinema e jornalismo na UFF. Tornou-se professor de cinema na Escola EDEM em 1982 e de lá para cá nunca mais esteve fora de uma sala de aula, tendo passado pela educação infantil, fundamental, médio e universitário. Teve experiências com oficinas com comunidades ribeirinhas no Pará, com o hospital dia Casa Verde e muitas outras. É também produtor tendo realizado diversos trabalhos junto a Plural Filmes, da qual foi sócio diretor. É vice presidente do FORCINE.

Ficha do Trabalho

Título

    Metalinguagem: proposta para uma abordagem na educação audiovisual.

Resumo

    Essa pesquisa se interessa por filmes, em especial brasileiros, que trabalham com metalinguagem e a utilização destes para uma pedagogia do audiovisual. Este trabalho pretende relatar a experiência do uso dos filmes Saneamento Básico, 2002, e O Sanduíche, 2000, de Jorge Furtado e propor uma trilha para utilização destes como ferramenta de ensino-aprendizagem aplicada à iniciação nos conceitos básicos nos campos da linguagem e da produção audiovisual.

Resumo expandido

    Desde seus primórdios, o cinema se interessa por si próprio e se tem como tema. As possibilidades do uso da metalinguagem são inúmeras e passam desde o uso das referências a outras peças cinematográficas até o uso do processo de criação e produção audiovisual como componente de construção de suas narrativas. Ao se citar, se expor, e até revelar o aparato, o cinema também se constitui como uma peça diferenciada no seu próprio estudo, numa pedagogia de si mesmo.
    Uma das dificuldades para o iniciante no estudo do cinema é a própria identificação que ele propícia e estabelece com o seu voyeur. Não é uma tarefa simples para o interessado conseguir escapar desse vínculo e se deslocar desse lugar do espectador a fim de examinar, com algum distanciamento, aquilo que vê. Até porque, antes de tudo, para se sair de um lugar é necessário se colocar nele. Então não basta ao estudante não estar nesse lugar, é preciso que ele se coloque nele ou a experiência de sair não terá logro. Some-se a isso, na dificuldade de percepção e estudo dessa linguagem, ela carregar nos seus códigos e para sua eficácia a ordinária intenção, explicita e implícita, do seu próprio apagamento.
    Embora a metalinguagem muitas vezes vá ser utilizada como mais um elemento de identificação e sedução do espectador, no caso dos dois filmes o que se propõe é um roteiro, um guia de utilização, de maneira que os estudantes possam não só perceber e identificar as diversas camadas em que se constroem esses discursos, como também apreender questões que dizem respeito às suas realizações.
    Saneamento Básico, longa-metragem de ficção de Jorge Furtado lançado em 2002, conta a história de um grupo de personagens de uma pequena cidade do interior gaúcho que, para conseguir verba para uma obra de saneamento, se lançam, sem nenhuma experiência prévia, na aventura de realizar um curta-metragem, obrigatoriamente de ficção. Todas as etapas de realização de um filme: criação do argumento, escritura do roteiro, planejamento e levantamento da produção, edição e lançamento da peça, estão, didaticamente, colocados e exibidos na narrativa.
    O Sanduíche, curta-metragem do mesmo diretor lançado em 2000, foi filmado em uma única locação e o projeto do filme incluía a sua própria realização como um espetáculo a ser assistido por uma plateia, durante sua filmagem. Esse espetáculo só é revelado ao espectador do filme na sua última cena, mas a narrativa, construída em camadas como uma cebola, vai desde o início revelando em etapas, essas camadas, e o próprio aparato. O filme, que traz num sanduíche, apresentado em duas das suas camadas narrativa, ora como iguaria ora como o inverso disso, a metáfora do cinema é uma aula sobre os falseamentos que o constroem.
    Ambos os filmes funcionam como uma poderosa tecnologia educacional na pedagogia do audiovisual. O propósito da apresentação é trazer o estudo do uso específico dessas duas peças, além de sugerir uma trilha, ou melhor, roteiro para o seu uso, propor um debate sobre a adequação e potência desse formato a essa finalidade.

Bibliografia

    ANDRADE, Ana Lúcia. O Filme dentro do filme. Belo Horizonte, Ed. UFMG, 1999
    AUMONT, J. & MARIE, Michel. Dicionário teórico crítico de cinema. 5˚ edição, Campinas, SP: Papirus, 2012.
    BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 2012.
    BERGALA, Alain. A Hipótese-Cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink; CINEAD-LISE-FE/UFRJ, 2008.
    DUARTE, Rosália. Cinema e Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
    FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996
    FRESQUET, Adriana. Cinema e Educação: reflexões e experiências com professores e estudantes da educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
    METZ, C. A significação no cinema. São Paulo: Perspectiva, 2006.
    RANCIÈRE, Jacques. O Espectador Emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2012.